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Subnotificação de casos de zika é uma realidade, mas não preocupa ministério

Por ser uma doença de sintomas leves, muitos pacientes nem sequer procuram os serviços de saúde

Saúde|Mariana Londres,do R7, em Brasília

Mosquito Aedes é transmissor de dengue, zika vírus e chikungunya
Mosquito Aedes é transmissor de dengue, zika vírus e chikungunya Mosquito Aedes é transmissor de dengue, zika vírus e chikungunya

A infecção pelo zika é uma doença nova no mundo, e a epidemia dos casos mais graves decorrentes da infecção começou no Brasil. Mas, por ter sintomas leves: febre baixa, manchas no corpo, vermelhidão nos olhos, muitos doentes nem sequer procuram os serviços de saúde e os casos não são contabilizados nas estatísticas oficiais (subnotificados).

Apenas casos graves, bebês com microcefalia e adultos que desenvolvem síndrome de Guillain-Barré e três mortes entram nas estatísticas. Essa subnotificação, no entanto, não preocupa o Ministério da Saúde já que o conhecimento de casos leves não é fundamental para o controle da doença (apenas em locais onde a doença não existia).

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Estas são algumas das conclusões da entrevista exclusiva que o diretor Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, que está à frente do combate ao zika no ministério deu ao R7, em Brasília. Leia abaixo trechos da conversa:

R7— Como o zika é uma doença de sintomas leves e o exame é caro e só aplicado em alguns casos, não podemos dizer que existe uma enorme subnotificação? Isso não preocupa o ministério?

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Cláudio Maierovitch — Existem doenças que a gente quer conhecer os casos individualmente porque o conhecimento de casos traz a medida do controle. Exemplo, a tuberculose. O controle da tuberculose se baseia no tratamento dos casos individuais e na busca de pessoas que possam ter tido contato e adoecido ou que podem ter sido a fonte de infecção. Se eu tratar o doente e identificar as pessoas que tiveram contato com o doente e tratar de maneira ampla eu acabo com a tuberculose.

No caso do zika, o conhecimento do indivíduo do ponto de vista do controle é irrelevante. Não posso tomar nenhuma medida de controle a partir da informação de que uma pessoa na sua casa está com zika. Num outro contexto em que falamos de uma epidemia de expansão tão rápida, poderíamos pensar que, a partir de cada caso, posso fazer um bloqueio para evitar que a doença se expanda.

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Mas com velocidade com que a zika se expandiu no Brasil, isso não era possível. Especialmente porque do que se sabe há uma parte importante dos casos em que não há sintomas, então não tenho como saber. O que é importante a gente saber é a amplitude aproximada da epidemia, se está indo para lugares novos, se está se expandindo, mas eu não preciso de exatidão em relação ao número de casos. É esperado que eu tenha muita subnotificação, porque é uma doença leve e a maior parte das pessoas nem vai procurar o serviço de saúde.

R7— Há necessidade de ter um protocolo de notificação?

Cláudio Maierovitch — O médico tem que notificar casos suspeitos. Isso já está estabelecido. Apenas com características clínicas. Se nós dependermos de casos notificados quando o exame estiver disponível, nós teremos muito menos casos notificados do que realmente está acontecendo no País.

R7— Esse é o maior desafio da sua carreira, como médico?

Cláudio Maierovitch — É muito tempo de estrada para saber se é o maior desafio. O que eu posso dizer é que o maior desafio em que eu esteja em uma posição de tanto protagonismo, já participamos de ações de doenças muito graves, influenza, poliomielite, cólera. Mas com essa característica de uma doença cuja face mais grave começou a ser conhecida no Brasil, é a primeira vez.

Em outros casos a gente tinha ‘receitas’ do que havia acontecido em outras partes do mundo com receitas se não para copiar, para adaptar. Mas, como esse caso, com tudo novo, é um desafio muito grande. É um desafio trabalhar com a incerteza e com conhecimento ainda inexistente e que vai continuar com lacunas. 

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