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Guerra e alta dos juros no exterior vão limitar queda da Selic em 2024

Mercado financeiro passa a prever recuos menores dos juros básicos do Brasil nos próximos dois anos em meio a incertezas

Economia|Alexandre Garcia, do R7

Selic figura no menor patamar em um ano e meio
Selic figura no menor patamar em um ano e meio

O cenário rodeado de incertezas, causadas pelo movimento de alta dos juros no exterior e receios com o avanço da guerra no Oriente Médio, vai impedir que a atual sequência de baixas da taxa básica de juros seja tão efetiva como imaginado anteriormente.

Após o corte de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, de 12,75% para 12,25% ao ano anunciado nesta quarta-feira (1º), a percepção do mercado financeiro é de que a taxa básica caia com a mesma intensidade mais cinco vezes, até atingir 9,75% ao ano, em junho de 2024.

Para os dois encontros seguintes do Copom (Comitê de Política Monetária), são esperadas quedas menores da Selic, de 0,25 ponto percentual, para 9,25% até o fim do ano. Até a semana passada, a expectativa era de que a taxa básica encerraria 2024 em 9% ao ano. As expectativas também elevam de 8,5% para 8,75% a estimativa de juros básicos ao fim de 2025.

"O ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas", diz o comunicado que justifica o terceiro corte consecutivo da Selic.


Juros mais altos nos EUA afastam investidores do Brasil
Juros mais altos nos EUA afastam investidores do Brasil

Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, classifica a recente reação do mercado financeiro sobre o ciclo de queda da taxa Selic como um reflexo da piora do ambiente internacional, com a curva de juros americana de dez anos no maior nível desde 2017 e avanço da guerra entre Israel e o Hamas.

“Se a taxa de juros americana continuar alta por muito tempo, a Selic pode não ter espaço para cair abaixo de 10% em um curto espaço de tempo. Outra situação no ambiente externo que deve ser destacada é o conflito geopolítico em Israel, que pode trazer volatilidade ao preço do barril de petróleo, além da aversão ao risco”, diz Oliveira.


Para Bruna Centeno, economista da Blue3 Investimentos, a manutenção da taxa de juros dos Estados Unidos em níveis elevados altera o cenário da taxa Selic, mesmo que os índices de inflação caminhem conforme as expectativas.

"Existe uma correlação externa [entre as taxas de juros] que pressiona a nossa curva de juros para que não seja observada uma fuga de capital. [...] Se o investidor vê um movimento de queda da nossa taxa e alta da dos Estados Unidos, ele vai fazer essa análise [de risco], e nós sabemos que a economia deles é muito forte e capta uma preferência muito grande", avalia ela.


Cenário fiscal

Além dos receios externos, os economistas citam a preocupação com o andamento das contas públicas como outro fator que pesa contra as quedas mais efetivas dos juros. “Com juros altos no longo prazo nas economias desenvolvidas, países emergentes, como o Brasil, serão muito mais pressionados a entregar responsabilidade fiscal para atrair fluxo de capitais”, diz Oliveira.

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Pesa contra as reduções da taxa Selic a recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta fiscal do país para 2024 "dificilmente" será zero e que não há interesse em "cortar investimentos prioritários" para atingir o objetivo definido pelo novo arcabouço fiscal.

Bruna Centeno reforça que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao ser questionado sobre a fala de Lula não evidenciou quais eram os planos para cumprir a meta. “Isso mostra uma crise institucional, porque coloca uma incredibilidade sobre o arcabouço aprovado e à própria autonomia do Haddad em conduzir essa política”, diz.

A preocupação com o andamento das contas públicas também foi abordada pelo comunicado do Copom. "Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", afirmam os diretores da autoridade monetária.

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