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Luto: Saudades (SC) precisa de ação coletiva de reconhecimento da dor

Psicóloga especializada em luto frisa necessidade de acolhimento diferenciado para famílias das vítimas e comunidade após chacina

Cidades|Cesar Sacheto, do R7

Creche Aquarela, em Saudades (SC), foi invadida por assassino nesta terça-feira (4)
Creche Aquarela, em Saudades (SC), foi invadida por assassino nesta terça-feira (4) Creche Aquarela, em Saudades (SC), foi invadida por assassino nesta terça-feira (4)

As famílias das vítimas do ataque à Escola Infantil e Berçário Pró-Infância Aquarela, e a comunidade de Saudades, cidade de aproximadamente 10 mil habitantes, localizada no oeste de Santa Catarina, onde ocorreu a chacina, na manhã da terça-feira (4), precisam de ações distintas para lidar com o luto pela perda violenta e inesperada dos seus entes.

Para a psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Luto da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Maria Helena Pereira Franco, a municipalidade deveria planejar ações coletivas — com a realização de eventos públicos para lembrar as vítimas e os atendimentos de psicólogos — que acolham, com abordagens diferenciadas, os familiares das vítimas, os profissionais da creche e os moradores da cidade também traumatizados.

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"O fato de ser uma cidade pequena favorece isso [o acolhimento coletivo]. Que se façam cerimônias. Não sei como está na cidade na questão do isolamento [pela pandemia], mas que seja feito um reconhecimento dessa dor na comunidade, de todos, porque não basta focalizar na famílias daquelas crianças. É um luto da cidade. De todo mundo. Isso precisa ser considerado. A cidade foi marcada", avaliou.

A psicóloga Maria Helena Pereira Franco ressaltou ainda que os familiares dos bebês que sobreviveram ao ataque também necessitarão de apoio profissional para assimilar a tragédia e seguir adiante. "Imagina como estão essas famílias? Deixaram um criança lá de manhã, tranquilamente [e se depararam com a notícia da chacina]. Isso requer uma atenção específica para as famílias", completou.

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Para a especialista em estudos sobre luto da PUC, as autoridades de Saudades poderiam consultar psicólogos de Chapecó — cidade a cerca de 70 km de distância — que atenderam parentes de vítimas do voo da Chapecoense, acidente aéreo que matou 71 pessoas, ocorrido em novembro de 2016, e gerou comoção internacional. "Não sei se Chapecó tem psicólogos que tenham alguma familiaridade com o luto por causa do desastre", acrescentou Maria Helena Pereira Franco.

Velório coletivo

A Prefeitura de Saudades informou, no fim da noite de terça, que haverá um velório coletivo no Parque de Exposições Theobaldo Hermes - Módulo Esportivo da cidade.

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A celebração religiosa está marcada para às 9h desta quarta-feira (5). Os sepultamentos das vítimas ocorrerá no cemitério municipal.

As vítimas de uma "cena de horror"

O ataque resultou na morte da professora Keli Adriane Anieceviski, de 30 anos, da agente educativa Mirla Renner, de 20, e de três crianças: Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses, Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses, e Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses. Outro bebê também foi ferido, mas sobreviveu.

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Mirla, de 20 anos, e Keli, de 30, morreram na creche
Mirla, de 20 anos, e Keli, de 30, morreram na creche Mirla, de 20 anos, e Keli, de 30, morreram na creche

Testemunhas classificaram o cenário após o ataque brutal ocorrido na creche como aterrorizante. "Muito sangue. É uma cena de terror, de horror... Fiquei muito abalada", contou ao R7 a secretária municipal de Educação, Gisela Hermann.

O autor do ataque tentou suicídio, ficou gravemente ferido e foi conduzido ao município de Pinhalzinho, a 11 km do município de Saudades, mas será transferido para Chapecó sob escolta policial.

Equipes policiais de pelo menos quatro municípios de Santa Catarina participam de investigação e buscas na casa do acusado que, de acordo com as investigações iniciais, estava armado com uma espada ninja.

O perfil do assassino

Apesar de algumas informações sobre o passado do autor da chacina terem surgido, ainda não se sabe quais motivos teriam desencadeado uma ação tão cruel. O assassino era introspectivo, sofria bullying e vinha maltratando animais, de acordo com as investigações iniciais da Polícia Civil.

O delegado Jeronimo Marçal Ferreira, responsável pelo inquérito que apura a chacina, disse que o assassino não tinha histórico criminal. "Tem aquele perfil de se trancar no quarto e ninguém saber o que ele está fazendo no computador".

Ainda segundo a polícia, o agressor cursava o ensino médio e trabalhava em uma empresa no próprio município de Saudades. Os policiais encontraram R$ 11 mil em espécie na casa dele, que seria um valor que recebeu durante o emprego.

"Como não era de sair, de socializar, estava guardando o dinheiro", afirma Ferreira. "Ninguém na família imaginava que ele ia fazer isso. Com certeza absoluta. Um jovem problemático, mas dentro da normalidade", complementou o delegado Jeronimo Marçal Ferreira.

A invasão

O assassino foi até o local de bicicleta, por volta das 10h. Ao entrar na creche, ele começou a atacar a professora Keli. Mesmo ferida, ela conseguiu correr para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola, na tentativa de alertar sobre o perigo.

O rapaz, então, teria atacado as crianças que estavam na sala e a agente educativa Mirla. Duas meninas de menos de dois anos e a professora morreram no local. Outra criança e a agente educacional morreram no hospital.

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