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"Quero paz", diz pizzaiolo agredido por PMs na zona norte de São Paulo

Com medo, vítima falou à Record TV que foi obrigada a confirmar versão dos policiais. Após divulgação do vídeo, PMs são investigados por tortura

São Paulo|Do R7, com informações da Record TV

Pizzaiolo ia buscar a namorada quando foi abordado e agredido por policiais
Pizzaiolo ia buscar a namorada quando foi abordado e agredido por policiais

Pela primeira vez, Weslei da Fonseca Guimarães, o pizzaiolo de 27 anos que foi abordado e agredido por policiais militares na região do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, falou sobre a violência sofrida à Record TV. Com medo, ele não mostrou o rosto e pediu "paz". Ele afirmou que não está dormindo direito desde o ocorrido "pensando que vão bater na minha porta".

Um vídeo gravado por uma testemunha mostra as agressões que ocorreram em frente a um escadão. Só depois que as imagens foram divulgadas nas redes sociais, que a natureza do boletim de ocorrência foi alterada. O primeiro registro foi feito como resistência e desacato, mas depois foi alterado para tortura e falso testemunho. 

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Os PMs que aparecem no vídeo foram afastados da função e poderão responder por lesão corporal e abuso de autoridade.


Agressão

Nas imagens gravadas por uma moradora, é possível ver o policial militar agredindo o jovem. A todo momento, ele afirmava aos policiais que é trabalhador e que iria buscar a namorada. "Quando o policial me puxou, eu pensei que ele ia me matar", disse.

A vítima aparece sentada em uma escada na viela cercada pelos policiais. Pelo menos cinco estão no local, sendo que três policiais participam das agressões. Em determinado momento, um dos policiais se aproxima do jovem e acerta a perna esquerda com um cacetete. Em seguida, atira o cacetete no rosto da vítima.


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Na gravação, ainda é possível ouvir o jovem dizer que é trabalhador. Mesmo assim, é jogado no chão e arrastado até o escadão. Um dos moradores registrou o prefixo de uma das cinco viaturas. Ainda no vídeo, dá para ouvir os policiais fazendo ameaças aos moradores: "Vamos entrar aí? Ou tá querendo defender vagabundo também?". 


Weslei foi agredido com golpes de cacetete, tapas e chute no rosto mesmo sem oferecer resistência durante a abordagem, que ocorreu por volta das 2 horas da madrugada do sábado (13), no Jardim Fontalis.

Ainda muito machucado, ele contou os momentos terríveis que passou logo após sair do trabalho: "Eles falaram que eu era vagabundo, isso e aquilo. Me deram chute, paulada com madeira, cacetete, bica na cara, murro na cabeça. To com hematoma no olho direito, na cabeça tem um monte de 'galo', vergão nas costas, barriga e costela."

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A vítima lembrou que, horas depois, os policiais retornaram e o colocaram dentro da viatura: "Eles me pegaram, me colocaram dentro do carro, me levaram para o hospital, me ameaçando. Falou o que eu tinha que falar".

A namorada de Weslei lembra que estava dormindo, esperando por ele, quando um vizinho a chamou e disse que o jovem tinha sido agredido pelos policiais. Ela afirma que um dos PMs disse que Weslei tinha atacado os policiais e, em seguida, fez ameaças, dizendo o que a vítima deveria relatar sobre as agressões sofridas.

De acordo com ela, os policiais queriam que a versão dada na delegacia fosse diferente do que realmente aconteceu para que eles não fossem prejudicados.

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A mulher que gravou o vídeo também foi ameaçada. "Que era pra eu apagar, senão eles iam vir aqui na folga deles e 'meter bala' de moto. Que ia voltar a ter chacina aqui, se 'atrasasse' o sistema deles", revelou.

Chorando, outra mulher disse que também foi agredida pelos policiais: "Os 'polícia' me pegou na rua, me bateu, me machucou. Eu estou toda machucada".

Uma outra testemunha relatou que a casa da mãe dela foi invadida. "Eles entraram no quarto do meu irmão, 'começou' a destruir as coisas. Aí, depois, foram lá onde o meu irmão estava com o menino, com eles de costas. Como o narguilé estava aceso, meu irmão falou que um deles pegou a brasa com a pinça do narguilé e começou a colocar nas costas deles. E falava: não grita, não fala nada".

PMs

Os policiais que aparecem nas imagens são da 1ª Companhia do 43° Batalhão, que atende a área do Jaçanã, na zona norte.

O Centro de Operações da Polícia Militar informou que recebeu um chamado por causa de uma agressão no endereço em que Weslei estava, mas nada teria sido constatado no local. 

De acordo com o advogado da vítima, Maciel de Paula, Weslei estava sob ameaça quando chegou na delegacia: "Você vai concordar com o que nós vamos falar, que se trata de resistência e desacato. Mas depois que o delegado viu as imagens, percebeu que aquela tese não se sustentava. Daí lavrou um novo boletim de tortura e falsa comunicação de crime".

Os policiais militares afirmaram, em depoimento, que durante o atendimento de uma ocorrência de perturbação de sossego público, foram recebidos no endereço com tiros de rojão, pedradas e garrafadas. Um dos policiais teria brigado com Weslei porque, além de ter arremessado pedras contra os PMs, ele teria tentado pegar a arma do militar.

Os policiais ainda contaram que socorreram Weslei, que estava com lesões no rosto, pescoço e braço. Um dos policiais também teria se machucado e foi afastado por sete dias. O boletim de ocorrência informa que, pelo vídeo, foram identificados oito policiais militares. Todos foram afastados por indícios de lesão corporal e abuso de autoridade. 

O advogado de Wesley revelou que vai solicitar o pedido de prisão preventiva dos policiais. "Além de praticar toda a violência abominável que nós não esperamos de uma autoridade policial, eles ameaçaram tanto a vítima como a testemunha. Isto também coloca em risco as investigações criminais", ressaltou Maciel de Paula.

Em nota, a Polícia Militar informou que, assim que tomou conhecimento das imagens, instaurou um inquérito por abuso de autoridade contra os policiais, que foram imediatamente afastados das ruas. A Corregedoria da PM acompanha o caso.

Traumatizado com tudo que aconteceu e ainda com medo, Weslei só quer uma coisa: "Quero paz".

Veja os vídeos:

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