Deputados apresentam pedido de CPI para investigar saúde pública do DF
Requerimento foi protocolado nesta segunda; para ser instaurado pedido precisa de mais quatro assinaturas
Brasília|Do R7, em Brasília
Os deputados distritais do Distrito Federal apresentaram nesta segunda-feira (28) pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o Iges (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde) e a saúde pública da capital. O requerimento foi protocolado com a assinatura de quatro parlamentares, mas precisa de mais quatro para a CPI ser instaurada.
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Até o momento, assinaram o pedido Fábio Felix (Psol), Gabriel Magno (PT), Max Maciel (Psol) e Dayse Amarilio (PSB). O pedido foi feito após a Casa receber a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio; o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha; e o diretor-presidente do Iges, Juracy Cavalcante, em uma reunião com os parlamentares na tarde desta segunda.
Na avaliação de Fábio Felix, “há uma arrogância do governador do DF de não assumir a crise”. “Muitos dos problemas da saúde são estruturais, mas o governo precisa apresentar respostas concretas e as medidas apresentadas até aqui são pontuais”, disse.
Max Maciel criticou o Iges, instituto que foi criado para “resolver a questão da saúde no DF”. Segundo o deputado, apesar do órgão ter assumido mais espaços e hospitais, os problemas da saúde não foram solucionados.
Na avaliação de Gabriel Magno, é necessário a nomeação de mais servidores e a adoção de estratégias que solucionem o problema do transporte entre unidades de saúde.
A análise foi reforçada por Dayse Amarilio, que afirmou que metade das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência estão paradas por falta de manutenção.
“É uma total falta de transparência, por isso a gente entende que nesse momento é importante a gente abrir uma investigação para dar uma resposta à sociedade e para que a gente não perca mais crianças esperando 12 horas por um transporte”, declarou.
Articulação
Para instaurar a CPI, os deputados precisam angariar mais quatro assinaturas e para isso seriam necessários convecer alguns deputados da própria base do governo.
Para o presidente da Câmara Legislativa do DF, Wellington Luiz (MDB), ainda é ceso para se falar em CPI”. “É hora de focar todas as nossas energias em encontrar soluções para diminuir o sofrimento dessas pessoas que estão nas filas dos hospitais”.
Jorge Vianna (PSD) ressaltou que há problemas crônicos na saúde, como questões de logística e de fluxo de pacientes. Ele afirmou que, enquanto o governo não investir efetivamente na pasta, “continuaremos a ter esses problemas”, e criticou que o orçamento da saúde seja “muito engessado”.
Já Chico Vigilante (PT) detalhou que os parlamentares puderam fazer recomendações ao GDF na reunião desta segunda-feira, como a vacinação em massa das mulheres grávidas para prevenir os casos de bronquiolite em bebês no próximo ano. Ele também afirmou que o governo precisa reconhecer que há uma crise, o que ainda não foi feito, segundo Vigilante.
Morte de crianças
A Secretaria de Saúde e o Iges vem sendo alvo de cobranças depois da morte de cinco crianças em menos de 60 dias no Distrito Federal. Os casos são investigados por suposta negligência pela polícia civil. Em um dos casos, Enzo Gabriel, de um ano, esperou por quase 12 horas para chegar uma ambulância que o levaria para a UTI. Relembre casos:
• Em 14 de abril, os pais de Jasminy Cristina de Paula Santos, 1 ano, tentaram atendimento pelo Samu após ela passar mal, mas não havia ambulância para atender a bebê. Em mais uma tentativa, os pais levaram a criança até a UPA do Recanto das Emas no mesmo dia. Jasminy recebeu classificação laranja, mas a unidade só atendia pacientes com classificação vermelha. A bebê passou o dia na UPA, mas à noite teve piora no quadro, com febre e baixa saturação. Uma médica chegou a pedir a internação da criança na ala pediátrica, mas Jasminy não resistiu e morreu na unidade. O caso é investigado Polícia Civil.
• Em 27 de abril, um bebê morreu após a mãe ter que esperar 14h para realizar o parto no Hospital Regional de Sobradinho. Segundo a mãe, Margarete dos Santos, ela teria chegado ao hospital por volta de 1h30 da manhã, e a equipe médica disse que não havia dilatação suficiente. Ela afirma que os médicos tentaram induzir o parto, que só aconteceu às 15h. A mãe diz que durante a espera solicitou um parto cesárea, mas o pedido foi negado. Os pais foram informados de que o bebê nasceu com o cordão umbilical enrolado em duas voltas no pescoço e que ele teria defecado dentro da barriga da mãe, dando início ao processo de sofrimento fetal. O caso é investigado Polícia Civil.
• Em 15 de abril, os pais de Anna Julia Galvão, 8 anos, procuraram atendimento médico para a criança após ela apresentar tosse, dor nas costas, febre e dificuldade para respirar. A menina chegou por volta das 18h na UBS 7 da Ceilândia, mas foi atendida apenas às 3h da manhã do dia seguinte. Os médicos pediram exames para a menina, mas Anna Julia teve piora no quadro e os pais a levaram para a UBS 1 de Ceilândia. Ela foi atendida às 2h da manhã do dia 17, com pedido de outros exames. No entanto, o quadro de Anna Julia piorou uma segunda vez, e ela foi encaminhada ao HMIB (Hospital Materno Infantil de Brasília). Ela chegou ao hospital em estado gravíssimo. A equipe médica tentou entubá-la, mas ela morreu. O caso é investigado Polícia Civil.
• Em 14 de maio, a família de Enzo Gabriel, 1 ano, o levou à UBS de Taguatinga após o menino apresentar dificuldade para respirar. Com estado grave de saúde, Enzo Gabriel foi transferido para a UPA do Recanto das Emas. De lá, o menino seria levado para uma UTI no HMIB. Contudo, o bebê morreu enquanto aguardava o transporte, que demorou mais de 12 horas para chegar à UPA. Enzo Gabriel havia sido diagnosticado com dengue aguda, pneumonia com derrame pleural (acúmulo de líquido entre os tecidos que revestem os pulmões e o tórax) e estava entubado enquanto aguardava a transferência. O caso é investigado Polícia Civil.
• Em 21 de maio, a bebê Aurora, de 3 dias de vida, morreu devido a complicações no parto. A mãe, Isadora Cristina de Souza Saeta, depois de tentativas dos médicos de induzir o parto por mais de 24h, passou por uma cirurgia cesárea de emergência e a bebê nasceu sem batimentos cardíacos. Aurora passou por reanimação e chegou a ser internada por três dias, mas não resistiu às complicações. O caso é investigado Polícia Civil.