Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Saiba como Talibã utiliza as redes sociais para se fortalecer

Grupo extremista adota tom pacificador para ganhar a confiança do mundo e driblar termos de uso das plataformas online

Tecnologia e Ciência|Sofia Pilagallo*, do R7

Cinco porta-vozes da organização somam, juntos, mais de 1 milhão de seguidores no Twitter
Cinco porta-vozes da organização somam, juntos, mais de 1 milhão de seguidores no Twitter Cinco porta-vozes da organização somam, juntos, mais de 1 milhão de seguidores no Twitter

Apesar de armas de fogo serem o principal meio que o grupo fundamentalista Talibã encontrou para mostrar seu poder ao mundo, esta, definitivamente, não é a única ferramenta utilizada pelos milicianos para se fortalecer diante da crise política que assola o Afeganistão. Na rede social Twitter, cinco contas de porta-vozes da organização têm juntas mais de 1 milhão de seguidores.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas) James Onnig, foi entre 2014 e 2015, perto do fim do mandato do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que o Talibã compreendeu a importância da chamada "geopolítica virtual" ou "cyber geopolítica", isto é, o poder que as redes sociais têm de influenciar os acontecimentos históricos e políticos da atualidade.

Foi em 2019, no entanto, quando o governo Trump também já estava próximo do fim, que o grupo extremista, já visando a retomada do Afeganistão em um futuro não tão distante, adotou uma linguagem totalmente diferente do que o mundo conhecera até então.

"O Talibã passou a usar as redes sociais, sobretudo o Twitter, como uma forma de se comunicar com a sociedade afegã em um tom pacificador. Muita gente tem demonstrado preocupação com a possibilidade de o grupo disseminar mensagens violentas, mas eles perceberam que o mais inteligente é fazer justamente o contrário", afirma.

Publicidade

Leia também: Conheça o Talibã, grupo radical que está no controle do Afeganistão

Para Onnig, os dois principais motivos que levam a organização a adotar um discurso pacífico nas redes sociais são: ganhar um voto de confiança não só da população afegã, como de pessoas do mundo todo, e não entrar em conflito com as regras estabelecidas pelas redes sociais. Essa é uma postura exatamente oposta à do Estado Islâmico (EI), que, em 2019, chegou a divulgar nas redes sociais um vídeo de dez cristãos sendo decapitados na Nigéria.

Publicidade

Outra diferença pontuada pelo professor entre a comunicação dos grupos fundamentalistas é que, diferentemente do EI, que praticamente só publicava mensagens em árabe, o Talibã procura disseminar seu conteúdo não só nesse idioma, como também em inglês. Isso poderia, possivelmente, apontar para uma tentativa da organização de se aproximar do mundo ocidental.

Leia também: Talibã: 7 pontos importantes para entender o grupo extremista

Publicidade

"Os talibãs não abrem mão de seu discurso mais estrito, fundamentalista, mas, por outro lado, vêm mostrando um grau de responsabilidade que difere muito daquela visão vendida pelo Ocidente de que o grupo executava todo mundo e não aceitava opiniões contrárias. Eu duvido muito que esta seja uma postura genuína, mas é certo que eles entenderam o poder das redes sociais", diz.

Onnig destaca ainda outro fato importante: é possível perceber que muitos dos talibãs que têm aparecido na mídia, seja em entrevistas ou fotos, são jovens — alguns deles possivelmente têm a idade da internet, que se popularizou em 1995. É bastante provável, portanto, que esses jovens, os chamados "nativos digitais", estejam à frente das redes sociais do Talibã.

Leia também: O que está por trás da mudança de discurso do Talibã?

Para o professor, o discurso fundamentalista tem atraído cada vez mais jovens, que, desolados com a situação do Afeganistão, encontram no Talibã uma espécie de conforto. Diferentemente de afegãos de outras faixas etárias, muitos dos quais são recrutados à força pelo grupo, é possível imaginar que esses jovens estariam contribuindo de forma voluntária para o fortalecimento da organização.

Para professor, discurso fundamentalista tem atraído cada vez mais jovens
Para professor, discurso fundamentalista tem atraído cada vez mais jovens Para professor, discurso fundamentalista tem atraído cada vez mais jovens (WAKIL KOHSAR/AFP)

Desafios

Diante do crescimento do Talibã no ambiente digital, as redes sociais têm se deparado com o desafio de conter a presença do grupo extremista e de seus apoiadores em suas plataformas. O Facebook, por exemplo, deletou contas mantidas em nome dos talibãs e proibiu que sejam elogiados, apoiados ou representados.

Uma vez que banir a organização das redes sociais é uma realidade muito distante — até porque devem ser levados em conta aspectos como censura e liberdade de expressão —, Onnig acredita que o melhor caminho a ser seguido é a inclusão da educação digital nas escolas. É possível acreditar que, desta forma, em um período de médio a longo prazo, as futuras gerações estariam mais alertas sobre os mecanismos das redes sociais e seus perigos.

"É claro que golpes contra a democracia e coisas do gênero sempre irão existir. Mas, a partir dessa medida, o mundo estará educando crianças e adolescentes para o futuro, que, certamente, será cada vez mais digital", afirma.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Pablo Marques

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.