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Quarto dia do júri do Massacre do Carandiru começa à tarde com último interrogatório

Terceiro dia foi marcado por interrogatório dos réus; maioria ficou em silêncio

São Paulo|Do R7, com Rede Record

Presos na Casa de Detenção do Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte de SP, três dias após o massacre
Presos na Casa de Detenção do Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte de SP, três dias após o massacre Presos na Casa de Detenção do Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte de SP, três dias após o massacre (ITAMAR MIRANDA)

O quarto dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados de participação na morte de 73 presos no episódio conhecido como massacre do Carandiru está previsto para recomeçar às 13h desta quinta-feira (1º) com o último interrogatório do último réu, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que em 1992 era tenente das Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).

Na sequência, está prevista a leitura de peças do processo e exibição de vídeos sobre o caso. De acordo com a assessoria de imprensa do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o julgamento deve terminar nesta sexta-feira (2) com a fase de debates entre acusação e defesa e a sentença.

Terceiro dia

O terceiro dia do júri começou com atraso, por volta das 11h50 desta quarta-feira (31) — estava previsto para começar às 9h — e terminou às 2h30 da madrugada desta quinta-feira, depois de 15 horas de julgamento. Para este dia foi programado o interrogatório dos réus, 25 PMs acusados da morte de 73 presos no terceiro pavimento da casa de detenção, na invasão pela Tropa de Choque em outubro de 1992. Em uma estratégia da defesa, a maioria optou pelo direito de ficar em silêncio.

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Coronel da PM relembra preso sem cabeça e fala em “medo de tomar tiro”

Só quatro oficiais responderam às perguntas. O último a ser ouvido, de madrugada, foi o tenente Edson Pereira Campos, que era soldado. Ele disse que a tropa entrou em confronto com os presos e que deu apenas um tiro. 

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— Meu escudo foi atingido por um projétil, mas o equipamento evitou que os PMs fossem atingidos.

Ele disse também que não se lembrava de muita coisa e não confirmou informações dadas em depoimentos anteriores. Antes dele, foi ouvido o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos. Ele negou a morte dos presos.

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— È humanamente impossível matar 73 pessoas em 15 minutos de operação. Não sei por que estamos sendo acusados disso.

Mais cedo, o major Marcelo Gonzales Marques também disse que os presos atiraram contra os policiais. Ele disse ainda que não houve tiros disparados em direção as celas. Em seu interrogatório, o major contou que, logo no pátio da Casa de Detenção, os policiais foram recebidos com os presos atirando objetos neles, como “máquinas de escrever, vasos sanitários, e sacos com urinas, além de armas brancas”. Segundo ele, porém, não houve embate entre os presos no pátio. Logo depois, eles entraram no pavilhão nove da Casa de Detenção. 

— Vi presos feridos já na primeira barricada, no acesso às escadas por onde subiríamos ao segundo andar do pavilhão. Eles estavam sangrando.

Segundo o PM, desse local, ele conseguia ouvir disparo de arma de fogo de dentro do pavilhão. O major contou que no 3º pavimento houve confrontos os presos e os PMs. Ele afirmou ter certeza de que, nos embates, os presos usaram armas de fogo porque conseguia ver clarão dos tiros. 

Antes dele, foi ouvido o coronel Valter Alves Mendonça que liderou metade do batalhão na invasão. Ele disse que cumpriu ordens dos comandantes da operação e que, ao entrarem no Carandiru, os PMs reagiram depois de serem atacados pelos detentos.

— Ingressei no segundo andar, vi clarões, ouvi estampidos. Senti o impacto no meu escudo. Um colega meu caiu ferido. Efetuei três disparos.

Segundo dia

No segundo dia do júri, os jurados ouviram no plenário o ex-secretário de Segurança Pedro Franco de Campos e o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho. Além deles, mais duas testemunhas protegidas prestaram depoimento.

A defesa ainda exibiu dois vídeos com depoimentos dos desembargadores Luiz San Juan França e Ivo de Almeida. França era juiz da Vara das Execuções Criminais da Capital em 1992, ano em que 111 detentos da então Casa de Detenção de São Paulo foram mortos após a entrada da Tropa de Choque da Polícia Militar para conter uma rebelião na unidade prisional. Já Almeida era corregedor dos Presídios da Capital na época dos fatos.

Primeiro dia

primeiro dia foi marcado pela dispensa de sete das oito testemunhas da acusação. Apenas o perito criminal Osvaldo Negrini foi interrogado. Ele disse ter visto um “mar de cadáveres” e presenciado um “rio de sangue” ao chegar à Casa de Detenção no dia 2 de outubro de 1992. O depoimento de Negrini começou por volta das 14h10 e terminou pouco depois das 16h30.

Relembre o caso

O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no Pavilhão 9. Com a confusão, a Tropa de Choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta. A ação deixou 111 mortos. Ao todo, 286 policiais militares entraram no Complexo Penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses 84 foram acusados de homicídio.

Em abril de 2013, 26 policiais militares foram levados ao banco dos réus pela morte de 15 detentos no segundo pavimento do pavilhão nove no massacre do Carandiru. Após sete dias de julgamento, a maioria foi condenada por homicídio qualificado — com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Naquela ocasião, seis homens e uma mulher formaram o Conselho de Sentença.

Dos 26 policiais, 23 foram condenados a 156 anos de prisão, inicialmente, em regime fechado. Os réus receberam a pena mínima de 12 anos por cada uma das mortes dos 13 detentos. Os condenados poderão recorrer em liberdade. Outros três PMs foram absolvidos pelo júri, que acatou o pedido feito pela acusação.

Antes deles, Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém, um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia.

Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos Jardins. A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida.

Dezessete testemunhas foram convocadas. Onze de acusação e seis de defesa. Do total, 12 eram aguardadas no tribunal, enquanto as outras cinco teriam vídeos dos seus depoimentos apresentados no plenário. 

Assista ao vídeo:

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