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Farc entregam armas e deixam de existir como guerrilha

Grupo que já foi autor de sequestros, torturas e atentados atuou por mais de 50 anos

Internacional|Da Ansa

Guerrilha atuou por mais de 50 anos na Colômbia
Guerrilha atuou por mais de 50 anos na Colômbia

Após mais de 50 anos de atuação, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) deixaram de existir como guerrilha nesta terça-feira (27) em uma cerimônia simbólica em Mesetas, no departamento de Meta.

Em um território montanhoso e que abriga um acampamento com mais de 500 combatentes, o grupo entregou suas últimas cinco armas, iniciando de fato a transição para a vida política. O evento contou com as presenças do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, do chefe da missão da ONU (Nações Unidas) no país, Jean Arnault, e do líder das Farc, Rodrigo Londoño, o "Timochenko".

"Cumprimos. Hoje deixamos as armas. O Estado nos ofereceu um pacto para construir, e estamos prontos para seguir por esse caminho", declarou o guerrilheiro, dando as "boas-vindas" para a paz.

Segundo Arnault, as Farc entregaram 7.132 armas, todas aquelas que estavam previstas. Outras 700 continuarão em uso para fazer a segurança dos 26 acampamentos da guerrilha nas zonas de transição, mas somente até o dia 1º de agosto de 2017.


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"As Farc cumpriram e entregaram todas as suas armas individuais. Com esse passo, surgem novas oportunidades, novas necessidades", disse o chefe da missão da ONU. Já Santos ressaltou que é importante que o mundo saiba que a paz é "real e irreversível".

Com a conclusão do desarmamento, as Farc iniciarão agora um percurso rumo à vida política e democrática. O primeiro passo será criar um partido para disputar eleições no país: nos dois próximos ciclos legislativos, o grupo terá garantidos cinco assentos no Senado e cinco na Câmara de Representantes.


A entrega das armas é resultado do acordo de paz ratificado no fim de novembro de 2016, após um primeiro tratado ter sido rejeitado em um refendo no mês anterior.

Além do desarmamento e da garantia de vagas para as Farc no Parlamento, o pacto prevê que combatentes que tenham usado o narcotráfico para enriquecimento pessoal não sejam beneficiados pela anistia, item que não estava detalhado no primeiro texto.

O acordo também tira a possibilidade de participação de magistrados estrangeiros no Juizado Especial da Paz e determina que bens e ativos em poder da guerrilha sejam usados para indenizar vítimas do conflito.

Meio século de guerra

De orientação marxista, as Farc nasceram em 1964 com o objetivo de implantar um regime socialista e a reforma agrária na Colômbia. No entanto o grupo passou a crescer exponencialmente a partir da década de 1980, sob acusações de usar o narcotráfico para financiar suas atividades.

Uma onda de sequestros, extorsões, torturas e atentados abalou a popularidade da guerrilha, que nos anos 2000 foi um dos alvos do "Plano Colômbia", um projeto bilionário dos Estados Unidos para apoiar Bogotá na luta contra o tráfico de entorpecentes. A guerra às drogas de Washington ajudou a enfraquecer as Farc, que perderam vários de seus comandantes nesse período.

As negociações de paz começaram em 2012, após a chegada de Juan Manuel Santos ao poder, substituindo Álvaro Uribe, entusiasta do uso da força para derrotar o grupo. As tratativas ocorreram em Havana, com mediação de Cuba, Noruega e Vaticano, mas avançaram a passos lentos.

A paz só ficou palpável em setembro de 2015, quando Bogotá e a guerrilha entraram em acordo sobre o modelo de justiça que será aplicado àqueles que cometeram crimes durante os anos de conflito. Esse ponto era um dos principais entraves das negociações.

O acordo rendeu a Santos o Prêmio Nobel da Paz em 2016. Estima-se que cerca de 260 mil pessoas tenham morrido em mais de 50 anos de conflitos na Colômbia.

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