Em 5º dia de protestos na Turquia, governo pede desculpas a manifestantes e sindicato convoca greve
Vice-primeiro-ministro disse que manifestações são legítimas, mas que há grupos violentos
Internacional|Do R7, com agências internacionais
No quinto dia consecutivo de protestos contra o governo, o vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, pediu desculpas nesta terça-feira (4) aos manifestantes feridos pela repressão policial durante as manifestações que afetam a Turquia desde sexta-feira, mas também pediu o fim imediato das manifestações e condenou a violência de alguns protestos.
O quinto dia dos protestos começou em calma, com uma greve de 48 horas do principal sindicato de funcionários públicos, que por enquanto não está afetando o dia a dia da população. No entanto, novas manifestações contra o governo ocorrem nesta tarde (hora local) nas principais cidades do país.
A violência na Turquia começou quando a polícia tentou retirar à força milhares de manifestantes do parque Gezi, em Istambul, onde as autoridades planejam construir um centro comercial.
Em razão disso, o vice-primeiro-ministro resolveu hoje pedir desculpas aos manifestantes feridos.
— Peço desculpas para aqueles [manifestantes] com sensibilidade ambiental pela violência policial usada no começo.
Em entrevista coletiva concedida em Ancara após uma reunião com o presidente turco, Abdullah Gul, o número dois do governo islamita moderado disse hoje que os protestos contra a demolição do parque são "legítimos e justos". No entanto, Arinç condenou o uso da violência por parte da população, acusando alguns grupos de manifestantes de se aproveitarem dos protestos.
— A reação do povo no parque foi legítima e justa, mas esta reação legítima foi utilizada com abuso por grupos marginais ilegais. (...) Não temos desculpas para os violentos. Não acredito que devamos pedir desculpas aos que provocaram danos nas ruas e tentaram bloquear a liberdade das pessoas.
Arinç criticou ainda a intervenção policial com gás lacrimogêneo para dispersar o protesto no parque.
— O que fez com que as coisas saíssem de controle foi a utilização de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança, por uma ou outra razão, contra pessoas que tinham inicialmente exigências legítimas.
O premiê disse que respeita as diferenças, mas pediu, em vão, pelo fim dos protestos, que continuam hoje pelo país.
— As diferenças constituem a maior riqueza da Turquia. Nosso governo respeita e é sensível aos distintos estilos de vida. (...) Estou convencido de que nossos cidadãos, responsáveis, encerrarão hoje os protestos. É o que esperamos deles.
Primavera árabe ou Ocupe Wall Street?
Os protestos na Turquia foram iniciados após o despejo forçado de um acampamento pacífico do parque Gezi de Istambul, mas ganharam um caráter político, contra o autoritarismo do primeiro-ministro, Erdogan, e tomaram proporções nacionais.
Diante disso, o vice-premiê, que atua também como porta-voz do governo, acusou a imprensa estrangeira de comparar "intencionalmente" os protestos com a Primavera Árabe.
— Por que não o comparam com a ocupação de Wall Street? Como se comportou a polícia ali? Estas coisas se passaram na Espanha, Grécia, Reino Unido e Itália, onde a polícia atuou de forma similar.
O vice-primeiro-ministro argumentou que a reações da imprensa estrangeira se devem ao mal-estar que sentem com o governo do Partido de Desenvolvimento e Justiça (AKP).
— Os países estrangeiros fazem isso para debilitar o poder da Turquia e seu êxito econômico.
Para Arinç, muitos manifestantes "recebem ordens" por meio de plataformas como o Twitter nos Estados Unidos.
Paralisação
Erdogan, o chefe de governo, prosseguia nesta terça-feira em uma viagem pelo norte da África. Em Rabat, Marrocos, afirmou que a situação "estava se acalmando" no país, apesar da convocação de greve pela influente Confederação de Sindicatos do Setor Público (KESK).
De acordo com Erdogan, seus opositores se aproveitaram dos episódios em Istambul.
— A princípio, os problemas com as árvores [que seriam derrubadas para a construção de um centro comercial em Istambul] provocaram alguns protestos. Mas depois os manifestantes foram controlados por pessoas que não ganharam as eleições.
Após uma nova noite de mobilização e confrontos em várias cidades turcas, a KESK convocou uma paralisação de duas horas nesta terça-feira.
Erdogan, acusado de autoritarismo, enfrenta um movimento de protesto de dimensão inédita desde a chegada ao poder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2002.
"O terror exercido pelo Estado contra as manifestações totalmente pacíficas ocorreu de tal maneira que ameaça a vida dos civis", afirma uma nota da KESK, que alega ter 240 mil afiliados.
"A brutalidade da repressão traduz a hostilidade contra a democracia por parte do governo", completa a nota.
Mortes
Um jovem de 22 anos morreu na segunda-feira em um hospital no sul da Turquia, a segunda vítima fatal dos confrontos no país. A necropsia não permitiu confirmar que ele recebeu um tiro, como haviam informado as autoridades.
A polícia voltou a utilizar na madrugada desta terça-feira bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes em Ancara e Istambul.
Em Istambul, milhares de manifestantes voltaram a pedir na noite de segunda-feira a renúncia do primeiro-ministro.
A polícia agiu com violência contra os manifestantes no bairro de Besiktas, perto do gabinete do primeiro-ministro, e na praça Kizilay, que virou o epicentro dos protestos na capital Ancara.
Em Genebra, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a sul-africana Navi Pillay, pediu que a Turquia organize uma investigação rápida e independente sobre o comportamento da polícia.
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