Estudo revela efeitos positivos de substâncias psicodélicas no cérebro

Resultados ajudam a explicar os efeitos antidepressivos e anti-inflamatórios

09/10/2017 - 11h41 (Atualizado em 22/02/2024 - 21h49)

Com estudos feitos em organoides celulares conhecidos como "minicérebros", um grupo de cientistas brasileiros mostrou como uma substância psicodélica produz alterações benéficas em circuitos cerebrais associados à neuroplasticidade, à inflamação e à neurodegeneração.

A pesquisa, publicada nesta segunda-feira (9), na revista científica Scientific Reports, é a primeira a revelar as alterações que drogas psicolélicas causam no funcionamento molecular do tecido neural humano. De acordo com os autores, os resultados ajudam a explicar os efeitos antidepressivos e anti-inflamatórios que as substâncias psicodélicas vêm mostrando em diversos outros estudos.

No experimento, os cientistas utilizaram o 5-MeO-DMT, um composto da família da dimetiltriptamina, que está presente em drogas psicodélicas como o MDMA, o LSD e o chá de ayahuasca - uma planta da Amazônia utilizada ritualmente por indígenas para produzir estados alterados de consciência.

"Pela primeira vez pudemos descrever mudanças relacionadas a psicodélicos no funcionamento do tecido neural humano", disse o autor principal do estudo, Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino.

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As drogas psicodélicas estão cada vez mais ganhando espaço nos laboratórios de pesquisas, como mostrou reportagem do Estado. Diversos grupos internacionais têm feito estudos e experimentos com essas substâncias a fim de desenvolver terapias para problemas psiquiátricos como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e para a dependência de drogas como álcool, cocaína, heroína e crack.

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Apesar dos resultados promissores em um número cada vez maior de pesquisas, a identificação dos circuitos moleculares envolvidos com a ação dos psicodélicos no cérebro era limitada pelas restrições para estudos com essas substâncias e pela falta de ferramentas biológicas apropriadas.

Para estudar os efeitos do DMT, Vania Dakic, do Idor e Juliana Minardi Nascimento, do Idor e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) expuseram os organoides cerebrais — que são culturas de células neurais tridimensionais que imitam um cérebro em desenvolvimento — a uma única dose do psicodélico.

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Depois de receber o psicodélico, os "minicérebros" foram submetidos a uma análise proteômica — isto é, um mapeamento do conjunto de proteínas neles presentes — com uma técnica espectrometria de massas. Eles conseguiram assim observar alterações na expressão de cerca de mil proteínas e conseguiram identificar qual o papel dessas proteínas no cérebro humano.

Efeitos positivos

Os cientistas descobriram que proteínas importantes para a formação das sinapses tiveram uma regulação positiva — entre elas, proteínas relacionadas aos mecanismos celulares de aprendizado e memória, que são componentes centrais do funcionamento do cérebro.

Por outro lado, proteínas envolvidas em inflamação, degeneração e lesão cerebral tiveram uma regulação negativa, sugerindo que a substância psicodélica tem um potencial papel de proteção neural.

"Os resultados sugerem que os psicodélicos clássicos são poderosos indutores da neuroplasticidade — uma ferramenta de transformação psicobiológica sobre a qual sabemos muito pouco", disse outro dos autores do novo estudo Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro, ligado à UFRN.

""O estudo sugere possíveis mecanismos pelos quais essas substâncias exercem seus efeitos antidepressivos, que temos observado em nossas pesquisas. Nosso estudo reforça o potencial clínico escondido dessas substâncias que estão hoje sob restrições legais, mas que merecem total atenção das comunidades médica e científica", afirmou outro dos autores, Draulio Araújo, professor da UFRN.

Conheça os efeitos devastadores das drogas no corpo e saiba como tratar os vícios

Sejam lícitas ou ilícitas, drogas consumidas em excesso podem causar consequências destruidoras no corpo humano. Em alguns casos, o vício pode levar o dependente a entrar no que é chamado de fissura, estágio em que o uso da substância se torna mais intenso e até levar à morte.

Veja a seguir os efeitos devastadores de algumas drogas e como funciona o tratamento

*Caíque Alencar, do R7

Maconha

Mais conhecida para a população e responsável por polêmicas em torno de sua legalização, a maconha não é nem uma das drogas mais perigosas que existem. A explicação é do professor Dartiu Xavier, psquiatra da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes), que afirma que, a cada cem pessoas que consomem a maconha, somente nove ficam dependentes.

— É importante a gente lembrar dessa taxa de dependência da maconha porque as pessoas pensam que, por ser uma droga ilícita, ela é pior

Apesar do risco relativamente baixo, a longo prazo, o uso da maconha altera principalmente a capacidade intelectual do paciente, alerta Xavier.

— Como exemplo nós podemos citar a falta de capacidade de concentração, de memória e até o raciocínio, que fica mais dificultado. Frequentemente ele tem uma certa letargia, que é uma espécie de falta de inciativa, além das vontades compulsivas de consumir a droga

Ecstasy

No caso do ectsasy, o professor da Unifesp explica que os principais sinais de overdose de são o aumento de pressão arterial, respiração mais intensa, batimentos cardíacos acelerados e desidratação.

— Essa hidratação às vezes não é percebida justamente por causa dos efeitos da droga. Inclusive há casos de indivíduos que morrem por desidratação sem perceber. Todo o processo de aumento de temperatura acontece em duas ou três horas e depois disso o indivíduo morre.

Essas ocorrências são comuns principalmente entre os jovens que frequentam festas noturnas, geralmente com ambientes abafados e pouca circulação de ar

Assim como a maconha, o ecstasy baixa taxa de dependência, ou seja, poucas pessoas chegarem a um quadro de vício.

— São somente 5% dos usuários que desenvolvem a dependência. A grande maioria usa de forma controlada e recreacional sem maiores problemas nisso.

A longo prazo, o psiquiatra Mario Louzã, do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), explica que o ecstasy causa danos ao SNC (Sistema Nervoso Central), sendo que a principal forma de manifestação acontecem por meio da hipominésia.

— É uma situação bem parecida com a amnésia, mas não que a pessoa vá esquecer esquecer tudo. Ela, na verdade, vai ter uma capacidade reduzida da memória. A amnésia é uma perda total e a hipominésia é uma redução dessa capacidade

De acordo com Louzã, os dependentes de crack precisam estar internados para se recuperar do vício, já que, sem esse tipo de ambiente, a vontade intensa faz com que a pessoa não consiga ficar sem consumir a droga.

— É o tipo de coisa que está acima do seu comportamento pessoal. A gente pode até citar casos de pessoas que chegaram a matar familiares ou roubá-los para conseguir dinheiro para comprar a droga.

Por isso, o psiquiatra da USP conta que o tratamento é realizado com base na prescrição de medicamentos que atuam contra a confusão mental e a insônia causada pela hiperatividade da abstinência, além do uso de anti-depressivos, calmantes e aulas educacionais. A internação tem importância nesse sentido.

— Esse acompanhamento é feito com terapias e dura de duas a três semanas, que é o período em que o paciente está mais vulnerável e corre maiores riscos voltar a usar a droga

LSD

Já o LSD é uma droga que não há dependentes químicos. Conforme explica o professor da Unifesp, a droga é só experimental, é um alucinógeno que as pessoas procuram para ter um "estado alterado de consciência".

— O que não dá a dependência é que a pessoa não quer repetir. Na hora que acaba a "viagem", o indivíduo geralmente demora muito para querer voltar a ter esses sintomas. Não existe um comportamento compulsivo.

De acordo com o psquiatra, os sintomas do consumo de LSD são alucinações e distorções da realidade, como se o usuário estivesse realmente "viajando". O maior perigo, porém, é se a pessoa já tem um problema existente que pode ser agravado

De acordo com o psquiatra, os sintomas do consumo de LSD são alucinações e distorções da realidade, como se o usuário estivesse realmente "viajando". O maior perigo, porém, é se a pessoa já tem um problema existente que pode ser agravado.

O risco do ácido é se a pessoa tiver uma psicose ou algum desequilíbrio psíquico no qual o uso de LSD pode desencadear um processo mais intenso. Se já existir alguma paranoia, pode intensificar

Heroína

A pessoa que usa heroína sente efeitos que são bastante desagradáveis, como cólicas na barriga, arrepios pelo corpo, ataques de bocejo, lacrimejamento, conforme explica o professor Dartiu Xavier.

É uma situação bem parecida com a sensação de estar morrendo. Mas, além disso, o risco de morte existe mesmo e fica em torno de 7% dos casos de dependência. Se não forem tratadas, as pessoas morrem.

No uso contínuo, Louzã afirma que ela é bastante conhecida por causar o efeito contrário do ecstasy. Enquanto a primeira droga deixa a pessoa mais agitada, a segunda deixa a pessoa em um estado mais apático.

— De modo geral, não é uma droga que produz sensações do tipo estimulante. É o inverso. Ela deixa a pessoa mais largadona e isso acontece porque ela é uma derivada da morfina

A taxa de dependência da heroína é a mais alta de todas as drogas, sendo que na forma injetável ela pode chegar até, ou seja, somente 20% das pessoas conseguem manter o uso esporádico.

O vício é tão grave que o tratamento para a heroína é feito com outra substância que causa dependência, só que em menor grau: a metadona.

"É um tratamento de redução de danos, que é você dar um composto parecido com a heroína, mas que o indivíduo não vai ter todos esses sintomas de falta da droga. É como se fosse diminuindo a dose", diz o psquiatra Dartiu Xavier

Mas como a metadona é derivada do ópio, de acordo com o psquiatra, ela não pode nem ser considerada um "remédio", mas sim uma redutora de danos, que é quando há a troca de uma droga pesada por uma mais leve.

— O indivíduo continua sendo um drogado, só que agora de uma substância que não vai colocar ele em risco de morte. Tem pessoas que até conseguem ir diminuindo e, depois de seis meses ou um ano, você tira a metadona e ele está bem. E também tem gente que fica dependente de metadona pelo resto da vida. Mas aí a pessoa já consegue levar uma vida normal, trabalhar

Álcool

Por último, Xavier destaca os efeitos que o álcool causa no corpo, sendo que os principais decorrentes do consumo são tremores pela manhã e dificuldade de raciocínio.

O tratamento para o alcoolismo é feito com remédios específicos, sendo que, segundo Xavier, eles são o naltrexona e o acamprosato. Os dois atuam como bloqueadores os efeitos de recompensa do álcool no Sistema Nervoso Central, evitando recaídas e reduzindo o desejo de ingerir bebida alcoólica

Sejam lícitas ou ilícitas, drogas consumidas em excesso podem causar consequências destruidoras no corpo humano. Em alguns casos, o vício pode levar o dependente a entrar no que é chamado de fissura, estágio em que o uso da substância se torna mais intenso e até levar à morte. Veja a seguir os efeitos devastadores de algumas drogas e como funciona o tratamento *Caíque Alencar, do R7