Americanas diz que bancos são seus maiores credores
Banco alemão Deustche Bank nega relação direta com a varejista; informações definitivas ainda devem ser apresentadas
Economia|Do R7
A Americanas entregou às autoridades a lista de credores de seu processo de recuperação judicial nesta quarta-feira (25). No total, são R$ 41,056 bilhões em dívidas com os credores, termo técnico para pessoas ou empresas a quem a varejista deve alguma quantia.
A lista toda conta com 7.967 nomes. No entanto, são os bancos quem têm os maiores valores a receber pela companhia.
Segundo o documento divulgado pela Americanas, o maior credor é o Deustche Bank, um dos principais bancos da Alemanha. O saldo seria de 1 bilhão de dólares, equivalente a R$ 5,2 bilhões.
Porém, o grupo alemão informou que não tem relação direta com a varejista. De acordo com uma fonte, o Deutsche apenas atua como representante comercial de duas operações financeiras realizadas pela Americanas no exterior, no segundo semestre de 2022.
Já o Bradesco é o segundo maior credor, com R$ 4,8 bilhões de saldo, segundo a organização brasileira.
Com o Santander Brasil, os débitos ultrapassariam os R$ 3,6 bilhões. Por sua vez, o BTG Pactual é credor de R$ 3,5 bilhões, e o BV, de R$ 3,3 bilhões.
Em nota, o BV informou que os valores que a Americanas disse dever a ele estão inflados e que vai relembrar a varejista disso.
Segundo o texto, no último dia 11, quando a Americanas informou um rombo contábil de R$ 20 bilhões, a exposição do BV era de cerca de R$ 206 milhões.
A varejista afirma dever ainda R$ 2,9 bilhões ao Itaú Unibanco, R$ 1,3 bilhão ao Banco do Brasil, R$ 509 milhões ao Daycoval e R$ 501 milhões à Caixa Econômica Federal.
O débito da Americanas com o Banco ABC Brasil seria de R$ 415,6 milhões, e com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), de R$ 276 milhões. Outra financeira credora pode ser o Banco da Amazônia, com R$ 103 milhões a receber.
Ou seja, a lista apresentada ainda não deve ser definitiva. Como a empresa não estava preparada para uma recuperação judicial, ainda há informações a serem levantadas.
Uma fonte ouvida pela reportagem acredita que pode haver alterações ao longo dos dias, de algo em torno de 20% das informações. "Nem o tamanho do rombo (seria de aproximadamente R$ 40 bi) é possível ter certeza, ainda", disse.
A crise na Americanas se tornou pública depois que o ex-CEO Sergio Rial — que estava no cargo havia pouco menos de dez dias — afirmou que foram identificadas "inconsistências" nos balanços dos últimos anos. A Americanas tem uma dívida declarada de R$ 43 bilhões.
Outras gigantes
A lista de credores da Americanas apresenta, além de bancos e instituições financeiras, fornecedores multinacionais de serviços e produtos. O líder dessa categoria seria a Samsung, com R$ 1,2 bilhão devido pela varejista.
Mas outras gigantes de tecnologia estão na lista, com montantes menores. Ao Google, a companhia brasileira afirma dever R$ 94 milhões. Já à Apple, seriam R$ 98,6 milhões; e ao Facebook, R$ 11,4 milhões.
Com fabricantes de chocolates, a dívida também é alta. São R$ 259 milhões em dívidas com a Nestlé e R$ 14,8 milhões com a Ferrero Rocher, segundo o documento desta quarta-feira.
Com a Ambev, dona de marcas de bebidas como Bohemia e Brahma, a dívida seria de R$ 4 milhões. Vale lembrar que os principais acionistas do conglomerado são Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, o trio de investidores que também tem influência sobre a Americanas.
No domingo, os três homens emitiram uma nota pública em que se posicionaram pela primeira vez desde o começo da crise. Um trecho em particular incomodou os bancos: o que sugere que as instituições não teriam se atentando ao rombo contábil, ou seja, teriam parte da culpa.
"Ela (auditoria PwC), por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram nenhuma irregularidade", afirmou o documento.
Segundo executivos que acompanham o caso, o posicionamento até aqui dos acionistas de referência da Americanas enfureceu os bancos credores da varejista, que começam a falar nos bastidores em possíveis retaliações. Algumas instituições já teriam começado a reduzir o crédito a outras empresas sob controle do trio, como a própria Ambev.