SP tem o mês de abril com mais mortos pela PM no século
Mortes em Guararema, elogiada por Doria, inflam os números. Em abril, 70 pessoas foram vítimas de casos de supostas resistência à abordagem
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Policiais militares em serviço mataram 70 pessoas no mês de abril em casos registrados como “morte decorrente de intervenção policial” — os antigos autos de resistência.
Os dados foram divulgados no Diário Oficial desta sexta-feira (31). A quantidade de vítimas é a maior para o mês no século e tem alta de 23% em relação a abril de 2018.
O número foi inflado com os 11 mortos pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) no dia 4 de abril, em Guararema, após uma tentativa de rouba a banco na região.
A ação letal da Polícia Militar foi elogiada pelo governador João Doria, que condecorou os PMs envolvidos. Na ocasião, o Doria disse que os policiais militares responsáveis pelas mortes "cumpriram sua missão".
Por meio de nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) disse que "defende a investigação rigorosa de todas as ocorrências e tem trabalhado para reduzir os casos de morte em decorrência de intervenção policial".
No acumulado do ano, 249 pessoas foram mortas por policiais militares em serviço. Com exceção de fevereiro, os outros três meses do primeiro ano de gestão João Doria, a PM foi mais letal do que o mesmo mês do ano anterior.
A secretaria afirma que houve ampliação no patrulhamento ostensivo e preventivo desde o início do ano, e disse que “seguirá trabalhando para reduzir ainda mais os indicadores criminais e garantir a segurança da população”.
Por outro lado, os policiais militares de folga estão matando menos. De acordo com as estatísticas da SSP-SP, cinco pessoas morreram por PMs de folga em abril deste ano em casos registrados como intervenção policial.
Nos quatro primeiros meses do ano, houve 33 mortes em casos de resistência com policiais militares de folga. Apenas o mês de março superou o ano anterior que atingiu, entre janeiro e abril de 2018, a marca de 47 mortos.
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Para o ouvidor de Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, o maior problema na questão da letalidade policial é não ter a investigação centralizada na Corregedoria da Polícia Militar.
Segundo o ouvidor, a Corregedoria instaura em média 3% de IPMs [Inquéritos Policiais Militares] e os outros 97% são instaurados e investigados pelos próprios batalhões dos PMs envolvidos.
A SSP-SP afirma que "todas ocorrências são investigadas por meio de IPM pelos batalhões e também pela Polícia Civil, além de serem acompanhadas pela Corregedoria da PM".
“Não tenho uma explicação para o aumento, mas expresso minha preocupação. Há uma curva ascendente da letalidade neste ano e a centralização na Corregedoria da PM, que tem maior expertise, irá diminuir a letalidade a curto e médio prazo”, afirma Mariano.
A secretaria afirma que, como forma de gatantir a eficácia das investigações, editou a resolução "que determina o comparecimento das Corregedorias e dos Comandantes da região, além de equipe específica do IML [Instituto Médico-Legal) e IC [Instituto de Criminalística] nesses casos".