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Tecnologia e Ciência

Big techs perderam trilhões e demitiram em massa, e cenário desafiador deve prosseguir em 2023

Problemas representam mudança de curso para as gigantes de tecnologia, após investimentos massivos durante a pandemia

Tecnologia e Ciência|Filipe Siqueira, do R7, com Reuters

A Meta foi a empresa que mais perdeu força em 2022
A Meta foi a empresa que mais perdeu força em 2022

O ano de 2022 foi desolador para as chamadas big techs, as grandes empresas de tecnologia do mundo. O mercado, antes dominado pelas norte-americanas Google, Amazon, Apple, Microsoft e Meta, ganhou um concorrente estrangeiro de peso: a ByteDance, controladora do TikTok. Além disso, o quinteto enfrentou uma crise financeira, que resultou em demissões imensas, desvalorização acionária e prejuízos recordistas.

A Meta, controladora do Facebook e comandada por Mark Zuckerberg, foi a mais atingida. As ações da empresa desvalorizaram 65% em 2022, e a corporação anunciou que vai demitir 13% de toda a força de trabalho, cerca de 11.000 funcionários.

A Meta sangra em várias frentes: seus investimentos bilionários no chamado metaverso ainda não trouxeram resultados financeiros, sofre com a concorrência com o TikTok, foi prejudicada pelas mudanças de privacidade dos aplicativos da Apple, que afetam seus ganhos com publicidade, e pode ainda ser alvo de regulamentação do governo dos Estados Unidos, de olho na empresa desde investigações sobre as eleições de 2016.

As outras gigantes não fizeram muito melhor: Apple, Microsoft , Alphabet — dona do Google — e Amazon perderam entre 27% e 50% até agora este ano. Segundo a empresa de análise de dados Morningstar, em valores brutos, as seis maiores empresas de tecnologia dos EUA com ações na bolsa (a Nvidia foi acrescentada ao grupo) perderam US$ 3,8 trilhões (R$ 20 trilhões) em valor de mercado em 2022, o que as fez voltar aos mesmos níveis de valor de julho de 2020. 


Mesmo o TikTok, que experimentou crescimento acelerado nos últimos anos, diminuiu as metas de receitas para 2022. Chegou-se a pensar que as quedas econômicas expressivas representam um sinal de fortes mudanças no mercado.

Ajuste de mercado

Na visão de Mark McDonald, vice-presidente da consultoria Gartner, e especialista no mercado de tecnologia, as perdas e demissões elevadas não são necessariamente uma crise profunda, mas representam uma mudança de percurso, e são resultado dos investimentos massivos de tais corporações após a pandemia de Covid-19.


"As demissões não contam toda a história. Essa não é uma crise no sentido de que as pessoas estão preocupadas, essas empresas não vão falir. Em vez disso, é um reequilíbrio doloroso, mas necessário, de recursos à medida que o mundo está saindo de uma pandemia", diz Mark McDonald, em entrevista ao R7.

O analista ressalta que, durante a pandemia, muitas dessas empresas investiram muito em serviços diretos para o consumidor, o que parecia um passo lógico em uma época em que todos estavam confinados em casa.


Mas a diminuição das medidas de restrição fez a maioria do público retomar hábitos de compra de antes do péríodo. Além disso, o momento econômico também é turbulento: juros, inflação e queda no mercado de publicidade nos EUA barram o crescimento de negócios dessas empresas.

Um movimento parecido ocorreu ainda no último trimestre de 2020, onde as big techs perderam quase US$ 400 bilhões em valor de mercado em uma única semana.

"Muitas das demissões ocorrem nessas áreas de negócios voltados para o consumidor, onde as empresas investiram demais, acreditando que os fortes ganhos no comércio continuariam a crescer. (...) Se elas estivessem demitindo engenheiros, isso seria um problema maior e uma crise potencial.", detalha Mark McDonald.

Na China, gigantes locais de tecnologia, como a ByteDance, AliBaba e Tencent, estão lidando com seus próprios problemas, que podem impedi-las de dominar o mercado global de tecnologia para consumidores.

"As empresas de tecnologia chinesas enfrentam sua própria combinação de desafios, desde as condições e regulamentações do mercado local até as preocupações com as empresas chinesas que operam no exterior. Não há nenhuma empresa específica na China ou em outros países que possa ser considerada favorecida neste momento", diz Mark.

Mais mudanças no futuro

Em 2023, as demissões devem continuar, enquanto as big techs fazem ajustes em seus próprios negócios. Um exemplo é Amazon, que demitiu milhares de funcionários de sua divisão de dispositivos, responsável pela Alexa.

"De certa forma, esses ajustes estão criando novas oportunidades de investimento para empresas de tecnologia no mundo 'híbrido' – híbrido no sentido de que as empresas precisam oferecer experiências iguais/semelhantes em casa, no escritório, remotamente, etc", finaliza Mark.

Um ajuste concreto pode ser visto na aproximação dessas empresas com corporações financeiras.

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No dia 12, a Microsoft comprou 4% de participação acionária da Bolsa de Valores de Londres, em um movimento que indica uma aproximação ainda maior entre operadores do mercado financeiro e grandes corporações de tecnologia.

O aprofundamento dos laços entre grandes empresas globais de computação em nuvem, como Microsoft, Google, Amazon e IBM, e companhias como bancos e bolsas de valores, tem levado reguladores a examinar essas relações mais de perto.

Em novembro de 2021, o Google anunciou investimento de US$ 1 bilhão no CME Group, para mover os sistemas de negociação da bolsa de derivativos dos Estados Unidos para uma plataforma baseada em computação em nuvem.

No mesmo mês, Nasdaq e Amazon anunciaram uma parceria de vários anos para mudar os sistemas de negociação da bolsa norte-americana para sistemas de computação em nuvem.

Os reguladores expressaram preocupação com o excesso de confiança das empresas financeiras em poucos provedores de serviços de computação em nuvem, dado o potencial impacto no setor caso um desses provedores sofra problemas.

A União Europeia acaba de aprovar uma lei que introduz salvaguardas para provedores de computação em nuvem em serviços financeiros, com o Reino Unido pronto para seguir o exemplo.

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