Inadimplência volta a crescer e atinge 66,80 milhões de consumidores em agosto
Após dois meses seguidos em queda, o número de brasileiros com contas em atraso teve um leve aumento, dizem CNDL e SPC Brasil
Economia|Do R7
Quatro em cada dez brasileiros estavam negativados em agosto, de acordo com o indicador da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), divulgado nesta semana. No mês, havia 66,80 milhões de brasileiros inadimplentes, 40,90% da população, um pequeno aumento após dois meses consecutivos de queda. Na comparação com agosto de 2022, o avanço foi de 7,17%.
A alta do indicador anual se deve, principalmente, a inclusões devidas ao tempo de inadimplência de um a três anos, que totalizam 25,87%.
Em relação ao mês anterior, o número de devedores cresceu 1,14% em agosto deste ano. O valor médio das dívidas é de R$ 4.108,89.
O levantamento é realizado a partir de informações disponíveis na base de dados das duas entidades, sobre as capitais e cidades do interior de todos os 26 estados, além do Distrito Federal.
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“Apesar do pequeno aumento ocorrido em agosto, que se refere principalmente às dívidas vencidas de um a três anos, a tendência deve ser de queda dos inadimplentes nos próximos meses, uma vez que todo o cenário macroeconômico corrobora para essa direção", diz o presidente da CNDL, José César da Costa.
Ele explica que os efeitos de variações da Selic, a taxa básica de juros da economia, levam entre três e seis meses para ser sentidos no mercado de crédito. "O país já vive um momento de inflação mais baixa, melhora no mercado de trabalho, renda e confiança do consumidor”, afirma.
A participação mais expressiva em agosto foi de devedores da faixa etária de 30 a 39 anos, que representam 23,74% do total. São 16,57 milhões de pessoas nesta faixa registradas em cadastros de inadimplentes, ou seja, quase metade (48,59%) dos brasileiros desse grupo etário está negativado. A participação dos devedores por sexo segue bem distribuída, sendo 51,10% mulheres e 48,90% homens.
“O Programa Desenrola ainda está em fase inicial e deve trazer um impacto positivo na inadimplência nos próximos meses. Sabemos que, apesar do programa, não devemos ter uma queda constante, e as oscilações devem ocorrer, já que o cenário de inadimplência atingiu patamares muito elevados nos últimos anos", fala Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil.
Ele afirma que é necessário ficar atento à reincidência do consumidor, uma vez que 86% dos que pagam as contas atrasadas acabam voltando à inadimplência.
Características das dívidas
Além das dívidas de agosto terem um valor médio acima de R$ 4.000, cada consumidor negativado devia, em média, para 2,08 empresas credoras, considerando-se todos os pagamentos não quitados do mês.
Os dados ainda mostram que cerca de três em cada dez consumidores (31,11%) tinham dívidas de até R$ 500, percentual que chega a 45,25% quando são considerados pagamentos devidos de até R$ 1.000.
O número de dívidas em atraso no Brasil teve crescimento de 14,75% em agosto de 2023 em relação ao mesmo período de 2022, acima da variação anual observada no mês anterior. Na passagem de julho para agosto, o número de dívidas apresentou alta de 2,19%.
Quanto aos setores, a evolução do número de dívidas por credor tem como destaque as empresas concessionárias de serviços de Água e Luz, com crescimento de 31,97%, seguida pelos Bancos, com alta de 19,79%.
Em outra direção, as dívidas com o setor credor de Comunicação recuaram 13,71%, e as com o Comércio apresentaram queda de 0,97% do total em atraso.
“Na primeira fase do Programa Desenrola, os bancos participantes deveriam retirar da lista de negativados os nomes daqueles consumidores com dívidas com valores menores de R$ 100. No entanto, é importante destacar que, apesar da retirada do nome do cadastro de inadimplentes e da possibilidade de retorno ao consumo, a dívida não é extinta. Ela continua existindo e precisa ser renegociada com a empresa”, alerta Merula Borges, especialista em finanças da CNDL.
Em termos de participação, o setor credor que concentra a maior parte das dívidas é o de Bancos, com 63,16% do total. Na sequência, aparece Água e Luz, com 12,20%, Comércio, com 11,33%, e Outros, com 6,75% do total.
Para todos os indicadores, a CNDL e o SPC Brasil consideram que uma dívida é a relação de um credor com um devedor, mesmo que esse credor tenha incluído vários registros desse devedor junto ao SPC Brasil. Ou seja, mesmo que um devedor tenha quatro registros de um mesmo credor, presume-se que esse consumidor tenha apenas uma dívida.