MP denuncia à Justiça acusado de atropelar e matar ciclista em SP
Promotoria destacou fato de José Maria da Costa Junior estar em alta velocidade e embriagado ao atingir Marina Harkot, além de ter fugido do local
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
O Ministério Público de São Paulo apresentou à Justiça denúncia contra José Maria da Costa Júnior, de 33 anos, acusado de atropelar e matar a ciclista Marina Kohler Harkot, de 28 anos, no bairro de Sumaré, zona oeste de São Paulo.
No documento, assinado pelo promotor Rogério Leão Zagallo, é destacado o fato de o condutor ter fugido do local e estar "com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool."
O atropelamento foi no dia 8 de novembro, por volta de 0h10, na altura do número 1.000 da avenida Paulo VI. Segundo a denúncia, o acusado agiu "com dolo eventual e matou Marina ao atropelá-la, quando estava na condução do veículo Hyundai, modelo Tucson, placas EDL-7380".
José Maria dirigia o carro na companhia de Guilherme Dias Mota e Isabela Maria Serafim, com quem se encontrou em um bar da Vila Madalena. De acordo com a denúncia, o motorista, "a despeito de seu estado de embriaguez, passou a transitar pela avenida Paulo VI, oportunidade em que nele empreendeu uma elevada e irrazoável velocidade".
O denunciado foi flagrado por radares instalados na via na velocidade de 93 km/h, sendo que o máximo permitido é 50 km/h.
Leia também: Polícia de SP pede prisão preventiva de suspeito de atropelar ciclista
O promotor ressaltou ainda que, após ser atingida, Marina caiu viva ao chão, mas, ainda assim, o trio abandonou a jovem seriamente ferida. A vítima recebeu os primeiros atendimentos no local, por uma policial militar e dois médicos, mas não resistiu aos ferimentos.
Após o crime, o carro foi escondido em um estacionamento, fato que foi testemunhado por outras duas pessoas que confirmaram que o acusado apresentava sinais de embriaguez e que Isabela retirou do veículo uma garrafa de vinho.
Veja mais: Suspeito de atropelar e matar Marina Harkot se entrega à polícia
Mais tarde, câmeras mostram José Maria e Isabela sorrindo no elevador. "Demonstrando descontração e, até mesmo alegria, sentimento que contrasta com a realidade de terem eles se envolvido, pouquíssimo tempo antes, em um atropelamento de um ser humano e que demonstra que eles não tiveram qualquer impacto por tal fato, daí evidenciado um total desprezo pela vida", escreveu o promotor.
À juíza, a promotoria solicitou ainda que José Maria seja proibido de acessar bares e estabelecimentos, não mantenha contato com qualquer pessoa envolvida no caso, não possa deixar a cidade sem autorização e a apreensão da CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
Leia ainda: Motorista que matou cicloativista em SP responderá por embriaguez
Outros investigados
Rogério Leão Zagallo lembra ainda que os investigados Guilherme Dias Mota e Isabela Maria Serafim praticaram crime cuja pena é de 1 a 6 meses de detenção: "devendo ser triplicada, uma vez que, podendo, deixaram de prestar assistência à vítima, ao terem se omitido e desrespeitado o dever de acionar socorro".
Leia mais: Mulher que acompanhava motorista que matou cicloativista é indiciada
O promotor sugere que os dois sejam intimados e propõe o cumprimento antecipado de uma pena alternativa, que consiste na doação de cinco salários mínimos ao GRAAC.
O caso
O motorista José Maria da Costa Júnior se apresentou no 14º Distrito Policial de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, acompanhado do advogado. Para a polícia, o homem alegou que abandonou o local e não prestou socorro por ter ficado apavorado com a situação. Apesar do pedido de prisão feito pela polícia, João foi liberado.
Cicloativista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo), Marina foi atingida enquanto trafegava de bicicleta pela avenida Paulo VI, na zona oeste. O Samu chegou a ser acionado por outras pessoas, mas a jovem morreu no local.
O acusado passou mais de 48 horas foragido até se entregar na delegacia na companhia de advogados.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou na ocasião que o motorista não iria ficar detido, uma vez que a legislação eleitoral só permite prisões em flagrante de eleitores a partir de cinco dias antes do pleito, que ocorreria no domingo (15).
A avenida em que Marina foi atropelada tem quatro faixas e a socióloga estaria pedalando na última, perto do parapeito, de acordo com a investigação. Na via, a velocidade máxima permitida é de 50 km/h.
Ainda no dia do crime, os policiais conseguiram entrar em contato com o proprietário do carro, um Hyundai Tucson, mas a pessoa alegou na ocasião que vendeu o automóvel em 2017.
Descrita como uma pesquisadora brilhante e sorridente, Marina concluiu a graduação e o mestrado na USP, onde também era pesquisadora colaboradora, pelo LabCidade, e cursava o doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Na academia, se tornou referência por reunir dados sobre gênero e mobilidade por bicicleta.
Diversas instituições lamentaram a morte da jovem. A mãe da vítima, Maria Claudia Kohler, falou a ativistas: "Ela estava construindo uma casa, com um marido, um amor, uma vida futura, estudando, fazendo doutorado, viajada. Daí acontece essas coisas que a gente fica demolida."