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Uma semana após chuvas, ruas da zona leste ainda têm água e lama

Prefeitura decretou situação de emergência no distrito do Jardim Helena porque alagamentos persistem. Algumas vias estão secas, mas cheiro é forte 

São Paulo|Joyce Ribeiro e Guilherme Padin, do R7

Rua Tite de Lemos, na Vila Seabra, ainda tem água parada e sujeira na via
Rua Tite de Lemos, na Vila Seabra, ainda tem água parada e sujeira na via

Uma semana após as fortes chuvas que castigaram a cidade de São Paulo, ruas da zona leste da capital permanecem com água parada, lama, mau cheiro e muito entulho acumulado. Por decreto, no sábado, a Prefeitura de São Paulo decretou situação de emergência no distrito do Jardim Helena porque a região permanece alagada desde as chuvas de 10 de fevereiro. Com a medida, a administração municipal pode realizar obras e contratar emergencialmente produtos e serviços sem a necessidade de licitações.

O documento publicado no Diário Oficial traz os nomes de 97 vias que ainda são afetadas pelas enchentes. Os bairros mais prejudicados são Jardim Helena, Vila Itaim, Vila Aimoré, Jardim Pantanal e Vila Seabra.

O arquiteto e urbanista Luciano Abbamonte afirmaque as inundações no extremo leste de São Paulo podem ser deliberadas. Para ele, este foi o caso das chuvas da última semana.

“Se a barragem da Penha abre ou fecha, dependendo do volume, inunda na marginal ou no extremo leste. Foi uma escolha deles (governo do estado) onde ia alagar. Há consciência do volume de chuva que vem, e houve negligência”, afirma Abbamonte, que apresentou recentemente uma tese de doutorado sobre o lugar das águas no processo de urbanização de São Paulo.


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O líder comunitário e morador da região Vila Itaim, Euclides Mendes, na Vila Seabra, diz que a situação ainda é complicada. "O córrego Lageado está muito alto, ele deságua no rio Tietê, que está assoreado e não é limpo faz um tempo. Quando eles inauguraram o parque Várzea do Tietê, a promessa era de que o parque Biacica absorveria as águas, mas o que ocorreu foi o inverso. O parque tá seco e as ruas do entorno alagadas. Há muito lixo e o cheiro é insuportável", explica.


Na avaliação de Luciano Abbamonte, que também cita a falta de limpeza de córregos, o problema é agravado por uma soma de fatores, como falta de políticas públicas voltadas à permeabilização do solo, educação ambiental e incentivo a pessoas físicas e empresas investirem em quintais e calçadas permeabilizadas – uma “cota ambiental”, disse.

“Todos querem cimentar o quintal e calçadas hoje em dia. Precisamos de políticas para incentivar a população pela permeabilização do solo. Na marginal do Tietê, há grandes galpões de comércios e serviços. Nos estacionamentos dessas empresas poderia haver uma permeabilização maior”, sugeriu ele, que conclui: “Se você não faz trabalhos como esse, não conscientiza a população, não faz limpeza, gera esse cenário caótico que vimos agora. O Estado falha no monitoramento com essa questão”.


No Jardim Pantanal, a maioria das ruas está seca, apenas com lama. No entanto, entulhos estão por toda parte. "Temos muitos móveis estragados pela chuva na frente das casas e pedimos o cata-bagulho, mas até agora não apareceu. Os moradores se organizaram e um emprestou bomba para o outro e conseguimos tirar a água das casas", diz Arlete Pescarolo, moradora da Cidade de Deus. 

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Arlete também cobra vistoria nas casas por parte das equipes de Assistência Social porque, segundo ela, 40% dos moradores que tiveram danos por causa do temporal não fizeram o cadastro para receber doações porque as tendas são distantes. Muitos também perderam todos os documentos.

Tendas oferecem itens de higiene a moradores e fazem cadastro para doações
Tendas oferecem itens de higiene a moradores e fazem cadastro para doações

Situação de emergência

No decreto, a prefeitura destaca a manifestação da Defesa Civil "de que algumas localidades permanecem ainda alagadas com riscos à população". O documento informa ainda que as Secretarias Municipais da Saúde, de Assistência e Desenvolvimento Social e a Subprefeitura de São Miguel relataram a necessidade de intervenções emergenciais do Poder Público devido aos danos decorrentes da permanência do alagamento por um longo período.

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Desde quinta-feira (13) tendas sociais foram montadas na região de São Miguel Paulista, zona leste, para atendimento da população atingida pelas enchentes. Elas estão em pontos estratégicos como Vila Seabra, Jardim Pantanal, Jardim Novo Horizonte, Chácara Três Meninas e Vila Itaim.

Com funcionamento das 9h às 18h, são 16 profissionais da GCM, Defesa Civil, Assistência Social e Saúde. Nas tendas há itens de higiene pessoal e limpeza, banheiros químicos, água e é possível fazer o cadastro para receber cestas básicas, colchões e cobertores, além de acesso a vacinas.

Outro lado

Em nota, o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo) afirmou que a barragem da Penha não possui impacto em três dos bairros citados pela reportagem (Jardim Helena, Vila Seabra e Vila Itaim), apontando a operação do pôlder construído na Vila Itaim. O órgão também destacou a construção dos parques lineares Helena e Itaim Biacica entre 2018 e 2019, e os R$ 75 milhões de investimento para desassoreamento do rio Tietê.

Já a Prefeitura de São Paulo informou, em nota, que até esta segunda-feira (17), foram realizados 9,7 mil atendimentos na região, entre orientação de arboviroses e doenças, entrega de hipoclorito, consultas médicas e acolhimento, além de vacinação. Seis tendas foram montadas na Vila Seabra, Pantanal, Chácara Três Meninas, Jardim Novo Horizonte, Vila Itaim e Jardim Lapenna. 

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social destacou que foram atendidas 3.581 pessoas em São Miguel Paulista e que foram entregues na região 1.438 colchões, 1.286 cobertores, 2.091 cestas básicas e 713 kits de higiene.

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