Gasolina mais barata vai segurar preço do etanol
Análise leva em conta que valores do álcool tradicionalmente avançam no período de menor produção de cana no centro-sul do Brasil
Economia|Do R7
Os preços do etanol hidratado no Brasil devem subir menos durante a entressafra de cana-de-açúcar na região centro-sul, ante as previsões iniciais, dada a recente queda de preço gasolina da Petrobras, o concorrente direto do biocombustível.
Os valores do álcool tradicionalmente avançam entre o final de um ano e o início do outro devido à menor produção na principal região produtora de cana no Brasil.
O tombo da gasolina nas refinarias da Petrobras neste mês, no entanto, aponta para um ganho menor pelo etanol, dado o risco de perda de competitividade.
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O cenário pode impactar os lucros de usinas que se prepararam para entrar cheias de estoques na entressafra após o valor do petróleo saltar no mercado internacional, renovando máximas em quatro anos desde agosto.
Com a invertida nas cotações do petróleo no mês de outubro, a Petrobras anunciou uma série de cortes no preço médio da gasolina nas refinarias, o que resultou na redução de 3,8% no preço médio do combustível a partir desta quarta-feira (24), para abaixo de R$ 2 por litro, o menor patamar desde agosto. Só em outubro a estatal reduziu a cotação do combustível em cerca de 10%.
"É evidente que essa redução [da gasolina] diminuiu o 'gap' até onde poderíamos chegar com o etanol... Com certeza se reduziu o potencial de apreciação do etanol na entressafra", disse o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues.
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Para Rodrigues, a tendência é o biocombustível ainda se manter atrativo nos próximos meses, com seu preço abaixo da paridade de 70% ante o da gasolina. Mas "se meu concorrente baixa a régua, vou ter de elevar menos", ponderou. Por ora, ele calcula que, somando-se impostos e demais tributos, o etanol nas usinas paulistas pode atingir algo entre R$ 2,35 e R$ 2,45 por litro na entressafra, de R$ 2,18 atualmente.
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O analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, também avaliou que, "dada a situação atual, isso impacta o teto que o etanol pode chegar" na entressafra. "A queda da gasolina pode diminuir a competitividade do etanol, podemos ver uma redução de consumo, embora nos principais produtores, como São Paulo e Minas Gerais, ainda deva se manter atrativo por um tempo", afirma.
Usinas do centro-sul impulsionaram a fabricação de álcool na atual temporada 2018/2019, na esteira de preços elevados da gasolina e do enfraquecimento das referências internacionais do açúcar na Bolsa de Nova York. Tanto que há algumas semanas se falava em uma alta maior para o etanol na entressafra, sem se perder a competitividade.
Repasse
O analista Walter De Vitto, da Tendências, prevê que os motoristas devem sentir em cerca de uma semana os recentes cortes nos preços da gasolina pela Petrobras dentro dos postos de combustíveis.
"Até zerar os estoques do distribuidor e dos postos, em tese não faz sentido baixar os preços. Tem naturalmente um descasamento. A gente imagina que no máximo em uma semana já será possível fazer esse repasse", explica Vitto.
Para o analista, os preços da Petrobras estão "razoavelmente alinhados" com as referências internacionais do petróleo e o câmbio, que cederam nas últimas semanas. "Esses foram os principais drivers para os reajustes", afirmou.
Um eventual recuo nos valores da gasolina nas bombas se daria logo após o produto atingir recordes país afora. Na semana passada, a média de preço do combustível fóssil no Brasil foi de R$ 4,725 por litro, um recorde nominal, conforme monitoramento da reguladora ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O repasse dos reajustes da Petrobras aos consumidores depende de distribuidores, revendedores, impostos, além da mistura obrigatória de etanol anidro na composição da gasolina vendida nos postos.
O etanol hidratado, por sua vez, teve média nacional de R$ 2,943 por litro na semana passada, alta de 1% em relação à semana imediatamente anterior, segundos os dados da ANP.