Córrego Itaim transborda e alaga ruas da Vila Alabama, na zona leste
Moradores tiveram as casas invadidas pela água durante temporal que atinge a cidade de São Paulo desde domingo (9). Sirene tocou e não há vítimas
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
Os moradores da Vila Alabama, na região do Itaim Paulista, no extremo leste de São Paulo, sofrem nesta segunda-feira (10) com o transbordamento do córrego Itaim. A água subiu e invadiu as casas provocando estragos e desespero à população.
Uma das vias que estão intransitáveis é a rua Moisés José Pereira, que é paralela à avenida Tarciso Mendes Lima. A sirene instalada pelos moradores no alto de uma casa, que beira o córrego, soou para alertar sobre os riscos do temporal. Apesar da correria, ninguém ficou ferido.
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"A gente avisou o pessoal, conseguiu tirar os automóveis, as coisas, mas o negócio foi feio. Na Vila Itaim, tem 2 metros de água. Um transtorno tremendo", afirmou Francisco Jerry Alves da Silva, fundador da Associação dos Moradores da Vila Alabama. E completou: “salvamos vida com essa sirene. Colocamos por iniciativa própria o equipamento após a maior enchente da região, em 2016, para alertar os moradores”.
O 1º toque da sirene é para avisar que, por enquanto, está tudo normal (sinal verde). O segundo já é o amarelo, para ter atenção e retirar os carros das ruas, levantar móveis e pegar documentos. Agora o terceiro é o vermelho, significa que o córrego já transbordou e a prioridade é salvar vidas: tirar os moradores enfermos, crianças e idosos da área de risco.
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Cícera Vieira Bezerra Amaral, de 73 anos, mora na rua Moisés José Pereira e tem depressão por causa dos temporais. Ela jamais vai esquecer da enchente de 2016. “A água chegou de repente e subiu muito, eu fiquei pendurada no vidro da janela do banheiro, e não conseguia encostar o pé no chão. Meu marido estava debilitado e ficou apenas com a cabeça pra fora da janela do quarto”, revelou a moradora que vive há 30 anos no bairro.
Os traumas permanecem porque a família só foi resgatada com o auxílio de vizinhos, que usaram uma escada para removê-los da casa. “Todo mundo veio acudir a gente, eu ouvia gritar: a família da Dona Ciça tá morrendo”, lembrou.
A casa de dona Cícera fica abaixo do nível das demais residências da rua. Quando o temporal é forte, o esgoto não dá conta e a casa enche.
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Apesar de limpo, o imóvel cheira a mofo, todas as portas têm comporta e as paredes azuis do quarto do filho caçula ainda têm as marcas da última enchente. Ela diz que não tem mais prazer em comprar nada novo para a casa: “só me dá tristeza, não tenho alegria em comprar nada. Há 30 anos é a mesma história. Eu recebo coisas dos outros, como o guarda-roupa (sem portas e danificado), meus filhos compram algumas outras. Tenho vontade de chorar e entrei em depressão”, disse a moradora.
Térreo desativado
Uma das moradoras que está sempre de prontidão em caso de enchentes é a Sônia Silva de Lima, de 60 anos. Ela mora em um sobrado há 22 anos. A casa é bonita, foi recentemente reformada, mas o que chama a atenção é o andar térreo, que está completamente vazio. “Antes eu ficava embaixo, só tinha quarto em cima. Mas, na chuva, a água me encobriu e decidi transferir tudo para cima, fiz até uma cozinha. Faz 4 anos que desativei a parte de baixo. Se não, nem morava mais aqui”, revelou a antiga moradora.
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Já pensando nas enchentes, ela escolheu forrar as paredes de azulejo para facilitar a limpeza. Alguns objetos, como máquina de lavar, já ficavam suspensos. Sônia conta: “não comprei mais nada, doei o que pude para quem perdeu tudo. Às vezes nem fecho a comporta porque não adianta nada. Fiz uns degraus altos [de azulejos], mas só piorou. A água sobe ainda mais”.
Não é à toa que nas ruas do entorno do córrego Itaim há diversas casas com a placa "vende-se". Mesmo com comportas e ações preventivas, o problema das enchentes é recorrente no bairro.
Traumas
A sede da Associação de Moradores da Vila Alabama é na casa de Dirce Silva Soares, que é aposentada e tem 62 anos. Ela afirma que, quando chove, fica sem reação: “já me dá logo dor de barriga, fico muito nervosa, começo a orar a Deus, fico quieta chorando sentada. Meu marido que corre para fazer tudo”.
A antiga moradora do bairro disse que a água chegou a subir 1 metro e 80 centímetros. “A força da água derrubou portão, não adiantou comporta. A gente foi padrinho de casamento e não estava em casa. Quando cheguei, a TV tinha caído da parede e a geladeira estava passeando pela casa. Horrível”, destacou Dirce.
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Não só os humanos carregam marcas das tragédias, mas também os animais. A poodle Judite é um dos 4 cachorros de Dirce. Com 9 anos de vida, a dona conta que basta começar o temporal que o animal treme sem parar de medo.
Esperança
Os moradores da Vila Alabama acreditam que as enchentes pioraram depois que o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) fez uma obra no córrego Itaim, que acabou por reduzir o espaço de vazão da água. Segundo Francisco Alves da Silva, da Associação de Moradores, um muro de contenção avançou mais de 1 metro dentro do rio, que já estava assoreado, encurtando a galeria. Resultado: quando chove, a água transborda com mais facilidade.
O córrego Itaim é extenso, nasce no Itaim Paulista, na zona leste, passa por Ferraz de Vasconcelos e a foz é em Poá, na Grande São Paulo. Há agora a expectativa de que uma obra seja realizada no córrego pela subprefeitura de Itaim Paulista. De acordo com os moradores, os trabalhos, que incluem um muro de contenção, devem ter início em março.
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Mas, em nota, a Subprefeitura Itaim Paulista informou que, na elaboração do orçamento 2020, foi encaminhada proposta para a realização de obra para contenção de enchentes no córrego Itaim. Liberado o recurso, a primeira fase será a elaboração de projeto, em seguida o processo licitatório, mas não há previsão para início das obras. Veja fotos da região e dos reflexos dos alagamentos:
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