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Enem bate recorde de impopularidade nas redes sociais

Pesquisa mostra que pandemia, incertezas políticas no governo de Jair Bolsonaro e crise no Inep são as possíveis causas

Educação|Do R7


Estudantes participam das provas do Enem 2021 em todo o Brasil
Estudantes participam das provas do Enem 2021 em todo o Brasil

A confiança e o apoio nas redes sociais ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) caiu em novembro, mês em que a prova foi realizada, aos níveis mais baixos já registrados. Só 29% dos posts faziam menções positivas ao exame ante índices de mais de 90% observados em 2017 pela agência .MAP, que analisa uma amostra do total de 1,4 milhão de mensagens diárias no Twitter e perfis abertos no Facebook. O Enem foi o sexto assunto mais comentado do ano nas redes, à frente de emprego e de corrupção, de acordo com a pesquisa.

A pandemia, as incertezas políticas no governo de Jair Bolsonaro e a crise no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) são apontadas como razões para a queda de popularidade do maior vestibular do país. Segundo os responsáveis pela pesquisa, as denúncias de interferência ideológica no Enem, que vêm desde o início do atual governo e se intensificaram no último mês, acabaram minando a reputação de um exame de qualidade.

"As interações nas redes mostram que os estudantes, principalmente os que têm menos estrutura, não se sentiam preparados para o Enem depois de mais de um ano em ensino remoto. Eles consideraram que essa prova foi elitista", diz a diretora da .MAP, Giovanna Masullo. "E ainda apareceu muita desconfiança com relação à qualidade da prova por causa das interferências do governo", completa.

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O número de inscritos no Enem também tem caído ao longo dos anos — de cerca de 8 milhões entre 2014 e 2016 passou para 3 milhões neste ano, com 26% de faltosos. Muitas crianças e jovens tiveram de deixar a escola para procurar emprego durante a pandemia por causa do empobrecimento das famílias e nem sequer se candidataram à prova. Dados já revelam aumento de mais de 100% de abandono em relação a 2019.

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Além disso, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, tentou impedir que estudantes pobres, isentos da taxa de inscrição em 2020 e que faltaram ao exame no meio da pandemia, tivessem direito à gratuidade neste ano. O STF (Supremo Tribunal Federal) depois exigiu que o MEC (Ministério da Educação) reabrisse a possibilidade de isenção para esse grupo. Segundo Giovanna, esse foi um dos temas que também levaram a muitas mensagens negativas sobre a prova.

O índice de positividade (IP) da .MAP é usado para medir o impacto da repercussão nas redes sociais de assuntos de áreas como política, economia e sociedade. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais. "Há um conjunto de atributos associado a cada postagem nas redes sociais, e a partir deles são atribuídos valores. A capacidade de repercussão de um perfil gera mais impacto, por exemplo", diz o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo, consultor da .MAP. Os cinco assuntos mais comentados que o Enem do ano nas redes, segundo a pesquisa, foram políticos, vacina, STF, saúde mental e pandemia.

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"Neste ano houve uma avalanche de mensagens de alunos com medo, sujeitos a muitas fake news e informações mal interpretadas sobre o Enem", conta o professor de física da Plataforma Descomplica, que tem mais de 3 milhões de seguidores no YouTube, Rafael Vilaça. Para ele, entre 2014 e 2019, o Enem conseguiu se consolidar como um exame de qualidade e com mais previsibilidade. A pesquisa da .MAP mostra que, em 2017, o índice de positividade era de 94% e, em 2018, de 72%, ambos considerados muito bons.

Antes disso, o exame ainda sofria com denúncias de vazamento, principalmente devido ao roubo da prova em 2009, no primeiro ano em que ele virou um grande vestibular. Mas a boa impressão conquistada nos últimos anos começou a mudar com as instabilidades no MEC após a eleição de Bolsonaro, acredita Vilaça.

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O governo já está em seu terceiro ministro da Educação, com sucessivas declarações contra o conteúdo da prova. Já em 2019 uma comissão foi instaurada para vetar questões consideradas inadequadas no exame. Neste ano, houve mais tentativas que culminaram com o pedido de exoneração de 37 servidores do Inep às vésperas do exame. O Estadão revelou que 24 questões foram retiradas do Enem 2021, mas 13 tiveram de retornar devido à falta de opção no banco de itens do Inep. Depois da aplicação, apesar de alguns temas como a ditadura militar terem ficado de fora, professores consideraram as perguntas de bom nível e sem interferências.

A grande preocupação é com os próximos anos do Enem, diz a presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), Maria Helena Guimarães de Castro. Além do baixo número de questões atualmente à disposição do Inep, a prova terá de ser reformulada por causa da lei do novo ensino médio, que começa a ser implementado em 2022. O modelo prevê um ensino mais flexível e com um currículo que pode ser montado pelo próprio aluno de acordo com as suas preferências.

Nesta semana, a comissão de avaliação do CNE aprovou o parecer de Maria Helena sobre o novo Enem. Ele terá duas provas, com uma primeira etapa de conhecimentos gerais interdisciplinares e a segunda para quatro áreas: ciências biológicas e saúde; ciências exatas e tecnológicas; humanidades, linguagens e artes; e ciências sociais aplicadas.

"A crise no Inep, junto com a pandemia, afetou muito os estudantes e o Enem. Mas a confiança poderá ser recuperada se o processo para o novo exame for bem encaminhado", diz. O parecer ainda precisa ser aprovado no plenário do CNE em janeiro e ser homologado pelo ministro da Educação. Depois disso, o Inep tem de apresentar as novas matrizes da prova em 2022. Maria Helena defende a ideia de que o órgão deve ter uma estrutura de governança, com os melhores consultores e especialistas em avaliação e em currículo. O novo Enem começaria a ser aplicado em 2024.

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