Diretor-geral da PF garante mais ações contra extremistas do 8 de Janeiro e critica Exército
Andrei Rodrigues afirmou que as Forças Armadas deveriam ter desmontado acampamento no quartel-general de Brasília
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, declarou, nesta segunda-feira (31), que as autoridades policiais brasileiras pretendem seguir com mais ações até "desmantelar e chegar à verdade real" por trás dos atos extremistas que levaram à invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
Rodrigues também criticou o Exército e afirmou que a instituição impediu que a PF desmontasse o acampamento que se formou no quartel-general, na capital do país, após o segundo turno das eleições de 2022. O R7 entrou em contato com o Exército, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
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"Outras ações virão. Não vamos parar enquanto não desmantelarmos completamente tudo isso que aconteceu e levar à busca da verdade real, com muita responsabilidade, qualidade da prova e autonomia investigativa. O enfrentamento segue, muito duro e vigoroso", afirmou, durante evento em celebração aos dez anos da Lei Anticorrupção no Brasil.
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Para o diretor-geral, a PF precisou agir, no dia seguinte aos atos de vandalismo, porque o Exército não cumpriu seu papel. "Vivi muito de perto [o 8 de Janeiro], fazendo o que estava ao alcance da PF, a polícia judiciária. Era um trabalho que deveria ter sido evitado em dezembro, quando fomos lá [ao quartel-general] para tirar o acampamento e fomos impedidos pelo Exército brasileiro. Quando fomos de novo, em 8 de janeiro, tinha tanque de guerra no meio da rua, impedindo que a polícia entrasse para retirar as pessoas", criticou.
Rodrigues chamou, ainda, as pessoas que estavam acampadas de "criminosas". "Não era gente que estava pleiteando melhores salários ou melhoria de vida. Eram pessoas que estavam tramando um golpe de Estado, simples assim. Não há meias palavras para dizer isso. O que se viu foi uma complacência de várias entidades e órgãos públicos de manutenção daqueles acampamentos. Tivemos o dia 12 de dezembro [com a invasão da sede da Polícia Federal], e isso vai escalando. Tivemos [depois] o dia 24 de dezembro [com a tentativa de explosão de uma bomba nos arredores do aeroporto de Brasília]."
O diretor-geral teria informado às autoridades do Distrito Federal sobre a possibilidade de invasão das sedes dos Três Poderes. "Em 7 de janeiro, eu chamei uma reunião na SSP [Secretaria de Segurança Pública do DF] e coloquei claramente [sobre a possibilidade de invasão]. Para minha felicidade, não só verbalizei como enviei um ofício. Nele eu escrevi 'essas pessoas têm de ser contidas no acampamento e não podem sair de lá, porque vão invadir o Congresso, o Supremo e o Planalto.'"
Ele também criticou quem fazia a segurança das sedes no dia dos atos. "Esse bando foi levado até os palácios, [onde] havia cinco ou dez policiais com sprayzinho. O dia 8 foi planejado, urdido e pensado, com as consequências mais nefastas que podemos imaginar. O dia 8 tem de ser visto não como aquele dia, mas como uma sequência de ações que culminaram naquele dia, que tiveram sequência e estão tendo até o momento. Há envolvimento de muitos agentes públicos, tanto servidores militares quanto civis. Esse caso é preciso ser visto e entendido desde o ano passado, com a campanha [eleitoral]'", declarou.
Rodrigues comentou a recente agressão sofrida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao exemplificar a parceria do trabalho investigativo do Brasil com outros países.
Estamos fazendo cooperação internacional para receber provas e instruir essa investigação. A PF hoje atua hoje em 20 países com nossas adidâncias e oficialatos de ligação. [O caso de Moraes] está tramitando ainda no governo italiano%2C dependendo de manifestação do Ministério Público da Itália.
8 de Janeiro
No início deste mês, os ataques do 8 de Janeiro completaram seis meses, com 253 suspeitos de envolvimento aguardando julgamento de dentro de presídios, sendo 186 homens e 67 mulheres. Pessoas já liberadas são monitoradas por tornozeleiras eletrônicas e se comprometeram a se apresentar à Justiça e a não deixar a área territorial de suas respectivas comarcas.
No fim de junho, o STF começou a realizar audiências — com as testemunhas de acusação e de defesa — e os interrogatórios dos réus pelos atos extremistas. As audições ocorrem por videoconferência e são realizadas por quatro juízes que atuam como auxiliares/instrutores no gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
A Procuradoria-Geral da República denunciou 1.390 pessoas pelos atos que culminaram com a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes. Destas, o Supremo já transformou em rés 1.291, ao longo de oito blocos de julgamento.
Em junho, o ministro do STF Alexandre de Moraes disse que a Corte deve julgar, em até seis meses, cerca de 250 réus suspeitos de envolvimento nos atos e que respondem por crimes mais graves.