Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Guerra entre Irã e Arábia Saudita seria “nitroglicerina pura” no Oriente Médio, diz especialista

Professores acreditam, no entanto, que a chance de um conflito armado ainda é baixa

Internacional|Do R7*

"O que está em jogo é a capacidade desses Estados de exercerem influência", afirma Sidney Leite
"O que está em jogo é a capacidade desses Estados de exercerem influência", afirma Sidney Leite "O que está em jogo é a capacidade desses Estados de exercerem influência", afirma Sidney Leite

A execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr pela Arábia Saudita fez com que a escalada de tensões entre a monarquia da região do Golfo e o Irã se intensificasse a ponto de ambos os países cortarem as relações diplomáticas. No entanto, para os especialistas entrevistados pelo R7, a disputa não deve passar da retórica para um conflito armado.

Ambos os países são referência para as nações islâmicas. O Irã é oficialmente uma república xiita desde a Revolução Iraniana de 1979. Já a Arábia Saudita é uma monarquia sunita.

Sunitas e xiitas vem disputando espaço desde a morte do profeta Maomé, no século 7. As diferenças entre as vertentes envolve aspectos referentes às doutrinas, rituais e aplicações da lei islâmica.

Entenda as diferenças e divergências entre sunitas e xiitas

Publicidade

No entanto, para o pró-reitor acadêmico e professor de Relações Internacionais da Faculdade Belas Artes, Sidney Leite, o viés religioso não deve esconder a questão de fundo: uma disputa pelo poder regional entre ambos os países.

Um primeiro sinal de que as disputas não seriam restritas às duas potências regionais é o anúncio de que o Bahrein iria seguir a medida adotada pela Arábia Saudita romper relações diplomáticas com o Irã na segunda-feira (4). Os Emirados Árabes Unidos também apontaram para uma medida semelhante, tendo convocado seu embaixador no país xiita e afirmado que vão reduzir o número de diplomatas no Estado.

Publicidade

— O que está em jogo é a capacidade desses Estados de exercerem influência. Se a Arábia Saudita é um farol para os países de maioria sunita, o Irã também é referência para os xiitas.

Deste modo, para o especialista, as consequências imediatas do aumento nas tensões entre as nações é a repercussão nos diversos conflitos em curso atualmente no Oriente Médio.

Publicidade

Após execução de clérigo xiita, oposição alemã apela a Merkel para romper aliança com Arábia Saudita

No Iêmen, os rebeldes houthis, de credo xiita, estão sendo combatidos por uma coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita, da qual os EUA participam. Já na guerra civil síria, a Arábia Saudita apoia os rebeldes contra o governo de Bashar al Assad, enquanto o Irã tem interesse que o ditador permaneça no poder.

— Essa disputa tem desdobramentos no sistema internacional como um todo. Mais cedo ou mais tarde, a Rússia e vai se posicionar, provavelmente a favor do Irã. Já os Estados Unidos têm uma situação delicada, porque a Arábia Saudita é uma aliada histórica do país na região, mas, por outro lado, o governo Obama tem tentado retomar as relações com o Irã.

Conforme as previsões de Sidney, também na segunda-feira, o governo norte-americano fez um pedido para que Arábia Saudita e Irã “mostrem moderação” na atual crise diplomática. O porta-voz da Casa Branca afirmou que os EUA "continuam preocupados com a necessidade de iranianos e sauditas reduzirem as tensões”.

Outro fator relevante que faz com que uma guerra armada entre Irã e Arábia Saudita seja improvável é a economia. Ambos os países são dois dos três principais exportadores de petróleo do mundo. Este ano, os preços do barril caíram vertiginosamente, o que afetou profundamente as rendas de ambas as nações.

Rei Salman vem tentando recuperar a imagem da Arábia Saudita com a comunidade internacional
Rei Salman vem tentando recuperar a imagem da Arábia Saudita com a comunidade internacional Rei Salman vem tentando recuperar a imagem da Arábia Saudita com a comunidade internacional

Uma eventual guerra armada entre ambos causaria graves danos aos campos de exploração de petróleo, assim como na guerra entre o Irã e o Iraque nos anos 1980, que deixou os envolvidos no conflito em dificuldades econômicas graves.

Por que a crise entre Irã e Arábia Saudita é a mais perigosa em décadas

— Uma guerra entre Arábia Saudita e Irã seria desastrosa. Todos os recursos ficariam voltados para o conflito, que devastaria a economia de ambos os países. Seria nitroglicerina pura no ar em um cenário já conturbado.

Professor de Relações Internacionais da ESPM, Guilherme Casarões também acredita que a chance de um conflito armado entre os países é baixa. No entanto, o especialista diz que devem haver tensões mais graves no Iêmen, já que ambos estão presentes militarmente no país: o Irã com assessores da Guarda Revolucionária e a Arábia Saudita liderando a coalizão contra os rebeldes xiitas houthis.

Deste modo, para Casarões, a crise “não tem razões para terminar tão cedo”.

Protestos contra execuções na Arábia Saudita reúnem mais de mil pessoas no Irã

— Se o barril do petróleo acompanhar o aumento das tensões, a economia de ambos os países vai acabar se beneficiando. O mercado de petróleo nos últimos dias está volátil, mas a expectativa é que os preços aumentem com as tensões.

Do lado da Arábia Saudita, Casarões diz que o conflito pode ser encarado como uma oportunidade para a monarquia recuperar seu prestígio no cenário internacional, abalado após revelações recentes de similaridades entre a ideologia wahhabista, predominante no país, e as ideias extremistas de grupos jihadistas como o Estado Islâmico. O próprio aiatolá (líder supremo) do Irã usou sua conta no Twitter para reforçar as semelhanças entre os terroristas e os sauditas.

Ideologia wahhabista foi comparada com a de grupos extremistas como o Estado Islâmico
Ideologia wahhabista foi comparada com a de grupos extremistas como o Estado Islâmico Ideologia wahhabista foi comparada com a de grupos extremistas como o Estado Islâmico

Casarões lembra que o anúncio da formação de uma coalizão de países árabes contra o terrorismo liderada pela Arábia Saudita está relacionada a essa tentativa por parte do ditador do país, o Rei Salman, de recuperar a imagem da monarquia do Golfo.

— O que acontece na realidade é que, com essa briga com o Irã, a Arábia Saudita pode estar tentando tirar o foco dessa relação deles com o Estado Islâmico. Eles sabem que precisam de apoio internacional para continuar fazendo o que fazem no Oriente Médio. Mas enquanto eles não se comprometerem de maneira direta na luta contra os terroristas, a imagem do país vai continuar ruim. 

Sunitas e xiitas

Após a morte do profeta Maomé em 632 d.C., duas correntes passaram a disputar politicamente e religiosamente o mundo islâmico: sunitas e xiitas.

Os sunitas, que hoje representam quase 90% dos muçulmanos, se consideram os legítimos sucessores de Maomé e se caracterizam por seguir o Suna, livro que compila os grandes feitos do profeta — fato que teria originado seu nome: sunita. O país considerado o guardião desta corrente é a Arábia Saudita.

Os xiitas defendem que a sucessão do profeta deveria ser seguida somente pelos seus descendentes consanguíneos e por isso são considerados mais tradicionalistas. O grupo também se caracteriza por darem destaque às antigas interpretações do Alcorão e da Sharia, conhecida como lei islâmica. O Irã é hoje a maior nação xiita do mundo. 

*Texto e apuração: Luis Felipe Segura

Conheça o R7 Play e assista a todos os programas da Record na íntegra!

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.