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Paulistas dizem estar confiantes para as festas; especialistas alertam

Com alta adesão da vacinação e flexibilização das regras, comemorações devem reunir famílias e amigos em todo o estado

São Paulo|Isabelle Amaral,* do R7

Após vacinação, moradores de São Paulo sentem-se mais seguros para comemorar fim de ano
Após vacinação, moradores de São Paulo sentem-se mais seguros para comemorar fim de ano Após vacinação, moradores de São Paulo sentem-se mais seguros para comemorar fim de ano

“Com certeza eu vou comemorar esse fim de ano mais tranquila do que no ano passado, mas consciente de que ainda não acabou”, afirma a vendedora Rafaela Cristine, de 23 anos, que reside na pequena cidade de Martinópolis, no interior de São Paulo, após anúncios do governo do estado sobre a flexibilização das regras contra a Covid-19. 

A gestão João Doria (PSDB) vem anunciando, aos poucos, a volta gradativa de diversas atividades que podem causar aglomeração. Agora, além dos comércios e escolas, os estádios e shows também estão liberados com 100% da ocupação. O litoral paulista terá Réveillon sem barreiras e com praias liberadas, e até o carnaval de 2022 já está sendo planejado.

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Assim como Rafaela, muitos paulistas comemoram a sensação de liberdade, principalmente para celebrar este fim de ano. No entanto, outros ainda temem que esses encontros possam causar uma nova onda de Covid-19. É o caso de Cinthya Marques, de 46 anos, mãe de uma criança de 11 anos e de uma jovem de 20, residentes em Santo André.

“Os números ficaram mais baixos por causa da vacinação, mas a doença não acabou. Então, se liberarem tudo, meu receio é que, por mais que não sobrecarregue mais os hospitais, ainda haja sequelas de tudo isso”, afirma Cynthia. Ela diz ter medo de os filhos acharem que "tudo voltou ao normal". 

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Em entrevista ao R7, o médico infectologista, Max Igor, responsável pelo laboratório de reinfecção do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), diz que a retomada precisa acontecer, mas que é necessário um acompanhamento do governo do estado. “Têm que ser monitorados muito de perto os dados e o número de novas infecções. Isso porque todos os países que começaram a afrouxar o distanciamento e o uso de máscaras começaram a notar um aumento no número de casos”, afirma.

O especialista afirma ainda que o que está acontecendo em países da Europa, por exemplo, que estão enfrentando uma quarta onda da pandemia, é resultado dessas flexibilizações e da baixa adesão à vacinação. “À medida em que as pessoas se vacinem, os números de complicações da Covid serão cada vez menores, ainda que os casos de infecções aumentem”.

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Segundo o infectologista, a principal mensagem é que ainda não está garantida a segurança para todos. No entanto, para ele, a única forma de saber o que esperar da doença é “ir abrindo progressivamente e ver o impacto dessas medidas”.

Fim de ano

Com a volta parcial da normalidade, famílias e amigos planejam se reunir para celebrar as festas de fim de ano. É o caso da família da funcionária de cantina Tatiane Silva, de 41 anos, que já até fez o sorteio de amigo secreto para o Natal deste ano. “Passamos por tempos muitos difíceis, perdemos duas pessoas da nossa família para a Covid e a doença, por um tempo, deixou traumas, mas agora queremos celebrar a chegada das vacinas, ainda que não sejam 100% eficazes, são uma esperança”, comenta.

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Tatiane trabalha em cantina
Tatiane trabalha em cantina Tatiane trabalha em cantina

Tatiane conta que a família inteira trabalha em cantina escolar e que nos últimos tempos teve que se reinventar, “mas tudo com muita dificuldade”. Com a volta às aulas, ela acredita em dias melhores. “Eu acredito sim que precisamos manter os cuidados, não concordo com todas as regras de flexibilização porque a doença ainda existe. Mas também acredito na vacina, e esse ano, ainda que tenha que ser um pouco distante e usando álcool em gel a toda hora, eu quero celebrar só pelo fato de termos passado por um dos períodos mais difíceis de nossas vidas”, finaliza.

A funcionária mora no bairro da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, local com o maior número de mortes por Covid-19 entre abril e maio de 2020. Nomesmo perído, Tatiane perdeu seu primo e cunhado para a doença.

Para Claudia Oshiro, professora do departamento de psicologia clínica da USP (Universidade de São Paulo), tanto o trauma quanto a necessidade de querer recuperar perdas são normais, mas exigem cautela. “Durante a pandemia nós estávamos privados da liberdade, então, quando as pessoas começam a notar que tudo está voltando parcialmente ao normal, elas querem aproveitar o que foi perdido”, comenta.

O jovem Adriel Novaes, de 18 anos, que mora em Taipas, também na zona norte, afirma que vai comemorar o fim do ano com as pessoas de sua casa, com quem já tem contato constante. Dessa forma, sente-se seguro para aproveitar e abraçar todos durante as comemorações. “O confinamento dentro de casa me fez ter muita ansiedade, que até hoje me atrapalha um pouco, mesmo com as coisas começando a voltar ao normal”, conta.

A psicóloga Claudia Oshiro destaca que a maioria das pessoas, se já não tinham ansiedade, desenvolveram a doença durante o lockdown. De acordo com ela, o que aconteceu durante este período, como estar sempre olhando as notícias sobre o número de mortes e casos, ver familiares e amigos morrendo e não poder nem se despedir da maneira adequada, home office, aulas online e falta do convívio social contribuíram para que a ansiedade se desenvolvesse.

Ainda segundo a especialista, as pessoas merecem essa pausa, já que passaram por períodos muito difíceis. Ela destaca, no entanto, que é necessário que ainda sigam algumas medidas de proteção “para que não precisemos passar por tudo isso de novo”.

*Estagiária sob supervisão de Ingrid Alfaya

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