Lula defende ampliação do Brics, mas pede cautela para bloco não virar ‘torre de Babel’; veja vídeo
Presidente diz que países interessados em ingressar no grupo precisam estar comprometidos para não atrapalhar o bloco
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (22) que é favorável à expansão do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, mas disse que é preciso definir critérios para que outros países emergentes passem a fazer parte do grupo. Segundo ele, a ampliação do bloco não pode fazer com que o Brics vire uma “torre de Babel”.
“A gente tem que limitar uma certa coisa que todo mundo concorda. Porque, senão, se não tiver grau de compromisso dos países que entram no Brics, vira uma torre de Babel. A gente está construindo isso, eu penso que desse encontro deve sair uma coisa muito importante, a entrada de novos países. E eu sou favorável à entrada de novos países. A gente vai se tornar forte”, afirmou o presidente em live nas redes sociais.
Lula está na África do Sul para a reunião da cúpula do Brics. Ele disse que vai discutir com os demais pares a possibilidade de expandir o grupo. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, ao menos 22 países já manifestaram interesse em compor o Brics. Um deles é a Argentina, e Lula é favorável à inclusão do vizinho sul-americano no bloco.
“Defendo que os nossos irmãos da Argentina possam participar do Brics. Vamos ver na reunião como que fica, se vai ser agora ou daqui a alguns meses. Eu defendo porque é muito importante a Argentina estar no Brics. O Brasil não pode fazer política de desenvolvimento industrial sem lembrar que a Argentina é um país que tem crescer junto com o Brasil”, afirmou.
“Eu acho que o Brics tem possibilidade de ampliação. Sei que a China quer, a Índia quer, a África do Sul quer, a Rússia quer e nós queremos. Se todo mundo quer, não é difícil entrar. Obviamente, tem que estabelecer determinados procedimentos para que as pessoas entrem e para que, amanhã, a gente não descubra que a gente colocou alguém que era contra o Brics”, completou Lula.
O presidente ressaltou ainda que o Brics não pode ser “um clube fechado” igual a outros organismos internacionais, como o G7, grupo formado pelas maiores economias do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido).
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“Nós não queremos isso. Queremos criar uma instituição multilateral, e que a gente possa ter algo diferente. Se nós acreditamos na democracia como melhor modelo de governança, precisamos garantir que a gente tenha instituições fortes para garantir essa democracia. Quanto melhor for a relação de um país com o outro, mais chances a gente tem de fazer bons acordos.”
Apesar disso, o presidente afirmou que o Brics não quer ser um ”contraponto” ao G7. ”A gente não quer ser contraponto ao G7 ou ao G20, nem aos Estados Unidos. A gente quer se organizar. A gente quer criar uma coisa que nunca teve, que nunca existiu. O Sul Global. Nós sempre fomos tratados como se fôssemos a parte pobre do planeta, como se não existíssemos. Nós sempre fomos tratados como se fôssemos de segunda categoria. E, de repente, a gente está percebendo que podemos nos transformar em países importantes”, frisou.
De todo modo, Lula reclamou que muitos organismos internacionais são antiquados e não representam toda a população mundial. Ele citou a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Conselho de Segurança da entidade, responsável por zelar pela manutenção da paz mundial, que é composto de 15 membros, dez deles não permanentes e cinco permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia).
“Hoje, a ONU tem pouca representatividade, ela não consegue cumprir quase nenhuma tarefa. Hoje, o Conselho de Segurança não decide mais nada, porque existe o poder de veto, e os membros impedem. Por que Brasil, Índia, África do Sul e Alemanha não podem entrar? Quem disse que os mesmos países que foram colocados em 1945 devem continuar lá? O mundo mudou, a política mudou e nós queremos essa mudança”, afirmou.
“O Brics significa isso. Não significa tirar nada de ninguém. Significa uma organização de um polo muito forte que congrega muita gente. Nós estamos nos organizando e queremos sentar em mesa de negociação em igualdade de condições com a União Europeia, com os Estados Unidos, e com outros países. O que a gente quer é criar novos mecanismos que tornem o mundo mais igual do ponto de vista das decisões políticas“, concluiu Lula.