Justiça aceita denúncia contra ex-chefe de UTI em Curitiba
Juiz também determinou a soltura de quatro envolvidos no caso
Cidades|Do R7, com Estadão Conteúdo
A 2ª Vara do Tribunal do Júri em Curitiba acatou nesta sexta-feira (15) a denúncia do Ministério Público do Paraná contra a médica e ex-chefe da UTI do Hospital Universitário Evangélico Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, e mais sete pessoas. Eles são acusados de homicídio qualificado e formação de quadrilha pela suspeita de terem matado sete pacientes na UTI entre 2006 e este ano. Todos negam a denúncia.
O juiz Daniel Ribeiro Surdi de Alencar também emitiu alvará de soltura para quatro presos que estavam sob prisão temporária, com exceção de Virgínia, que desde 19 de fevereiro permanece sob prisão preventiva. Na próxima semana, a Justiça vai julgar pedido de habeas corpus para a médica.
Além de chefe de UTI, outras sete pessoas são denunciadas à Justiça por mortes em hospital
Os médicos Anderson de Freitas, Edson Anselmo da Silva e Maria Israela Bocato, além da enfermeira Laís da Rosa Groff, acusados de dois homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha, foram liberados. A denúncia também atinge a enfermeira Patrícia Cristina de Gouveia Ribeiro — acusada por homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha —, a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes — acusados de formação de quadrilha. Eles não foram presos.
Além das sete mortes investigadas, a polícia ainda investiga mais 21 mortes suspeitas na UTI. Além dos médicos envolvidos, também está na mira da Justiça outros profissionais que atuaram no setor sob a coordenação da médica Virgínia.
Entenda o caso
A ex-chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (PR), um dos mais importantes do Paraná, foi presa no dia 19 de fevereiro por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde. Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de ter praticado eutanásia — antecipar a morte de pacientes internados na unidade.
As investigações começaram há um ano, após denúncias de funcionários do próprio hospital à ouvidoria do governo do Paraná. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, por não haver chance de defesa das vítimas.
Gravações telefônicas feitas com autorização da Justiça mostraram conversas da médica com outros médicos e demais funcionários. A polícia entendeu, após ouvi-las, que Virgínia ordenava o desligamento de aparelhos de alguns doentes.
Virgínia trabalhava na unidade há 24 anos. Ela era casada com o chefe da UTI, Nelson Mozachi, e assumiu o cargo quando ele morreu, em 2006.
Em nota divulgada no dia da prisão, o Hospital Universitário Evangélico disse que abriu sindicância interna para apurar os fatos, que reconhece a competência profissional de Virgínia e que “desconhece qualquer ato técnico dela que tenha ferido a ética médica”. Toda a equipe do setor foi trocada.
O CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) manifestou preocupação com a “condenação pública” dos envolvidos sem que “sejam realmente avaliados e julgados por quem de direito”.
Por meio de carta, a médica se disse vítima de ex-funcionários. O filho dela, Leonardo Marcelino, e o advogado, Elias Mattar Assad, disseram que tudo “é um grande erro da polícia” e que as denúncias “são baseadas em depoimentos e não em provas”.
Apesar de estar na UTI do hospital desde 1998 e chefiar o setor há sete anos, Virgínia não era especialista na área. Segundo a polícia, quem assinava por ela como chefe da unidade era outro médico.
No dia 23 de fevereiro, a Justiça expediu quatro mandados de prisão para três médicos e uma enfermeira. Os anestesistas Edson Anselmo da Silva Júnior, Maria Israela Boccato e Anderson de Freitas foram levados à delegacia no mesmo dia. A enfermeira Laís Grossi se apresentou no dia 25 do mesmo mês. Já a médica Krissia Wallbach, apresentou-se à polícia no dia 5 de março, foi indiciada, mas permanece em liberdade.
Os médicos presos negam qualquer conduta antiética e foram orientados pelo advogado de Virgínia a ficarem calados. Foi iniciada uma investigação dentro do hospital, inclusive com membros do Ministério da Saúde, para constatar eventuais irregularidades praticadas pela médica ou por outros profissionais.