As futuras Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado ficaram praticamente definidas meses antes das eleições. Os principais cotados para o posto são Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), respectivamente. Ambos têm favoritismo construído ainda no segundo semestre de 2024.A escolha oficial será confirmada neste sábado (1º), mas os dois políticos somam votos que podem levar a resultados recordes no processo eleitoral. As promessas de apoio foram dadas de maneira quase unânime e colocaram, do mesmo lado, partidos rivais, em destaque ao PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.No Senado, o nome de Alcolumbre era esperado desde a última eleição. O amapaense pavimentou a candidatura do atual presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O compromisso era que ele também recebesse o apoio do aliado após a gestão mineira — foi o que aconteceu.Em novembro, Pacheco fez o anúncio endossando Alcolumbre antes mesmo do próprio partido, o PSD. “Eu tenho uma preferência pessoal como senador com Minas Gerais, até como presidente do Senado, de apoio ao ex-presidente Davi”, declarou.No mesmo período, o PT confirmou endosso à candidatura de Alcolumbre, anunciando que o amapaense teria compromisso com a democracia.Antes disso, o PL anunciou os votos da bancada ao candidato — com reforços para que a oposição tenha mais espaço e que projetos de defesa do grupo sejam pautados no Senado.A posição dos dois partidos também se repetiu na Câmara, onde os esforços são concentrados a Hugo Motta. PT e PL confirmaram apoio com poucas horas de diferença em 30 de outubro do ano passado.De lá para cá, Motta alcançou quase a unanimidade. Apenas dois partidos não firmaram voto ao republicano: PSOL e Novo. As duas siglas juntas reúnem 17 deputados e apresentam, cada uma, candidaturas próprias à eleição. Todos os demais partidos da Casa confirmaram apoio ao paraibano.Motta tem o respaldo do atual presidente, Arthur Lira (PP-AL) e ganhou a preferência dos demais partidos em negociações feitas diretamente com cada sigla. Nos bastidores, o parlamentar é visto como uma figura conciliatória e que deve buscar consenso entre diferentes linhas políticas.De um lado, o PL havia condicionado apoio a Motta caso a anistia aos condenados do 8 de Janeiro fosse pautada na Câmara. A proposta é duramente criticada por partidos governistas, e foi o outro lado da moeda para o PT: o partido de Lula pediu para que o projeto não fosse pautado.O tema não recebeu comentários públicos por parte dos parlamentares, mas perdeu força após o atentado contra o STF (Supremo Tribunal Federal), em novembro, em que um homem atirou bombas contra o prédio da corte e depois se explodiu na Praça dos Três Poderes.O amplo consenso entre os nomes antes do processo eleitoral é avaliado de forma positiva entre parlamentares, mas representa uma predominância do Centrão, o que pode dar mais trabalho em negociações do governo e manter embates com o Judiciário, conforme avalia o cientista político e professor da UnB (Universidade de Brasília) Lucio Rennó.“O que tem havido na Câmara, já de alguns mandatos para cá — provavelmente a gente percebe isso mais claramente quando o Rodrigo Maia assume —, é que essas decisões têm sido cada vez mais construídas a partir de um conjunto de lideranças partidárias desses partidos, que juntos controlam de fato o processo legislativo no Brasil hoje”, diz o especialista.Ele destaca que, em eleições passadas, era comum que os indicados tivessem origem em sugestões do próprio governo. Isso, porém, tem perdido força com o crescimento da autonomia do Congresso.“Há uma crescente independência do Poder Legislativo, do poder na definição desse nome, e o que ficou muito claro no pleito dessa Legislatura é a construção de um consenso amplo, que inviabiliza outras candidaturas. Ou seja, passa a quase uma imposição de um nome que é construído no interior do Legislativo, com pouca interferência do Executivo nesse processo”, completa o professor.