Doença alimentar e dietas fazem mercado de produtos sem glúten crescer 30% ao ano
Em São Paulo, aumento foi de 120% nos pontos de vendas de produtos sem a proteína
Economia|Vanessa Beltrão, do R7
O mercado de produtos sem glúten cresce apoiado na necessidade dos portadores da doença celíaca — que têm intolerância a essa proteína — e no hábito de se consumir produtos mais saudáveis. O resultado é empresários do ramo faturando milhões e a expansão da oferta das mercadorias. O setor cresceu entre 20% e 30% por ano de 2009 a 2013.
Há dez anos, a empresa Vitalin trabalha com produtos sem glúten. Os primeiros foram apenas cereais, como linhaça, quinoa, chia e amaranto. Recentemente, também lançaram uma linha que inclui cookies e granola. O presidente da companhia, Rogério Manske, explica que, no início, “o mercado eram bem tímido” com relação a essas mercadorias, mas a partir de 2011 a demanda aumentou.
— Em geral, no ano passado a gente teve um crescimento nas vendas de 65% em toda a nossa linha, que tem 29 produtos. Fechamos um faturamento de R$ 8 milhões.
A Vitalin atende todo o País por meio dos distribuidores. Os biscoitos e cereais são vendidos em lojas de produtos naturais e também em redes de supermercados. Para 2014, a empresa prevê um avanço menor por causa do baixo crescimento do Brasil.
— Nossa expectativa era alcançar os R$ 14 milhões, em função desse cenário econômico, repensamos e queremos atingir, em cima desses R$ 8 milhões, um crescimento de 35%.
A empresa cresceu, até mesmo, além do setor. Segundo Gustavo Negrini, diretor da feira Gluten Free — que já está na sua quinta edição discutindo a problemática das alergias e intolerâncias alimentar — o segmento vem se mostrando sólido e em expansão. Ele explica que nos últimos sete anos, apenas na capital paulista, o crescimento foi de 120% nos pontos de vendas de produtos sem glúten.
Além disso, o número de expositores no evento aumentou quase dez vezes, passando de oito no primeiro ano (2010) para 55 em 2014. Para Gustavo, a melhora no diagnóstico de celíacos foi determinante neste avanço.
— Vem melhorando o diagnóstico da doença e é uma doença que não tem remédio porque você tem que interromper o consumo de glúten e passa a consumir produtos sem. O segundo ponto é uma preocupação maior com a ingestão de alimentos mais saudáveis.
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O presidente da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Dietéticos e para Fins Especiais), Carlos Gouvea, acrescenta que o crescimento também vem sendo beneficiado por uma corrente de nutricionistas que classifica os alimentos sem essa proteína como funcionais, ou seja, aqueles que trazem algum benefício ao metabolismo do organismo, o que incentiva as pessoas que não são celíacas a incluir na dieta.
— Existe uma corrente de nutricionistas que vê no glúten um vilão. O alimento sem glúten acaba trazendo benefícios. Não posso dizer que seja um fato científico. É uma teoria que tem ganho adeptos.
Estimativas de estudos internacionais apontam que 1% da população mundial é celíaca. No Brasil, a doença já afetaria cerca de 2 milhões de pessoas.
Matéria-prima vem do exterior e sobe preços
Apesar da maior oferta, os produtos ainda são mais caros do que os tradicionais. Gustavo Negrini elenca a matéria- prima importada e a falta de incentivo do governo como alguns dos fatores desse encarecimento.
— Alimentos sem glúten não têm incentivo. Pelo contrário, é tudo muito caro porque hoje para você conseguir fazer um pão sem glúten precisa fazer um mix de quatro, cinco farinhas, às vezes.
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O químico Marcelo Martins investiu, há um ano, R$ 2 milhões na fabricação de pães sem glúten e precisa importar até mesmo a fibra de psyllium husk da Índia para a fabricação. Saiba mais sobre a história deste empreendedor aqui.
Para suavizar esse gasto com matéria-prima, o diretor da Glúten Free defende que, pelo fato desses produtos serem de primeira necessidade para os portadores da doença, o governo deveria dar um incentivo.
— A doença celíaca não atinge uma classe social específica. Eu acho que o governo poderia usar isso como incentivo através da saúde pública.
Atualmente, um pão de caixa sem glúten custa, em média, R$ 10, fora dos padrões de consumo de muitos brasileiros. Porém nem tudo está perdido, a Vitalin, por exemplo, se beneficia de um incentivo estadual em Santa Catarina, onde está localizada a empresa, que faz com que ela pague, no porto do Estado, apenas 1% de tributos para receber a matéria-prima importada necessária na fabricação dos cookies. Dentre os cerais importados, está o amaranto do Peru, quinoa (Peru e Bolívia) e linhaça (Canadá e Argentina).
A baixa tributação faz com que os produtos da companhia cheguem mais em conta para o bolso do consumidor. De acordo com o presidente da empresa, um pacote de cookie é vendido por R$ 1,80.
Logística também é uma "pedra no sapato" dos fabricantes
A logística também é uma pedra no sapato dos fabricantes. O microempresário Chico Feitosa tem uma fábrica em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde desenvolve petiscos, lasanhas e até mesmo pão de queijo sem glúten. Ele diz que sofre com a questão dos transportes. Por causa dos custos, a produção de congelados é entregue, até o momento, apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
— É um mercado que está crescendo em progressão geométrica. Mas qual é a dificuldade? É a logística dele. Eu tenho que virar uma distribuidora e isso encarece o produto. Como o segmento disso ainda compra pouco, são vendas de R$ 400, você vai por isso no transporte, são R$ 100, você vê como é que o produto começa a chegar caro.
Confira no vídeo abaixo a loja que faz sucesso vendendo chocolates sem glúten, sem lactose e sem açúcar.
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