‘Tudo que fizer conosco haverá reciprocidade’, diz Lula sobre taxas de Trump
Presidente reforçou, no entanto, que Brasil seguirá negociações até quando puder. ‘Não queremos contencioso’, destacou
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quarta-feira (9) que o Brasil vai reagir às taxações dos Estados Unidos. O petista criticou as decisões do presidente norte-americano, Donald Trump, e reforçou que o governo vai acatar “o que achar cabível”. Apesar do tom, Lula afirmou ainda não haver nenhuma ação concreta do Executivo brasileiro e destacou que o governo federal vai insistir na saída diplomática para o assunto. As negociações com os EUA têm sido lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
“Já conversamos com o negociador do presidente Trump. Mauro Vieira [ministro das Relações Exteriores] já ligou. Alckmin já negociou. A nossa decisão é a seguinte, tudo que fizer conosco haverá reciprocidade. Tudo. Ou nós vamos para a Organização Mundial do Comércio (OMC) brigar, onde é o direito de a gente brigar, ou a gente vai dar reciprocidade. É o mínimo que se espera de um país que tenha dignidade e soberania”, declarou Lula a jornalistas, depois da 9ª Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em Tegucigalpa, capital de Honduras.
A OMC, da qual Brasil e EUA fazem parte, é um organismo multilateral responsável por regular o comércio entre os países membros.
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O pacote de impostos dos EUA a outras nações começou no último sábado (5), quando passou a valer a tarifa mínima de 10% sobre as importações de mercados estrangeiros. A medida do republicano afeta cerca de 190 países — a maioria foi penalizada com o imposto de 10%, como ocorreu com o Brasil. Algumas taxas, no entanto, ultrapassam 100% (leia mais abaixo).
Lula reforçou, contudo, a postura de diálogo do Brasil. “Vamos utilizar todas as palavras de negociação que o dicionário permitir. Quando acabar as palavras, vamos tomar as decisões que entendemos que sejam cabíveis. O Brasil é um país que não tem contencioso, não queremos contencioso, não queremos brigar. O Brasil é um país que fez sua independência sem brigar com ninguém, que acabou com a escravidão com a decisão da princesa Isabel. Tudo no Brasil é feito na base da conversa, de uma mesa de negociações. É assim que a gente quer fazer o Brasil se transformar num país de economia forte. É conversando, negociando e acordando”, acrescentou o petista.
O brasileiro avaliou ainda não ser possível saber quais serão as consequências do tarifaço de Trump. “Cada dia anuncia uma medida e fala uma coisa. Nós não sabemos qual será o efeito devastador disso na economia, inclusive na própria economia americana. Ninguém pode dizer que vai ser bom ou ruim, porque é preciso saber quanto vai custar isso, do ponto de vista do preço, dos produtos, da relação multilateral”, ponderou.
Lula também afirmou que Trump quer acabar com o multilateralismo. “Ora, querer fazer negociação individual é colocar fim no multilateralismo, que é muito importante para a tranquilidade econômica que o mundo precisa. É muito importante que as pessoas entendam que não é aceitável a hegemonia de um país, nem militar, nem cultural, nem industrial, nem tecnológica, nem econômica sobre os outros. É importante que todo mundo tenha sua soberania respeitada, suas decisões levadas em conta e que a melhor forma de fazer um bom acordo é sentar numa mesa de negociação, sem hegemonismo, sem prepotência nem arrogância”, completou o brasileiro.
Decisão dos EUA
Nesta quarta, Trump anunciou que vai aumentar para 125% o imposto sobre as importações de produtos da China. Ele disse ter adotado a medida “com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais”. Em resposta às tarifas impostas pelos EUA, mais cedo nesta quarta a nação asiática tinha decidido taxar em 84% as importações de itens norte-americanos.
Além disso, Trump informou que vai reduzir por 90 dias as tarifas contra países que tentaram um acordo com os Estados Unidos, sem especificar quais são essas nações. Nesse período, segundo o presidente dos EUA, será cobrado desses países o imposto mínimo de 10% do pacote tarifário.
Mais cedo nesta quarta, os Estados Unidos começaram a cobrar os países que ficaram de fora do piso de 10% e sofreram uma taxação maior, como Camboja, Israel, África do Sul, Suíça e integrantes da União Europeia. Veja quais são as tarifas:
- Argélia - 30%
- Angola - 32%
- Bangladesh - 37%
- Bósnia e Herzegovina - 35%
- Botsuana - 37%
- Brunei - 24%
- Camboja - 49%
- Camarões - 11%
- Chade - 13%
- China - 104% (horas depois, Trump anunciou que a taxa para o país asiático será de 125%)
- Costa do Marfim - 21%
- República Democrática do Congo - 11%
- Guiné Equatorial - 13%
- União Europeia - 20%
- Ilhas Falkland - 41%
- Fiji - 32%
- Guiana - 38%
- Índia - 26%
- Indonésia - 32%
- Iraque - 39%
- Israel - 17%
- Japão - 24%
- Jordânia - 20%
- Cazaquistão - 27%
- Laos - 48%
- Lesoto - 50%
- Líbia - 31%
- Liechtenstein - 37%
- Madagascar - 47%
- Malawi - 17%
- Malásia - 24%
- Maurício - 40%
- Moldávia - 31%
- Moçambique - 16%
- Myanmar (Birmânia) - 44%
- Namíbia - 21%
- Nauru - 30%
- Nicarágua - 18%
- Nigéria - 14%
- Macedônia do Norte - 33%
- Noruega - 15%
- Paquistão - 29%
- Filipinas - 17%
- Sérvia - 37%
- África do Sul - 30%
- Coreia do Sul - 25%
- Sri Lanka - 44%
- Suíça - 31%
- Síria - 41%
- Taiwan - 32%
- Tailândia - 36%
- Tunísia - 28%
- Vanuatu - 22%
- Venezuela - 15%
- Vietnã - 46%
- Zâmbia - 17%
- Zimbábue - 18%
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