Semana da CPI tem embate sobre cloroquina e 'gabinete paralelo'
Cúpula da CPI viu indícios de interferência no Ministério da Saúde após depoimentos das médicas Luana Araújo e Nise Yamaguchi
Brasil|Gabriel Croquer, do R7
A quinta semana da CPI da Covid foi marcada por versões diametralmente opostas sobre a eficácia dos medicamentos do kit covid equestionamentos sobre o suposto "gabinete paralelo" no Ministério da Saúde, apontado por senadores oposicionistas e independentes como o responsável por interferências na gestão pasta durante o combate à pandemia.
Na terça-feira (1º), a médica Nise Yamaguchi compareceu à CPI como convidada. Como fez desde o início da pandemia, a oncologista voltou a defender a eficácia do kit covid para o coronavírus – que ainda não foi comprovado cientificamente – e negou participar de qualquer comando paralelo na Saúde.
No entanto, Yamaguchi admitiu que participou da reunião interministerial onde houve a proposta de decreto para facilitar o acesso da cloroquina à população, negando ter sido a responsável pela ideia. A médica até enviou documento com suas conversas sobre o decreto aos senadores para tentar rebater a acusação.
Essa versão contra a médica surgiu após os depoimentos à CPI do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres e do ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que confirmaram a reunião e fortaleceram a tese de que o ministério contava com um comando paralelo durante a pandemia.
Já a infectologista Luana Araújo, que teve sua nomeação para secretaria extraordinária no Ministério da Saúde cancelada dez dias depois de ser anunciada para o cargo, classificou a discussão para defender os medicamentos do kit covid de "delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente".
Ela falou aos senadores na quarta-feira (2), e atacou a defesa do tratamento precoce diversas vezes durante seu depoimento. A médica também relatou que o veto à sua contratação não foi explicado pelo ministro Marcelo Queiroga, mas que o veto veio por ordem da Casa Civil, diretamente ligada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para o vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues, o depoimento deu mais indícios da interferência do "gabinete paralelo".
"As afirmações dela dão conta de que no momento da dispensa foi pesaroso para o senhor ministro da Saúde e para ela. No primeiro momento do depoimento ela foi clara que o veto veio da Casa Civil. Qual é a razão para vetar, no meio de uma pandemia, um quadro da natureza, da qualidade, da doutora Luana?", questionou.
O senador Renan Calheiros, relator da CPI, concordou com o parlamentar. "Ficou cristalina, mais uma vez, a falta de autonomia do ministério e do ministro da Saúde, tanto na formação de suas equipes, quanto no estabelecimento de políticas públicas de saúde", reforçou.
Na semana que vem, o Ministério da Saúde continuará no foco da CPI. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga voltará a depor após pouco mais de um mês na terça-feira (8), seguido do ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, na quarta-feira (9) e do governador do estado do Amazonas, Wilson Lima (PSC), na quinta-feira (10). Na sexta-feira (11), haverá um debate com médicos e cientistas na CPI.
Na semana seguinte, quatro nomes prestarão depoimentos: o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo (dia 15), o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (dia 16), o empresário Carlos Wizard (dia 17) e o representante da White Martins, Paulo Baraúna (dia 19).