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Em São Paulo, PM mata um negro por dia e protestos são frequentes

De acordo com dados oficiais do governo paulista, a cada 16 horas um negro foi morto pela Polícia Militar de São Paulo no primeiro trimestre

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Em SP, manifestantes protestos contra a morte de negros causadas por policiais
Em SP, manifestantes protestos contra a morte de negros causadas por policiais

No primeiro trimestre deste ano, a Polícia Militar do Estado de São Paulo, durante as atuações nas ruas, matou 218 pessoas em supostos confrontos. Dessas, 203 tem a informação da cor da pele nos boletins de ocorrências disponibilizados pelo governo estadual. E os dados apontam que 129 vítimas (63,5%) são pretos ou pardos.

O número representa um negro morto por policial militar em serviço em São Paulo a cada 16 horas. Os casos são registrados como “morte decorrente de intervenção policial”, o antigo “auto de resistência”.

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As informações foram analisadas pelo R7 com base nos dados disponibilizados no Portal da Transparência da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo). O site disponibiliza, no dia 25 de cada mês, as informações básicas (sem o histórico) dos boletins de ocorrência das mortes cometidas pela polícia no mês anterior.


No entanto, desde o dia 25 de maio, quando deveria disponibilizar os boletins referentes aos casos de abril (primeiro mês inteiro de quarentena), o portal está em manutenção.

Os números totais de mortos pela PM no Estado (sem o detalhamento das vítimas) foram disponibilizados no Diário Oficial do último sábado (30), e apontam recorde na série histórica para o mês de abril. Pela primeira vez desde maio de 2006, a Polícia Militar matou mais de 100 pessoas no mesmo mês.


Conforme os dados oficiais, em abril deste ano 102 pessoas foram mortas por policiais militares em serviço e outras 14 morreram após supostamente resistir a um PM de folga. Nos quatro primeiros meses do ano, houve registro de 371 pessoas mortas por PMs em São Paulo.

Para a ativista negra Tati Nefertari, da Organização Ujima Povo Preto, o número de pretos e pardos mortos pelas forças policiais “mostra o que chamamos de genocídio do povo preto, muitas vezes com um recorte de genocídio de jovens negros, por serem a maioria dos casos”.


Assim como nos Estados Unidos, que há uma semana registra protestos nas ruas contra a violência policial sofrida pela população preta do país, em São Paulo acontecem diversas manifestações após mortes cometidas pelas forças policiais contra negros, sobretudo, nas periferias das grandes cidades.

Nefertari lembra também da fundação do MNU (Movimento Negro Unficado), nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo, em 1978, para enfrentar a violência sofrida pela população preta e lutar pela valorização do negro e negra, além de chamar a atenção para a contribuição do povo negro na construção do país.

“Desde lá, pessoas pretas têm denunciado essas mortes e indo para as ruas. Os protestos que vemos hoje nos EUA pelo assassinato de George Floyd, a gente também articula e vê aqui no Brasil. Se em 1978, em meio a ditadura militar, o movimento negro colocou cerca de 2.000 pessoas nas ruas, agora em 2020 essa luta continua a mesma”, afirma a ativista.

E esses movimentos são notados nas ruas paulistas. Em fevereiro deste ano, por exemplo, moradores de Guarulhos (Grande São Paulo) interditaram a rodovia Fernão Dias, ateando fogo em pneus e outros objetos, protestando contra a morte do jovem negro Leandro da Silva, 25 anos, que trabalhava como motoboy e foi morto a tiros em uma ação policial na zona norte da capital.

Em março, moradores da favela de Paraisópolis (zona sul da capital) e familiares dos nove jovens que morreram no Baile da Dz7, em dezembro do ano passado, também ocuparam as ruas para marcar os 100 dias do massacre e pedir respostas para o governo. 

No mês seguinte, em abril, a Marginal Pinheiros teve parte interditada por moradores de comunidade na região do Jaguaré (zona oeste), um dia após o jovem negro David Nascimento dos Santos, 23 anos, ter sido abordado pela PM e encontrado, horas depois, morto em uma comunidade próxima.

Nos dias 21 e 22 de maio, também foram registradas manifestações em vias da região de Sapopemba, no extremo leste de São Paulo, após dois jovens serem mortos em uma favela na região. Segundo os moradores, policiais são os responsáveis pelos dois homicídios. Os casos são investigados.

Apesar dos constantes protestos, Nefertari acredita que a população preta ainda enfrenta a dificuldade de ter as vítimas das forças policiais sendo frequentemente apontadas como criminosas. "E nada disso impede que os atos contra essas mortes no Brasil sejam feitos e que esses assassinatos sejam denunciados", diz.

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Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, as polícias de São Paulo "atuam para combater a criminalidade e proteger a população, prendendo e levando à Justiça àqueles que estão em desacordo com a lei".

A pasta diz que os policiais têm compromisso com a vida, "razão pela qual medidas para a redução de mortes são permanentemente estudadas e implementadas". 

No Estado de São Paulo, o governo determina que todas as ocorrências de mortes decorrentes de intervenção policial sejam investigadas pela Polícia Civil e por meio de inquérito da Polícia Militar, acompanhado pela corregedoria. Além disso, é feito a comunicação ao Ministério Público.

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