Brasil passa a ter ‘ferramenta mais avançada do mundo’ para monitorar gastos com o clima

O governo federal lançou uma ferramenta inédita capaz de rastrear as despesas nas áreas de mudança climática, biodiversidade e gestão de riscos e desastres. As informações compreendem o período de 2010 a 2023 e permitem classificar os gastos tanto pelo impacto positivo quanto negativo nas metas climáticas do país. No eixo de “desastres”, os investimentos têm crescido devido à maior frequência de eventos extremos.

O professor e pesquisador de clima e transição verde da FGV, Daniel Vargas, comentou em entrevista ao Conexão Record News desta quarta (10) que acredita que existem inúmeros benefícios na iniciativa. Ele elogiou a transparência com o gasto público e a possibilidade de agora a população poder apreciar um monitoramento mais detalhado sobre os gastos com clima. “Não há política climática verdadeira se ela não for amparada em um conjunto de números organizados que permita avaliar ao longo do tempo os gastos e os seus efeitos. Isso vale para clima, para biodiversidade e vale cada vez mais para gestão e análise de risco, que são os três conjuntos de informações que a plataforma contempla”, afirma.

Vargas, entretanto, recorda que a partir do momento em que se dá essa transparência, também é feito um convite para que os gastos sejam monitorados com cuidado pelo povo e isso pode gerar cobranças relacionadas à situação de cada um. “Porque aqui na minha região tem mais investimentos do que na outra? Esse questionamento vai exigir das lideranças respostas com justificativas mais robustas e com argumentos convincentes”. Mas o especialista vê nestas futuras discussões um passo importante para o país poder tratar a agenda climática com mais responsabilidade e resultado.

Ele destaca como debates relacionados ao assunto têm ganhado cada vez mais espaço pelo mundo, pois para inserir de fato o clima em políticas governamentais, é necessário mostrar que ele faz parte do orçamento do governo e o Brasil é um dos pioneiros neste tipo de modelo, um fato que ocorreu por coincidência justo no ano da COP 30. “Há um debate que agora tem avançado muito, [...] sobre como exatamente categorizar os recursos destinados ao clima. O que exige a construção de critérios e a partir daí organizar essa plataforma que nos permita ver o sistema em andamento. Aliás, é importante dizer que essa iniciativa brasileira é hoje talvez a mais avançada do mundo”.

Vargas acredita que agora é necessário interpretar os dados para classificar os gastos desse período de 13 anos entre prejuízo e benefício. Ele também enxerga que o problema não será resolvido sem uma iniciativa que queira testar, avançar e evoluir tais medidas protetoras do meio-ambiente. “O primeiro passo foi dado. A partir daqui é uma tendência que essa plataforma seja discutida e que críticas sejam feitas, mas o sistema vai evoluindo ao longo do tempo.”

O professor menciona que hoje “o clima não é mais uma bandeira, um assunto técnico de especialistas”, mas sim um elemento central da vida no planeta. Por isso que ele lembra mais uma vez da importância da ferramenta para aumentar a compreensão da população sobre o que de fato está sendo feito e a partir daí abrir espaço para discussões sobre os métodos para avançar com estas políticas.

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