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Cidades do Xingu, no Pará, têm a mesma média de pequenas empresas por habitante do que SP

Polo Xingu é formado por 10 cidades e tem uma pequena empresa a cada 23 habitantes; empreendimentos sustentáveis se destacam

Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

Geisiane produz tijolos a partir de restos de açaí
Geisiane produz tijolos a partir de restos de açaí

Os 10 municípios que fazem parte do Polo Xingu (PA) — Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu — têm, em média, uma pequena empresa a cada 23 habitantes, mesma proporção que todo o estado de São Paulo. O levantamento foi feito pelo R7, a partir do cruzamento de dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado nacional é de uma pequena empresa a cada 10 habitantes.

Foram consideradas pequenas empresas os microempreendedores individuais (MEI), as microempresas (ME) e as empresas de pequeno porte (EPP). Confira as definições na galeria abaixo. 

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A gerente do Sebrae na região do Xingu Priscilla Souza Oliveira explica que os resultados da região, apesar de positivos, explicitam as carências dos moradores. "A quantidade de empresas reflete o empreendedorismo por necessidade. Sem trabalho, as pessoas encontram no empreendedorismo uma alternativa para arcar com os custos prioritários de sobrevivência", aponta. "Outra causa é o fato da região ter como atividade principal a agropecuária, que também é contabilizada como microempresa", acrescenta. 

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De acordo com Priscilla, a maior parte dos empreendedores que atuam no Xingu são de fora da região. Para ela, alguns dos fatores contribuem para a alta taxa de empreendedorismo no local estão ligados ao turismo e à produção agrícola.


O produtor rural é considerado como pequena empresa e%2C por ser uma região com grande potencial para a produção agropecuária%2C com destaque para a criação de gado bovino e cultivo de culturas como milho%2C arroz%2C feijão e cacau%2C o Xingu concentra muito esse segmento. O cacau%2C por exemplo%2C é bastante relevante para a economia local%2C pois adota práticas agroflorestais%2C que visam conciliar a produção agrícola%2C geração de renda e preservação ambiental. A região também possui extensas áreas de floresta amazônica%2C o que favorece o extrativismo de produtos como castanha-do-pará%2C açaí e óleos vegetais. O turismo tem se desenvolvido na região%2C principalmente relacionado ao ecoturismo e turismo de aventura%2C devido à rica biodiversidade%2C rios e belezas naturais.

(Priscilla Souza Oliveira, gerente do Sebrae na região do Xingu)

O fato de estar na região amazônica serve de inspiração para que os empreendedores do Xingu se voltem à sustentabilidade. É o caso do marceneiro Kennedy Rocha, morador de Altamira (PA), que usa troncos de árvores para produzir relógios, abridores de garrafa, mesas e tábuas de churrasco. "Eu via muito desperdício de madeira aqui onde eu moro. Notei que dava para reaproveitar essas madeiras para trabalhos artesanais."

A princípio, o ofício começou como divertimento, em 2020. No ano passado, ele percebeu que a atividade poderia lhe render uma renda extra por mês. "Para valer, começou em 2022. Foi quando resolvi transformar o hobby em profissão", relembra. A equipe do marceneiro é composta por ele e mais uma colega.


Marceneiro Kennedy chega a produzir 30 tábuas por mês e cerca de dez mesas pequenas
Marceneiro Kennedy chega a produzir 30 tábuas por mês e cerca de dez mesas pequenas

"As tábuas de churrasco são as mais procuradas, porque a gente faz personalizadas", afirma Kennedy, que chega a produzir 30 tábuas por mês e cerca de dez mesas pequenas. Apesar da demanda, o empreendedor garante que o projeto está na fase inicial. "Ainda somos pouco conhecidos. Estamos expandindo agora a produção."

A equipe coleta árvores mortas pela região, mas conta com parceria com outros setores. "A gente também recolhe peças em pastos de agricultores, o que os ajuda na limpeza para o manejo do gado", explica Kennedy.

Sabão nascido do óleo

Assim como o marceneiro, Silviane Silva viu em objetos descartados a oportunidade de gerar renda extra e contribuir para a preservação do meio ambiente. A vigilante de escola pública em Altamira (PA) comanda o projeto Bolhas do Xingu, que produz sabão a partir de óleo de cozinha usado.

Criadoras do Bolhas do Xingu
Criadoras do Bolhas do Xingu

A iniciativa começou em agosto do ano passado e contou com o apoio das oficinas do Belo Monte Empreende, financiado pela usina hidrelétrica de Belo Monte, em parceria com o Centro de Empreendimento da Amazônia e o Sebrae.

"Tínhamos o objetivo de fazer um projeto que pudesse trabalhar com sustentabilidade e melhorar necessidades", conta Silviane, que tem como parceiras duas amigas. "[A ideia veio] justo quando passamos por vários problemas, de vizinhos e parentes reclamando dos entupimentos das caixas de gordura. [A gordura] voltava pelo esgoto do banheiro e entupia tudo", relembra.

A cada 5L de óleo, o Bolhas do Xingu produz de 50L a 60L de sabão líquido e 5kg de sabão em barra. As criadoras da iniciativa participaram de seis oficinas do Belo Monte Empreende em agosto do ano passado. O envolvimento originou a estruturação oficial do projeto. "Até então, não sabíamos como ajudar — a princípio a nós mesmas. Foram várias etapas, desde criar o projeto e nomeá-lo até a inserir a questão da sustentabilidade", relembra Silviane. Atualmente, o Bolhas do Xingu conta com cerca de 60 pontos de coleta.

Fazemos o cadastro%2C com endereço e dados básicos. Passamos nas casas%2C deixamos os recipientes [garrafas PET] identificados para a coleta e marcamos uma data para retornar e pegar o óleo. Geralmente%2C leva de 30 a 40 dias. Temos pontos de coleta em comércios%2C aí%2C nesses locais%2C passamos semanalmente. O morador ou comerciante pode escolher entre uma barra de 300g ou 1L de sabão líquido a cada 2L de óleo recolhido. Eles sempre ganham%2C para incentivá-los a não jogar o óleo fora.

(Silviane Silva, integrante do projeto Bolhas do Xingu)

Silviane não esconde a satisfação que a iniciativa tem trazido, apesar do pouco tempo. "Tem sido muito bacana e prazeroso. Conversamos e conhecemos mais pessoas no nosso bairro, além do fato de estar ajudando. Temos visto que as denúncias e reclamações de entupimento [em caixas de gordura] têm caído conforme as pessoas vão aceitando o projeto", finaliza a empreendedora. 

Tijolos de açaí

Outra participante das oficinas da Belo Monte Empreende que também tem visto o empreendimento crescer é a técnica em administração e pedagoga Geisiane Ferreira, moradora de Altamira. A partir de bagaços de açaí, ela, que toca o projeto sozinha, produz tijolos sustentáveis.

O Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados (SindFrutas) estima que 95% do açaí consumido no Brasil seja produzido no Pará. Geisiane conta com a fartura na região em que mora para tocar o projeto: a empreendedora recolhe os restos da fruta nas calçadas de Altamira.

Geisiane toca o projeto sozinha
Geisiane toca o projeto sozinha

"Quando tudo começou, ouvi pessoas rindo e dizendo que eu estava doida e que isso não daria certo. Hoje, estou aqui, firme com minha ideia de negócio e mostrando que, quando nos esforçamos e com apoio, podemos, sim, mudar o mundo ao nosso redor", declara.

Depois de recolhidos, os bagaços de açaí passam por um processo de secagem ao sol. Em seguida, o material é triturado e misturado a areia e cimento. A mistura é prensada e levada ao sol para mais tempo de secagem. O resultado, então, é compactado, para que tenha mais resistência. Após mais alguns dias ao sol, os tijolos estão prontos para uso.

"Quanto à produção industrial, a ideia está em fase de aceleração e passará por etapas que envolvem estudos sobre produção, marketing e vendas, para analisar a viabilidade do negócio", afirma Geisiane, a respeito da comercialização em grande escala.

Iniciativa de apoio

O Belo Monte Empreende está no segundo ano, com 19 projetos em curso — como os de Kennedy, Silviane e Geisiane. Todos os empreendimentos nascidos nas oficinas da iniciativa serão financiados pela Norte Energia, concessionária responsável pela usina de Belo Monte.

"Entendemos que a companhia tem de atuar como desenvolvedora da região, independentemente das nossas obrigações. E é o que estamos fazendo", afirma a superintendente de Sustentabilidade e Socioambiental da Norte Energia, Sílvia Cabral.

Temos uma região farta em matéria-prima%2C pessoas com capacidade de empreender e trazendo ideias que suprem as necessidades locais. Tudo isso de forma sustentável e em conformidade com o meio ambiente.

(Sílvia Cabral, superintendente de sustentabilidade e socioambiental da Norte Energia)

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