Autoridades e associações repercutiram a fala do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, sobre a forma que a polícia lida com as prisões. Na quarta-feira (19), o chefe da pasta disse que o Judiciário é obrigado a soltar detentos quando a “polícia prende mal”. A declaração, considerada polêmica, tem gerado críticas de políticos, especialmente de deputados federais da “bancada da bala” — formada por políticos ligados às forças policiais.Em contrapartida, algumas associações ligadas ao judiciário defenderam o ministro. Na ocasião, Lewandowski defendia a PEC da Segurança Pública, quando disse as prisões são feitas de forma errada. “É um jargão que foi adotado pela população, que a polícia prende, e o Judiciário solta. Eu vou dizer o seguinte: a polícia prende mal, e o Judiciário é obrigado a soltar”, afirmou. O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, afirmou que a fala é “extremamente” preocupante e prejudica a relação geral do governo com o Congresso. Segundo Bilynskyj, foi apresentado um requerimento de convocação do ministro, que vai ser pautado na próxima terça na Comissão.“É um péssimo indicativo para um governo em derrocada, com falta de popularidade, economia (ruim) e segurança. Se ele fala isso, governo está condenado a ter índice da aprovação cada vez mais baixo. Ele desagradou todos os policiais do Brasil de uma vez só. A polícia está acostumada a ser criticada de forma pontual”, disse.Os deputados Ubiratan Sanderson (PL-RS), vice-líder da oposição, e Sargento Fahur (PSD-PR) também criticaram a fala. Nas redes sociais, Fahur pediu respeito a categoria e argumentou que os “policiais prendem e a Justiça solta”. Já Sanderson, disse que o governo Lula também está perdido no tema segurança pública.“Colocar a culpa nos policiais é muita covardia. O aumento da violência é consequência da mentalidade da esquerda, que atua na contramão do combate ao crime, passando a mão na cabeça de bandidos e desvalorizando o trabalho das forças de segurança. Ele será convocado na Comissão de Segurança para explicar essa fala absurda e covarde contra nossos valorosos profissionais de polícia”, escreveu Sanderson.O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) citou a redução de investimentos na segurança e criticou a concessão de saídas temporárias. “É um pensamento totalmente distorcido sobre os profissionais da segurança pública. O problema da impunidade não está na polícia, mas na retirada de investimentos para a segurança do cidadão de bem e na concessão de regalias a criminosos, como benefícios esdrúxulos e a famigerada saída temporária”, escreveu.“Essa fala só demonstra que o ministro está ocupando a pasta errada, pois revela o seu desconhecimento sobre a Segurança Pública”, disse o secretário de Segurança Pública de Minas Gerais, Rogério Greco.O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, disse que o ministro poderia ter reconhecido que existem problemas de ordem legal e no sistema jurídico brasileiro. “Acho que o ministro não foi feliz com esta declaração. Ele poderia reconhecer que o problema é de ordem legal ou do nosso sistema jurídico e não imputar toda responsabilidade a uma única instituição. Na posição dele, uma declaração dessa gera impacto na credibilidade das forças policiais, que merecem todo o nosso apoio e respeito”, disse. Delegados de Polícia Federal se disseram “indignados” com as declarações do ministro. Em nota divulgada nesta quinta-feira (20), a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, maior entidade da classe, disse que “críticas públicas não respaldadas em evidências e dados concretos enfraquecem o esforço conjunto de enfrentamento à criminalidade”.“Só é possível falar em prisão ‘mal realizada’ quando se detecta alguma ilegalidade, e certamente essa não é a realidade diuturna das audiências de custódia realizadas no Brasil”, diz a manifestação dos delegados.Em nota conjunta, seis associações policiais repudiaram a fala do ministro e afirmaram que a declaração é “lamentável” e “desprovida de embasamento”.“Além de desprovidas de embasamento e mínima capacidade empírica, tais declarações apenas constatam que, de forma inaudita, o Brasil tem um Ministro da Justiça e Segurança Pública absolutamente alheio e desconhecedor da realidade institucional das forças policiais, desqualificado para o tema de segurança pública, totalmente indiferente às prioridades de enfrentamento à criminalidade e tragicamente incapaz de compreender a dinâmica do trabalho das instituições policiais brasileiras”, diz o texto.O documento foi assinado pela Federação Nacional das Entidades Militares Estaduais, Associação Nacional das Entidades Representativas dos Militares Brasileiros, Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil e Associação Nacional dos Militares Estaduais.Apesar das críticas, as associações dos Magistrados Brasileiros e dos Juízes Federais do Brasil entraram em defesa do ministro. No texto, as entidades destacaram que a fala de Lewandowski expõe um “fato verdadeiro” e que os juízes do país cumprem “com rigor e responsabilidade” a legislação. “Em recentes declarações, apenas expôs um fato verdadeiro: o Poder Judiciário, por determinação constitucional, relaxa prisões quando realizadas em desacordo com o ordenamento jurídico. Os juízes do país têm cumprido, com rigor e responsabilidade, o que determina a legislação vigente. Caso esta não mais reflita os anseios da sociedade, a via adequada para a mudança é a alteração legislativa, por meio do debate democrático no Congresso Nacional”, diz a nota. As associações também elogiaram a atuação do ministro, que, para eles, “tem atuado de forma responsável ao chamar a atenção para questões cruciais da segurança pública”. Na quarta-feira (19), o chefe da pasta disse que o Judiciário é obrigado a soltar detentos que tiveram suas prisões conduzidas de forma errada pela polícia. “É um jargão que foi adotado pela população, que a polícia prende, e o Judiciário solta. Eu vou dizer o seguinte: a polícia prende mal, e o Judiciário é obrigado a soltar”, disse na ocasião.A fala ocorreu durante a abertura da reunião do Conselho Deliberativo da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, em Brasília. Na ocasião, Lewandowski afirmou, ainda, que para manter qualquer suspeito preso é necessário que a polícia elabore melhor documentos com provas, e segundo ele, de forma mais técnica.Ao se justificar, o ministro disse que sua expressão foi “pinçada fora do contexto” e que a polícia brasileira é “altamente eficiente e preparada”. Lewandowski comentou que as polícias devem ser melhor remuneradas e equipadas para que possam prender “melhor” e evitar correções do judiciário sobre prisões que foram feitas fora dos padrões estabelecidos pela lei.“Eu estava defendendo a PEC, a troca de informações, e quero ressaltar agora, publicamente, que nós temos uma polícia brasileira altamente eficiente e preparada. Disse naquela ocasião, e a minha expressão foi pinçada fora do contexto, que as polícias devem ser melhor remuneradas, melhor equipadas, precisam ser melhor informadas para que possam prender melhor e para que não haja esse fenômeno do judiciário, de eventualmente ter que corrigir erros de prisões que não foram feitas de acordo com a lei”, explicou.