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Conta de luz: Guedes parece não saber que alta é nociva às famílias

Ministro da Economia questionou "qual é o problema" de a energia ficar um pouco mais cara. Especialistas explicam efeito cascata 

Economia|Do R7

Custo da energia afeta preços e pode comprometer o PIB
Custo da energia afeta preços e pode comprometer o PIB Custo da energia afeta preços e pode comprometer o PIB

Principal vilã recente do bolso dos brasileiros, a conta de luz é um dos itens de maior impacto no orçamento das famílias brasileira. Com os recentes aumentos, a energia vai causar um efeito desencadeado nos preços ao longo dos próximos meses e pode, inclusive, impactar no crescimento econômico.

Mesmo diante da movimentação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, questionou nesta quarta-feira (25) "qual é o problema" de a energia ficar um pouco mais cara, aparentando demonstrar desconhecimento sobre as consequências nocivas no orçamento da população, especialmente para as camadas mais pobres, além dos impactos no crescimento do país.

Para Guedes, as críticas a respeito do tema são causadas pela antecipação do período eleitoral. "Vamos tapar o ouvido, vamos atravessar", disse ele durante o lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.

O coordenador da comissão de política econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia), Fernando de Aquino Fonseca Neto, explica que o aumento no custo da energia provoca o chamado "efeito cascata" até o bolso dos consumidores. "Vários itens produzidos têm a energia elétrica como um dos custos mais importantes", afirma ele.

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"Essa variação afeta diretamente o preço da cesta de consumo das famílias em geral, que é um bem que tem um peso grande no consumo mensal, sobretudo nas famílias de menor renda, o que vai resultar em uma redução do poder aquisitivo e impactar outros preços da economia", completa Fonseca. 

André Braz, economista responsável pelos índices de preços do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), aponta que as altas como um "efeito extra" que vai impactar na inflação dos próximos meses.

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"Muitos setores têm intensivos uso de energia e essa pressão de custos já aumenta as chances de a gente ter uma tendência de alta nos preços relacionados ao setor de serviços", sinaliza Braz ao ressaltar que o segmento corresponde por 30% dos orçamentos familiares.

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Fonseca ressalta ainda que esse efeito em toda a cadeia produtiva tende a resultar em novos aumentos da Selic e impactar até mesmo o resultado do PIB (Produto Interno Bruto). "Com essa pressão inflacionária, o Banco Central tende a subir a taxa de juros, o que é um motivo para desincentivar um crescimento econômico maior", diz ele ao citar a perda de investimentos e redução do consumo.

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Diante das críticas, Guedes afirmou nesta quinta-feira (26), em comissão temática da covid-19 no Senado Federal, que teve sua fala tirada do contexto. "Falei 'e daí', porque tenho que enfrentar a crise. Vamos enfrentar a crise, temos que enfrentar de frente, pedir aos governadores para não subir automaticamente a bandeira. Eles têm um percentual, acabam faturando em cima da crise", disse.

Vale ressaltar que as altas nas bandeiras tarifárias são decididas pela diretoria colegiada da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que utiliza o modelo para sinalizar ao consumidor o real custo da energia gerada, e não pelos governadores.

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o preço das contas de luz saltou 5% e foi o principal responsável pela maior variação da prévia da inflação para meses de agosto desde 2002. No acumulado do ano, o custo da energia acumula alta de 16,07%.

Nesta quinta-feira (26), o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), não poupou críticas ao titular da pasta da Economia. "Não tenho nenhum desapreço pessoal pelo ministro Paulo Guedes, pelo contrário, o respeito e quero bem, mas é impressionante a desconexão dele com a realidade do povo. Desemprego, fome, inflação, juros não o incomodam. O sonho do brasileiro era morar no discurso do ministro", criticou o número 2 da Câmara.

"Aconselho o ministro Paulo Guedes a sair da bolha dos especuladores e dos burocratas do ME. É hora de se conectar com a economia e com a vida real. Ouvir industriais, comerciantes, trocar a ida aos supermercados no Plano Piloto por uma ida a um no Sol Nascente [comunidade de Brasília]", completou Ramos.

Crise hídrica

As recentes altas no custo das contas de luz têm relação direta com a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, que esvaziou os reservatórios e provocou o uso das usinas térmicas, que geram energia por um preço mais elevado.

Para custear a geração mais cara, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aumentou, em julho, a bandeira tarifária vermelha, a mais cara entre todas, e, no mês seguinte, elevou em 52% (de R$ 6,243 para R$ 9,49) o custo a ser pago pelas famílias e empresas a cada 100 quilowatts-hora consumidos.

A declaração de Guedes também destoa das atitudes do próprio governo federal que, para tentar conter o uso de energia, assinou um decreto com medidas para redução do consumo de energia elétrica em prédios públicos, com o objetivo de economizar de 10% a 20% de energia elétrica na administração pública federal.

Para Fonseca, do Cofecon, a situação atual é também um fruto de um planejamento ineficiente do setor életrico nos últimos anos. "Nos anos que passaram poderiamos ter aumentado nosso potencial de geração hidrelétrica e explorado outras fontes, sobretudo as limpas, como solar e eólicas", apontou o economista.

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