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Demissões em massa e perdas trilionárias: big techs enfrentam crise e cenário tende a piorar

Juros elevados, expectativas altas demais e fuga de investidores mergulharam as maiores empresas de tecnologia dos EUA em seu pior momento

Tecnologia e Ciência|Filipe Siqueira, do R7

Mark Zuckerberg anunciou a demissão de 13% da força de trabalho da Meta
Mark Zuckerberg anunciou a demissão de 13% da força de trabalho da Meta Mark Zuckerberg anunciou a demissão de 13% da força de trabalho da Meta

Na quarta-feira (9), a Meta, controladora do Facebook, expôs ao mundo um de seus momentos mais difíceis. Em uma carta pública direcionada aos funcionários da empresa, o CEO e fundador Mark Zuckerberg anunciou que demitirá 13% da força de trabalho da empresa — cerca de 11 mil funcionários.

Na mensagem, Zuckerberg assumiu toda a responsabilidade da crise dentro da companhia e revelou que o plano é tornar a Meta "uma empresa mais enxuta e eficiente, cortando gastos discricionários e estendendo nosso congelamento de contratações até o primeiro trimestre" de 2023.

Em fevereiro já estava claro que a Meta vivia seu pior momento desde que se tornara o gigante das redes sociais. Em um único dia, a empresa perdeu US$ 232 bilhões (R$ 1,235 trilhão no câmbio atual) em valor de mercado, um valor recorde na história do mercado de ações, segundo alguns cálculos.

A queda histórica foi o resultado da divulgação de que a empresa tivera US$ 10 bilhões em perdas em sua divisão Reality Labs, responsável pelo desenvolvimento do metaverso, que ainda não demonstrou nenhum resultado financeiro palpável e é classificada por investidores como uma "aposta arriscada" de Zuckerberg.

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Cenário devastador

Mas a crise no Facebook é apenas uma face do problema. Outros titãs das chamadas big techs — as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos — enfrentam situações similares: ganhos abaixo do esperado, queda de valor de mercado e instabilidade cada vez maior.

Cada uma delas se vê afetada por um cenário pantanoso, com uma guerra sem prazo de término na Europa, aumento de juros e fuga de investidores. Os resultados de tal crise podem, inclusive, modificar o equilíbrio de poder entre algumas das maiores corporações do mundo.

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O Twitter enfrenta uma profunda crise desde que foi comprado por Elon Musk, que não descartou uma futura falência da empresa e demitiu metade de seus funcionários. A Amazon perdeu cerca de US$ 1 trilhão em avaliação de mercado, de acordo com a Bloomberg; enquanto a Microsoft não ficou muito longe, com perdas de valor de mercado na casa dos US$ 889 bilhões (R$ 4,734 trilhões). Mesmo o TikTok, em crescimento acelerado e operado pela empresa chinesa ByteDance, diminuiu as metas de receitas para 2022.

Como resultado, todo o setor de tecnologia está demitindo em massa. Segundo um levantamento da plataforma Crunchbase, empresas do ramo já demitiram 52.000 pessoas em 2022.

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Em índices gerais, em 2022 o valor de mercado da Amazon caiu 39,5%, a Meta despencou 67%, a Netflix caiu 52% e a Alphabet, controladora do Google, caiu outros 35%. A única entre os gigantes que enfrentou problemas menores foi a Apple, que teve perdas de 16% e ganhou quase US$ 191 bilhões (R$ 1,016 trilhão) em valor de mercado apenas na quinta-feira (10).

As variações gigantescas são uma mostra do momento complicado que enfrentam a economia americana e a global e pode se estender mais tempo do que o esperado.

"Atualmente o cenário econômico está incerto; isso decorre de inúmeros acontecimentos, como o conflito na Ucrânia, a inflação pressionada, juros altos e o nível de endividamento elevado dos países", avalia Lucas Lautert Dezordi, professor da PUC-PR e economista-chefe da TM3 Capital, gestora de investimentos especializada em startups.

Um cenário de instabilidade como esse afeta ainda mais fortemente as empresas de tecnologia, que atraem fundos de investimento interessados em crescimento acelerado. Mudanças econômicas transformam as expectativas de setores financeiros em decepção.

"Desde o início do ano, o mundo começou a subir os juros, em especial os Estados Unidos. Isso faz com que empresas de crescimento elevado sofram muito mais, uma vez que muito do valor dessas empresas está nas 'expectativas de crescimento'. Entretanto, esse crescimento pode não se concretizar", completa Dezordi.

Embora seja difícil prever as movimentações cada vez mais complexas e caóticas do mercado financeiro global, é muito provável que a crise do setor se intensifique ainda mais.

"Tudo é possível! Por ora, considerando os ciclos do mercado, esse cenário deve piorar. Ainda estamos em uma fase inicial da desaceleração econômica, e não chegamos a observar nenhuma recessão de fato na economia global, o que deve acontecer no próximo ano", prevê o economista.

Fundos menores

Diante dessa turbulência, investidores apertam os cintos e procuram águas mais calmas para evitar perdas bilionárias. É o caso do gigante japonês SoftBank, conhecido mundialmente por administrar o Vision Fund, classificado como "o maior fundo de investimento focado em tecnologia do mundo", com mais de US$ 100 bilhões (R$ 532 bilhões) de capital — quase metade dele proveniente do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita.

As perdas da divisão de investimento da empresa — que também tem operações de banda larga, comércio eletrônico, telefonia fixa e TI — ficaram na ordem dos US$ 10 bilhões e a divulgação dos resultados negativos marcou também a despedida de seu fundador Masayoshi Son das decisões diárias do grupo. O CEO afirma que agora focará a gestão da fabricante de microprocessadores britânica Arm, comprada pelo SoftBank em 2016.

Son, uma figura controversa, transformou apresentações financeiras em estranhos shows visuais, um misto de ficção científica e técnicas para chamar a atenção de aliados financeiros. Mas os últimos seis meses diminuíram o ritmo de entusiasmo do Softbank, que demitiu 30% da equipe do Vision Fund e, segundo o Financial Times, "reduziu drasticamente o tamanho de seus investimentos nos últimos seis meses".

O recuo é um claro sinal de que a era dourada dos investimentos gigantescos e crescimento insano de startups pode mudar em breve. E pode mesmo frear o crescente poder de influência das big techs. Na avaliação de Dezordi, o próprio governo americano pode ser um obstáculo mais forte do que concorrentes estrangeiras, como o TikTok, que estão "expostas a fatores similares".

"Com relação ao poder dos gigantes americanos de serviços de internet, recentemente elas têm sido mais afetadas pelo próprio governo dos EUA, com algumas restrições de privacidade, do que apenas pelo avanço das corporações chinesas", afirmou o economista.

REVEJA ABAIXO: Presidente do Facebook vai ao Congresso americano dar explicações sobre moeda virtual

Otimismo excessivo

A pandemia também ajudou. Enquanto outros setores enfrentaram crises profundas, os gigantes de tecnologia cresceram com a demanda por serviços virtuais e opções de home office. Esse cenário financeiramente otimista fez com que muitos executivos não se preparassem para o que viria a seguir.

Na carta de Zuckerberg é possível perceber que esse cenário foi avaliado pela Meta como "uma aceleração permanente que continuaria mesmo após o término da pandemia". Mas as coisas não saíram como o esperado.

"Infelizmente, isso não aconteceu do jeito que eu esperava. Não apenas o comércio online voltou às tendências anteriores, mas a desaceleração macroeconômica, o aumento da concorrência e a perda de sinal de anúncios fizeram com que nossa receita fosse muito menor do que eu esperava", disse Mark Zuckerberg, no blog da empresa, avaliando o cenário atual.

Há ainda desafios específicos em certos setores do mercado, como o de publicidade, que enfrenta um momento de queda de preços e menor demanda.

"Na Alphabet e Meta, esse cenário [a diminuição dos gastos] é refletido através de uma menor demanda por anúncios das empresas, que estão pensando em economizar; na Amazon, principalmente por uma menor compra de bens materiais pelas pessoas", explica Lucas Dezordi.

Brasil também é afetado

O Brasil também é afetado pelo cenário global de queda de investimentos, diminuição de atratividade do setor de tecnologia e operações de startups.

"Só no primeiro semestre, o volume financeiro dos investimentos em startups no Brasil caiu mais de 40% em comparação a 2021. Já o número de investimentos caiu cerca de 15%, mostrando que o valor médio dos cheques também tem seguido uma tendência de redução", diz Dezordi.

O ciclo é exatamente o mesmo dos investimentos feitos internacionalmente: no atual momento de crise, fundos e investidores passam a definir regras mais rigorosas para despejar dinheiro em empresas menores, e escolhem companhias "com modelos de negócios financeiramente mais sustentáveis e com propostas de valor mais validadas".

Mas, apesar da intensa turbulência que parece ameaçar a hegemonia de um setor que cresceu de forma alucinante, não é preciso se desesperar. No New York Times, o estrategista financeiro Jeff Sommer resume a questão: a curto prazo a situação continuará tensa, por todo o quadro de incertezas econômicas e pelo alto risco que representam os negócios dessas empresas; mas a longo prazo ele diz "permanecer otimista".

"Muitas dessas empresas de tecnologia ainda estão gerando lucros razoáveis e outras ganharão muito dinheiro um dia", diz Jeff.

A opinião de que os ventos devem permanecer turbulentos por algum tempo antes de apresentar melhoras é compartilhada por Lucas Dezordi: "As empresas de tecnologia costumam atravessar as crises com mais facilidade do que os negócios tradicionais. Essa resiliência e agilidade das startups devem manter o mercado de tecnologia rodando durante um período de recessão".

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