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Jovens que perderam namorados se unem após tragédia: "um entendia a tristeza do outro"

Incêndio matou 242 pessoas no dia 27 de janeiro; sobreviventes passam por tratamento

Retrospectiva 2013|Sylvia Albuquerque, do R7

A jovem Tatiele Arrial ainda busca forças para superar a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), quase um ano após o incêndio que matou 242 pessoas. Internada mais de sete vezes desde então, ela encontrou em um novo amor um pouco de compreensão em meio a tanta tristeza. Para ela, isso só foi possível porque os dois compartilham a mesma história: perderam os namorados no fatídico 27 de janeiro de 2012.

A sobrevivente conta que foi até a boate com amigos e depois encontrou com o então namorado, Marton Matana, e outro colega, por volta das 3h. Ela descreve que a casa estava cheia, tinha empurra-empurra, mal era possível caminhar. Marton pediu que ela esperasse por ele em um ponto, enquanto se despedia do grupo que o acompanhava. Ele deu um beijo na jovem, disse que a amava e que voltaria logo. Foram as últimas palavras.

Às 3h15, começaram os gritos e a correria. Quando a fumaça começou a se espalhar, Tatiele foi retirada da boate, mas não conseguiu encontrar o namorado.

— Fiquei por duas horas gritando o nome do Marton e do amigo dele lá na frente, no meio da fumaça, vendo as pessoas morrer nos meus pés, tendo convulsões. Nunca mais os vi. Eles morreram. Às 5h, os bombeiros avisaram que ninguém mais estava com vida dentro da Kiss. Fui levada ao hospital.


Após a primeira internação, o alívio de estar viva. Mas doenças como depressão pós-traumática, síndrome do pânico, anorexia, infecções, pneumonias e inflamações após o incêndio fizeram com que a rotina dela ficasse dividida entre o hospital e a casa. Ela perdeu 15 kg e, só agora, começa a se recuperar.

Sobreviventes formaram no Facebook um grupo dos que perderam os namorados na tragédia. Lá, Tatiele conheceu Allan Ramos.


— Eu e ele ficamos muito amigos, por bastante tempo. Nos entendíamos, passávamos a maior parte do tempo conversando sobre nossos ex-namorados que perdemos, um entendia a tristeza do outro e nos cuidávamos. Hoje em dia, eu sofro muito com as sequelas e, graças a ele, não são piores. São psicológicas. Não tive queimaduras, mas desenvolvi várias doenças e ele está sempre ao meu lado.

Veja a cobertura completa da tragédia na boate Kiss


STJ decide manter soltos acusados pelo incêndio na boate Kiss

Tatiele cursava Farmácia na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), mas não conseguiu retornar ao curso e ao trabalho. Ela pretende prestar vestibular neste ano para Terapia Ocupacional. Assim como outros sobreviventes, ela reclama da falta de apoio por parte do poder público para o tratamento e da impunidade em relação ao processo.

Incêndio

O incêndio dentro da boate Kiss no centro de Santa Maria, cidade a 290 km da capital, Porto Alegre, aconteceu na madrugada de 27 de janeiro.

O fogo começou porque, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, um dos integrantes acendeu um artefato pirotécnico — uma espécie de fogo de artifício chamado "sputnik" — que, ao ser lançado, atingiu a espuma do isolamento acústico, no teto da boate. As chamas se espalharam em poucos minutos.

A casa noturna estava cheia na hora em que o fogo começou, com cerca de mil pessoas. O incêndio provocou pânico e muitas pessoas não conseguiram acessar a saída de emergência. Os donos não tinham qualquer autorização do Corpo de Bombeiros para organizar um show pirotécnico na casa noturna. O alvará da boate estava vencido desde agosto de 2012, afirmou o Corpo de Bombeiros.

Dois músicos e dois donos da casa noturna chegaram a ser presos, mas respondem ao processo em liberdade. No mês passado, a Justiça determinou a limpeza e descontaminação da boate para avaliar se é possível realizar uma reconstituição do incêndio. A boate ainda está lacrada com tapumes. A Brigada Militar disponibiliza ao menos um policial para fazer a segurança na boate 24 horas por dia para preservar o local até que a Justiça determine a liberação.

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