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Mãe de Mércia Nakashima quer ficar “bem de frente” com acusado de matar sua filha

Mizael Bispo se sentará no banco dos réus a partir desta segunda-feira, em Guarulhos

São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7

Março não será um mês qualquer para a família de Mércia Nakashima, assassinada em 2010. Na segunda-feira (11), após quase três anos do desaparecimento da jovem advogada, Mizael Bispo, o ex-namorado da vítima e um dos acusados do crime se sentará no banco dos réus no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo.

A proximidade com o início do julgamento tem potencializado ansiedade, revirado lembranças e sentimentos, como conta a irmã de Mércia, Claudia Nakashima. Em entrevista ao R7, ela relata, emocionada, que o clima de tristeza e estresse tomou conta dos parentes e tem afetado a saúde de todos os envolvidos.

— Minha gastrite se manifestou. Estou tão nervosa com esse julgamento... Minha mãe está com pressão alta. É muito complicado. Mexe com a família inteira. É uma coisa [a perda] que vai se levar para o resto da vida.

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Janete Nakashima, mãe da advogada, afirma que quer novamente olhar o acusado “bem de frente” e que vai tentar se “controlar ao máximo” na hora. Ela diz acreditar na condenação de Mizael.

— Eu quero que seja justo. Ele matou. Não tem outra pessoa. As provas são muitas. O que nós queremos é que seja um júri justo, uma condenação justa, a qual não tem neste País. Eu acredito que ele será condenado, mas a condenação dele vai ser justa de acordo com as palhaçadas que nós temos nesse País, que não é sério.


Em tom semelhante, Claudia critica a legislação brasileira.

— Mesmo com o julgamento, eu não creio em uma condenação séria. A legislação é falha. Bandidos têm muitos direitos e a gente não tem nada, a não ser a dor e a revolta de ficar nessa situação.

“Regalias”

A irmã de Mércia também não economiza críticas ao tratamento dado a Mizael, que, na avaliação dela, tem recebido “regalias” desde que foi preso. Como é policial militar reformado, o acusado não foi para o sistema prisional convencional. Está no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo, destinado exclusivamente a PMs que cometeram crimes.

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O réu, que ficou foragido por mais de um ano e se entregou no final de fevereiro de 2012, também é inscrito na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e, por esta razão, poderia permanecer preso, antes de uma sentença definitiva, em sala de Estado-Maior. Foi cogitada a possibilidade de Mizael ocupar um cômodo no Regimento de Cavalaria 9 de Julho, mas, na época, a defesa dele abriu mão do direito, alegando que o local “não teria condições de um ser humano ficar”.

Mas, para Claudia Nakashima, o tempo de prisão de Mizael tem sido como “férias à custa do Estado”.

— Eu espero que ele fique preso, apesar de ter todas as regalias que ele não tem nem na casa dele. Tudo bem que está privado da liberdade, mas, para mim, ele está passando umas férias à custa do Estado.

A irmã de Mércia avalia ainda que, independentemente da condenação, quem irá cumprir pena maior é a própria família.

— Eu quero acreditar que ainda vai ter um pouquinho de justiça e que, pelo menos, ele vá ficar lá pensando, apesar de todas as regalias, mas fica difícil acreditar. Ele vai cumprir uns aninhos só, numa boa, e, daqui a pouco, ele sai na rua, como se nada tivesse acontecido. A penalidade quem vai sofrer é a família. Para o resto da vida.

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Lágrimas e saudade

Reviver a dor da perda traz à tona também a saudade e, junto com ela, as memórias dos bons momentos. Por um instante, o choro de Janete dá lugar a um riso discreto. Ela retorna no tempo e se empolga ao falar de características da filha.

— Mércia era uma menina alegre. Não era de muita conversa. Dentro de casa, falava bastante. Falava macio, falava baixo, era uma pessoa delicada. Quando explodia, explodia, mas demorava. Ela não era de levar desaforo para casa.

A mãe conta, com indisfarçável orgulho, sobre o quanto Mércia era vaidosa.

— Ela não gostava que eu estivesse com cabelo mal arrumado, unha mal arrumada. As unhas todas tinham que ficar impecáveis. Ela era muito vaidosa. Com qualquer roupa que estivesse, ela poderia ir a qualquer lugar, porque estava muito bem arrumada.

De volta a 2013, Janete reencontra o vazio escancarado pela realidade.

— Eu sinto muita falta. Sinto falta do carinho. Sinto falta até das broncas dela. Eu não meço muito as palavras. Então, às vezes, ela falava: “Mãe, você tem que pensar. Não pode falar assim, mãe”. Sinto falta da convivência com ela. Era uma pessoa que estava sempre presente, com os irmãos, com a família.

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