Médico cubano em Serra Leoa diz que medo é seu aliado para evitar ebola
Saúde|Do R7
Havana, 11 dez (EFE).- Jorge Luis Quiñones, um médico cubano que faz parte da missão de luta contra o ebola em Serra Leoa, afirmou em entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal oficial "Granma" que o medo é o aliado da equipe de saúde que trabalha ali, já que os faz evitarem riscos desnecessários. "O medo é nosso aliado porque nos acompanha sempre: se deixamos de senti-lo aparece a confiança e, com ela, o risco de nos infectarmos aumenta, portanto é melhor sentir muito medo e realizar nossa tarefa", disse o médico, que partiu para Serra Leoa na primeira brigada de médicos cubanos que trabalha ali desde o início de outubro. Quiñones, de 38 anos, disse se tratar de "uma missão sem precedentes", incomparável a outras missões que já cumpriu em outros lugares como Paquistão, Haiti e Venezuela. O médico admitiu que foi duro saber que seu companheiro Félix Báez, que já superou a doença, foi contaminado fazendo seu trabalho porque, embora o risco esteja aí, o veem "como uma possibilidade remota", e que o caso os obrigou a "redobrar os esforços" para se protegerem. O médico relatou que seu primeiro contato com pacientes no hospital Kerry Town da capital de Serra Leoa foi "uma experiência impactante porque foi olhar os olhos da morte". "Dar um copo com soro, administrar o remédio indicado ou simplesmente oferecer uma palavra de apoio era encorajador para aquelas pessoas, já que sabíamos que a metade ou mais ia morrer nas próximas horas ou dias", contou. Ele lembrou que o ebola é uma doença muito agressiva, com uma taxa de sobrevivência de 50%, mas que muitos morrem sem nem ir ao hospital. O trabalho se divide em três equipes, formadas por um ou dois médicos e três enfermeiros, que atendem durante uma hora os pacientes e depois descansam duas, para se recuperarem da tensão e do cansaço causado pelo manejo do traje especial de mergulhador e do equipamento de proteção. Essa rotação se repete duas vezes por equipe e quando não trabalham vão para o hotel, onde descansam, estudam e realizam exercícios para aumentar a resistência física. É preciso a ajuda de duas ou três pessoas para vestir o traje especial de mergulhador, que é um macacão impermeável com gorro, botas e dois ou três pares de luvas. Cada vez que tiram um de seus elementos eles têm que lavar as mãos. "O que é mais cansativo é o suor, até nossos corpos se adaptarem e o mal-estar diminuir", explicou. Quiñones lembrou sua chegada ao país, após um voo de nove horas sem escalas, com todas as malas na cabine porque não abririam o bagageiro na chegada a Freetown (capital de Serra Leoa), diante do risco de infecção da aeronave. Cuba enviou três brigadas de médicos e enfermeiros aos países de África Ocidental mais castigados pela epidemia de ebola. O primeiro e mais numeroso integrado por 165 colaboradores viajou no início de outubro para Serra Leoa, depois 53 à Libéria e 38 para Guiné.EFE sga/cd