Família de jovem morto na Favela do Moinho faz denúncia na Corregedoria da PM
Após suspeita de tortura antes de morte, policiais da Rota foram afastados das ruas
São Paulo|Gustavo Basso, do R7*

A família de Leandro de Souza Santos, 19 anos, morto após ser baleado por policiais da Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar, grupo de elite da Polícia Militar paulista), na última terça-feira (27), na Favela do Moinho, centro de São Paulo, foi à Corregedoria da Polícia nesta sexta-feira (30).
A mãe de Leandro, Maria Odete de Souza, a irmã mais velha do jovem, Letícia de Souza, o irmão Lucas de Souza e a dona da casa onde Leandro foi morto, Lucimar Oliveira, foram ouvidos. Os quatro chegaram à instituição ainda na manhã desta sexta-feira e passaram o dia inteiro conversando com a equipe da corregedoria. Eles deixaram o prédio, na região da Luz, no centro de São Paulo, somente após as 20h. Ao todo, eles ficaram cerca de 10 horas no local e saíram, abalados, sem falar com a imprensa.
De acordo com o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da comissão de infância e juventude do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo), que acompanhou a ida dos denunciantes, também foram entregues vídeos e fotos da atuação da PM na ação ocorrida na favela. Segundo Alves, os depoimentos reforçam informações já reveladas pela reportagem sobre as marcas de agressão no rosto e nos joelhos do jovem, assim como os dentes quebrados e sobre o martelo encontrado no local — que teria sido usado para agredir Leandro. O advogado afirma que a dona da casa relatou que o jovem foi agredido antes de morrer.
— A proprietária viu o martelo ensanguentado.
No entanto, o membro do Condepe ressalta que "como o som estava alto, ela não pode afirmar se houve tortura". As testemunhas ainda relataram que os PMs portavam "uma sacola plástica, onde possivelmente carregaram a arma", e levaram para dentro da casa onde Leandro estava baleado. As armas seriam para simular resistência, como os PMs relataram. As testemunhas, no entanto, não chegaram a ver o armamento e afirmam que Leandro não tinha arma.
Alves destacou também que os policiais não respeitaram a Resolução da SSP 382/99, que trata da preservação do local do crime. O advogado afirma que "o jovem pode ter morrido no local, na casa, segundo os relatos de testemunhas ontem na Corregedoria, mas o corpo foi retirado pra um suposto socorro à vítima".
O membro do Condepe completa dizendo que "logo após a saída dos policiais com o corpo numa maca, que foi colocado dentro de uma manta térmica, não houve preservação do local do crime e objetos possivelmente relacionados ao crime ficaram alegados no local, tanto que cápsulas de disparos de arma de fogo e um martelo ensanguentado ficaram lá expostos".
— É preciso investigar se o local da morte do jovem não foi modificado, porque segundo uma norma é a perícia que deve avaliar o local com o corpo ainda lá e, segundo as testemunhas, Leandro foi retirado já sem vida da casa da Lucimar.
Segundo a Santa Casa, para onde Leandro foi encaminhado, o horário da morte foi 11h14. Segundo a dona da casa, o corpo foi retirado da favela por volta das 11h30 da manhã.
Além disso, os dois policiais apontados como responsáveis pelos disparos que mataram Leandro foram afastados das ruas. A informação foi confirmada ao R7 pelo tenente Marco Aurelio Genghini, da Corregedoria da Polícia Militar. O cabo José Carlos Paulino da Costa e 1º sargento Pierre Alexandre de Andrade estão em cargos administrativos. A medida ocorre após a Ouvidoria da Polícia Militar enviar um ofício ao Ministério Público pedindo a investigação dos policiais da Rota sob suspeita de terem torturado Leandro antes de sua morte.
Entenda o caso
Leandro de Souza Santos foi morto na terça-feira durante uma operação policial da Rota na favela do Moinho. Segundo relatos de moradores que testemunharam a ação, o jovem, sob efeito de drogas, teria se assustado com a abordagem dos policiais e fugido para a casa de uma vizinha.
Ainda de acordo com as testemunhas, muitos policiais entraram na casa, impedindo a dona de entrar e mantendo Leandro lá dentro de 30 a 40 minutos.
Segundo a dona da casa, Lucimar Oliveira, os policiais retiraram o jovem de sua casa por volta das 11h30. No entanto, de acordo com o relatório da Santa Casa, para onde o jovem foi levado, o horário da morte foi 11h14, portanto antes mesmo de ele ser levado do local.
Informações do boletim de ocorrência indicam que Leandro teria apontado uma arma para dois policiais que o perseguiam e disparado contra eles. Em resposta, José Carlos Paulino da Costa e Pierre Alexandre de Andrade dispararam quatro tiros cada um no rapaz.
A reportagem do R7 teve oportunidade de ver o corpo de Leandro de Souza do necrotério da Santa casa e observeu três marcas de tiros, dentes quebrados e um hematoma no rosto. Os moradores vizinhos acusam a polícia de haver usado martelo, que foi encontrado na cozinha da casa, para torturar o jovem.
Em nota, a Polícia Militar informa "que todos os fatos que ocorreram na operação realizada pela Rota na Comunidade do Moinho estão sendo investigados em Inquérito Policial Militar, instaurado pela Corregedoria da PM". Em outra nota, a PM informa que nesta sexta-feira foram ouvidas novas testemunhas da operação na Comunidade do Moinho para a Corregedoria PM, que assumiu o inquérito policial-militar instaurado inicialmente pelo Comando de Policiamento de Choque. O DHPP também investiga o caso por meio de inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de Leandro de Sousa Santos.
*Colaborou Kaique Dalapola, estagiário do R7