Bolsonaro com ação restrita: ex-presidente pode ficar isolado politicamente?
Após mais uma ação de Alexandre de Moraes contra a família Bolsonaro, há tendência de reorganização da direita, dizem analistas
Brasília|Do R7, em Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tornou-se alvo, na sexta-feira (18), de uma nova operação da Polícia Federal. Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele no âmbito de uma investigação por coação e condutas consideradas lesivas à soberania nacional.
Especialistas ouvidos pelo R7 avaliam que a ofensiva aprofunda o desgaste político do ex-presidente e enfraquece sua capacidade de articulação na direita brasileira, podendo acelerar a reorganização de forças do campo conservador.
Segundo o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, os efeitos podem ser duradouros.
“No curto e médio prazo, Bolsonaro está politicamente esvaziado. Ele manterá um grupo fiel, mas cada vez mais isolado e sem influência nas principais decisões nacionais”, analisou.
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A Polícia Federal apreendeu cerca de US$ 14 mil (R$ 78 mil, na cotação atual) e R$ 8.000 em espécie na casa do ex-presidente. Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro colocou tornozeleira eletrônica.
Ele também vai ter que cumprir toque de recolher entre 19h e 6h de segunda a sexta. Além disso, não pode sair de casa nos fins de semana. Bolsonaro ainda está proibido de manter contato com embaixadores e outros réus do processo e de acessar redes sociais.
Fidelidade e rearrumação da direita
Para o cientista político e advogado Nauê Bernardo, o episódio aprofunda o isolamento político de Bolsonaro, mas reforça uma retórica de vitimização entre seus apoiadores.
“Não vejo enfraquecimento da narrativa de perseguição judicial. A polarização está cristalizada. Os apoiadores permanecem firmes, o desafio é saber quantos ainda são mobilizáveis por essa retórica”, disse.
Bernardo também aponta que a ofensiva da PF pode impulsionar uma nova configuração na direita. “A depender da reação de empresários e da continuidade das investigações, pode haver aceleração na busca por uma nova liderança. A conduta da família Bolsonaro pode catalisar esse processo”, analisa.
O cientista político Paulo Ramirez, professor da ESPM, também vê dificuldade em novas alianças políticas em relação ao bolsonarismo, mas não em relação à direita. “É um grande prejuízo à direita, mas claro que uma porcentagem considerável vai se manter fiel ao bolsonarismo”, lembra.
Segundo ele, esse grupo deve defender a pauta de perseguição. “Grupos de centro tendem a se afastar. Os eleitores mais fiéis vão defender a narrativa de perseguição. Inclusive retomando pautas passadas, de que Lula foi absolvido com a tese de vistas grossas da Justiça, enquanto com o Bolsonaro, não”.
O cientista político André César, porém, acredita que a decisão de Moraes representa um ponto de inflexão. “Moraes deu um passo firme, com embasamento jurídico consistente. É uma medida de difícil reversão, com base em indícios sólidos”, afirmou.
A fragmentação da direita, segundo o analista, tende a se acentuar. “Tarcísio [governador de São Paulo], Zema [governador de Minas Gerais] e Caiado [governador de Goiás] não se entendem nem internamente. Não há, agora, uma liderança capaz de aglutinar esse campo ideológico”, disse.
Bolsonaro se diz humilhado
Em diferentes entrevistas concedidas à imprensa no dia que colocou a tornozeleira, Bolsonaro afirmou que seria alvo de uma “caça às bruxas” pela Justiça brasileira, alegando que a operação da PF teria como objetivo final a sua “eliminação”.
“Eles não querem a minha prisão, eles querem a minha eliminação. Eu sou um problema para eles”, disse.
Ele afirmou que se sente “humilhado” com a ação da Polícia Federal e que não pretendia fugir do país, como alegou a PGR (Procuradoria-Geral da República) ao defender que Bolsonaro colocasse tornozeleira eletrônica.
A defesa do ex-presidente afirmou que as medidas cautelares impostas a Bolsonaro são uma “circunstância inédita no direito brasileiro” e que as “frases destacadas como atentatórias à soberania nacional” jamais foram ditas por Bolsonaro.
“E não parece ser justo ou mesmo razoável que o envio de dinheiro para seu filho, nora e netos possa constituir motivo para impor medidas cautelares como estas, especialmente porque feito muito antes dos fatos ora sob investigação”, diz a defesa.
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