Lula diz a Macron que Brasil quer conhecimento de tecnologia nuclear, mas não para fazer guerra
Em cerimônia no Rio de Janeiro, presidente brasileiro afirmou que país estará ao lado daqueles que querem a paz
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (27) ao presidente francês, Emmanuel Macron, que o Brasil quer conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra, mas sim para garantir o recurso a todos os países que querem a paz. O petista anunciou a criação do Comitê Bilateral de Armamento, em conjunto com o governo francês. As declarações foram dadas durante do lançamento ao mar do Tonelero, um submarino convencional de propulsão diesel-elétrica, na Base Naval de Itaguaí (RJ).
"Quando terminar a nossa conversa amanhã, volte para a França e diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra. Nós queremos ter os conhecimentos para garantir a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, é conhecimento científico, é conhecimento tecnológico, e é nessa área que queremos fortalecer a parceria com o povo francês", afirmou Lula.
"Nós temos que nos preocupar com a nossa defesa, não porque queremos guerra, mas a defesa para quem quer paz, a defesa para quem mora num continente em que já definiu, em todas as reuniões, que nós vamos continuar na América Latina e na América do Sul como uma zona de paz", destacou.
Lula anunciou a criação do Comitê Bilateral de Armamento em conjunto com o governo francês. Ambos os líderes concordaram em ampliar os esforços com foco no desenvolvimento de sinergias e promoção de maior equilíbrio no comércio de produto de defesa. O presidente brasileiro não deu mais detalhes. A reportagem acionou o Palácio do Planalto e aguarda posicionamento.
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As declarações foram dadas por Lula em Itaguaí (RJ). O presidente brasileiro e Macron lançaram o submarino Toneleiro ao mar. O equipamento tem 71 metros de comprimento e possui deslocamento submerso de 1.870 toneladas. Depois de colocado na água, ele será submetido a teste para avaliar as condições de estabilidade no mar e os sistemas de navegação e combate. O submarino pode ficar em operação por até 70 dias e foi construído para superar 250 metros de profundidade. O gesto de batismo foi feito pela primeira-dama, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja.
Como mostrou o R7, o Brasil e a França conversam sobre uma possível cooperação na oferta de combustível do primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear. O equipamento é desenvolvido pela Marinha brasileira e vai receber o nome de Álvaro Alberto, em homenagem ao patrono da ciência, tecnologia e inovação da Marinha. A previsão de entrega é até 2033.
O submarino armado com propulsão nuclear passou a ser oficialmente projetado em 2008, com a assinatura do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), criado por meio de parceria estabelecida entre Brasil e França. O decreto que estabeleceu o programa prevê que o apoio francês ao Brasil será restrito à concepção e à construção "da parte não-nuclear" do submarino.
Os dois países cogitam renegociar esse trecho do decreto. "Nós acreditamos que sim, que é uma área em que talvez houvesse uma resistência no passado, mas hoje já há conversas sobre essa possibilidade, de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto à luz da energia nuclear, do combustível nuclear", afirmou a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores.