Afogamento é uma das principais causas de morte de jovens no Brasil
Médico alerta que pais precisam estar atentos, até mesmo em crianças maiores: 'O afogamento da vida real não envolve gritos de socorro'
Saúde|Aline Chalet*, do R7
No Brasil, afogamento é a segunda causa de morte por causa externa entre crianças de 1 a 4 anos, segundo levantamento da Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático). Além disso, é a terceira causa de morte na faixa de 5 a 14 anos; e a quarta entre 15 e 19 anos.
Os casos de afogamento letal e não letal aumentam no verão, segundo o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.
“São três motivos: as pessoas vão mais em ambientes com água, as pessoas consomem mais bebidas alcoólicas, e é uma época onde acontecem os 'batismos', a pessoa vai para o mar pela primeira vez”, afirma.
Saiba mais: Intoxicação por produtos de limpeza pode causar danos irreversíveis
O consumo de bebidas alcoólicas é um importante fator de risco para o afogamento. Uma revisão científica, com pesquisas de 15 países, apontou que 64% dos afogamentos fatais na região metropolitana de São Paulo envolvem o uso de álcool.
“O álcool é uma droga que vai mexer com a autoconfiança e com o tempo de resposta da pessoa. Se ela nada razoavelmente, ela vai achar que nada bem. Se ela tem medo do mar, não vai mais sentir tanto medo”, afirma Guerra.
Como ocorre o afogamento?
Segundo o pneumologista Gustavo Prado, da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), afogamento é o desconforto respiratório gerado por penetração de água nas vias aéreas que pode levar a óbito.
Prado explica que inicialmente a pessoa consegue se manter acima da linha da água e respirar. “A medida que o pânico ou a movimentação da água dificulta, e a água entra nas vias aéreas a pessoa tem reações voluntárias para tirar a água. Ela cospe, força a saída pelo nariz ou engole”, afirma.
Com o cansaço, o corpo tem reações involuntárias que são a tosse e o fechamento da laringe.
“Quando esses mecanismos começam a falhar começa a entrar menos ar no pulmão, ou porque a tosse é insuficiente para impedir que água entre, ou por conta do espasmo da laringe, que impede a entrada de água, mas também a de ar”, afirma.
Devido à pouca quantidade de ar, diminui a oxigenação do sangue, até que se torna insuficiente para manter a pessoa acordada e ela perde a consciência.
“Aí fica muito crítico, a pessoa não vai ter a movimentação necessária para ficar com a cabeça fora da linha da água e isso vai acentuar a falta de oxigênio cada vez mais”, explica.
Leia também: Fique atento aos problemas causados por alergias alimentares
As células do coração não vão ter oxigênio necessário para transformar a glicose em energia. Nesse momemento, vítima começa a apresentar arritmias até chegar à parada cardíaca. “A morte do afogamento é uma parada cardiorrespiratória”, observa o médico.
O tempo é um fator crucial no regaste para impedir um óbito e sequelas. “O sobrevivente do afogamento pode ter sequelas neurológicas devido à falta de oxigenação do cérebro e circulação reduzida, mas pode ter consequências respiratórias e cardiovasculares também”, explica.
Segundo pneumologista, a pessoas pode desenvolver inflamações e infecções devido a entrada de água no pulmão. “O tipo de água impõe um certo padrão de injúria para células respiratórias. As duas são terríveis: a água salgada desidrata; a água doce incha”, explica.
Um outro fator que intensifica a velocidade do afogamento é que a água remove o surfactante pulmonar, substância responsável por impedir o fechamento dos alvéolos, sacos aéreos onde a troca de gases é realizada.
Prevenção
O pneumologista enfatiza a importância de aprender a nadar. Outro aspecto importante é treinamento de primeiros-socorros para pessoas que trabalham em locais com ambientes aquáticos com grande circulação de pessoas, como clubes, piscinas, praias, rios e cachoeiras.
Leia mais: Pragas urbanas aumentam no verão. Saiba quais os riscos à saúde
Ele afirma que casas com piscina e criança pequena precisam ter o ambiente isolado por cercas ou grades. “A proteção da criança é muito importante. Tem afogamento dentro de casa, na banheira, o bebê vira de bruços e não consegue se levantar”, explica.
O médico alerta que mesmo as crianças maiores precisam de supervisão. “O afogamento da vida real não envolve gritos de socorro, a pessoa quase não emite som, ela está ocupada tentando nadar e tirar a água que está entrando. Por isso precisamos estar sempre atentos”, afirma.
É obrigatório por lei utilizar coletes salva-vidas em locais de risco como traslados marítimos e esportes náuticos. “Precisamos estar atentos aos locais menos previsíveis, mar, rios, represa e cachoeira em época de chuva, que às vezes o nível da água sobe antes da chuva chegar no local”, alerta.
Prado recomenda ainda a não utilização de álcool e outras drogas quando for praticar esportes e lazer na água.
Saiba mais: Por que perdemos a memória quando bebemos demais?
Caso alguém esteja se afogando, é importante que pessoas sem experiência não tentem prestar socorro.
“Se você não consegue garantir um resgate seguro, chame alguém, ou serão dois afogamentos ao invés de um. Pode parecer cruel, mas o maior esforço da pessoa presente é localizar alguém que possa ajudar”, afirma.
Após o resgate, é dado início rápido a manobras de ressuscitação cardiopulmonares por alguém treinado.
“Não adianta apertar a barriga como nos desenhos, isso pode fazer a pessoa cuspir a água que engoliu, mas não traz nenhum benefício para o resgate, tem que tentar ventilar a pessoa”, afirma.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Fernando Mellis
Saiba como prevenir o câncer de pulmão, o que mais mata no Brasil: