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Civilizado, debate privilegia discussão de propostas, apesar de ataques

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Pablo Marçal, Tabata Amaral, Datena e Marina Helena participaram de evento promovido pela RECORD

Eleições 2024|Do R7

Debate RECORD Prefeitura de São Paulo Reprodução/RECORD

O debate entre os seis candidatos mais bem colocados nas pesquisas para a eleição à Prefeitura de São Paulo, promovido pela RECORD neste sábado (28), foi marcado por confrontos diretos, discussões de propostas e trocas de acusações, mas com postura civilizada de todos os participantes.

A uma semana do primeiro turno das eleições municipais, Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Marina Helena (Novo), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) participaram do evento, mediado pelo jornalista Eduardo Ribeiro.

A administração do prefeito Ricardo Nunes, candidato à reeleição, foi alvo de críticas dos participantes, principalmente de Boulos e Datena, que chegaram a fazer “dobradinha” para os ataques.

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Com regras rígidas, os candidatos estavam proibidos de fazer gestos desrespeitosos, exibir objetos, documentos ou outros itens que ajudassem na argumentação e usar palavras grosseiras, vulgares, obscenas e palavrões. Eles também não podiam deixar seus lugares durante o debate.


Marçal foi o único a ser advertido pelo mediador Eduardo Ribeiro, perdendo 30 segundos nas considerações finais. Em resposta a uma pergunta de Marina Helena, Marçal chamou o candidato do PSOL de “Boules”. Rapidamente, pediu desculpas, mas recebeu a advertência, já que as regras do confronto proibiam o uso de apelidos.

Direito de resposta

Os candidatos pediram direito de resposta 11 vezes. Foram sete no primeiro bloco e quatro no segundo. Todos os pedidos foram negados pela organização.


Pela ordem do sorteio, Boulos foi o primeiro a perguntar e escolheu Datena para responder sobre propostas para a população de rua. Datena “deu sua palavra” sobre manter um nível de respeito no debate. O apresentador comparou a situação das pessoas que vivem na rua a de um “genocídio”, e falou que é preciso que a saúde chegue até essa população. “Onde estão os braços sociais da Prefeitura de São Paulo, que não aparecem?”, questionou.

Boulos afirmou que o candidato tem razão, e falou que vai resolver o problema da população de rua com “moradia, acolhimento humanizado e geração de renda”. O psolista afirmou que sonha em ser prefeito para “devolver a esperança e capacidade de sonhar” para a população que mais precisa. Em dobradinha, os dois candidatos seguiram falando de suas próprias propostas. Datena afirmou que quer “dar dignidade” para os usuários de drogas, que também fazem parte da população de rua.


Marçal perguntou a Nunes sobre problemas educacionais. Disse que esteve em bairros de São Paulo e colheu assinaturas de crianças de 10, 11 anos, que não sabem escrever. Ele afirmou que os índices educacionais são muito ruins e questionou Ricardo Nunes sobre a questão.

Nunes rebateu que pelo quarto ano consecutivo todas as crianças têm vagas em creches. “Recebem cinco refeições por dia. É a base”. Nunes disse ainda que na área educacional contratou 15 mil professores.

Marçal afirmou que o atual prefeito não apontou os erros e “não admitiu que errou”. Segundo ele, cidades como Goiânia e Palmas estão com índices melhores que os da capital paulista na área educacional. Ele questionou Nunes sobre operação da polícia que investiga uma suposta quadrilha que ficou conhecida como “máfia das creches” em São Paulo.

Nunes rebateu novamente, citando não ter sido indiciado no caso. Ele lembrou condenação de Marçal ocorrida há mais de 10 anos que esta prescrita por participação em quadrilha que desviava dinheiro de bancos por meio de golpes pela internet.

Educação

Tabata escolheu Boulos para responder sobre parcerias de entidades privadas com a Prefeitura para fazer a gestão de creches públicas e o que o candidato pensa sobre essas parcerias. Boulos afirmou que “tem condições e capacidade de aprender, quando vê uma experiência”, dizendo que vai manter as creches conveniadas e fortalecer os convênios, assim como disse que fará na rede pública.

O candidato também afirmou que quer implementar a educação integral nas escolas públicas, garantindo alimentação e atendimento psicológico para os estudantes. Tabata afirmou que é “preciso separar o joio e o trigo”, dizendo que não há padronização dos modelos implementados nas escolas.

Tabata questionou novamente o candidato sobre mudanças de posicionamento de Boulos, sobre legalização das drogas e ditadura na Venezuela, por exemplo. Ele “lamentou” que a candidata trouxesse “questões que não procedem com a verdade” para o debate, e que prefeito não governa só para seu partido e suas ideias, mas sim “para a cidade inteira”.

Ricardo Nunes citou obra para atendimento de pessoas autistas e questionou Marina Helena sobre propostas nessa área de atuação.

Maria Helena não respondeu diretamente sobre a questão, mas de maneira geral. A candidata do Novo afirmou ser necessário direito de escolha para os pais. “Hoje, a única opção é a péssima escola pública”. Ela pretende mostrar aos moradores paulistas métodos para que as crianças possam estudar, por exemplo, em escolas particulares.

Nunes citou em réplica que inaugurará neste ano um centro para pessoas autistas. Ele prometeu outras três unidades espalhadas por regiões de São Paulo.

Datena escolheu Tabata para perguntar sobre a segurança pública da cidade e as propostas dela para a área. “Fica evidente que a Prefeitura perdeu o controle” sobre a segurança da cidade, afirmou Tabata, dizendo que é importante eleger um candidato que possa dialogar com o governo do estado, que divide a responsabilidade sobre a segurança da cidade.

Datena disse que “há 26 anos tenta combater a violência indiscriminada em uma cidade ‘largada ao léu’”, se referindo a sua carreira como apresentador de programas policiais. “Sempre defendi tolerância zero com bandido, mas dentro da legalidade. Tiroteio com bandido, dentro da legalidade”, afirmou.

Tabata falou que pretende remunerar os guardas da Guarda Civil Municipal (GCM) que atuarem em regiões mais perigosas da cidade, e voltou a falar sobre sua proposta de desmantelar a rede de receptação de celulares.

Marina perguntou para Marçal sobre diminuição de impostos. A candidata Marina Helena citou o orçamento paulistano de R$ 110 bilhões. Para ela, isso significa que estão tirando dinheiro do bolso do contribuinte. Ela perguntou o plano de Marçal para reduzir impostos.

Marçal usou o tempo para dizer que Ricardo Nunes não respondeu questões e disse não ter encostado no dinheiro de ninguém de forma ilícita. “Se eu fiz isso, eu pago quatro vezes mais”, afirmou sobre processo envolvendo quadrilha de Goiás.

Marina cobrou Marçal por não ter respondido sua questão sobre impostos. A candidata do Novo disse que o brasileiro trabalha quase metade do ano para pagar impostos e não pode andar com celular no bolso diante da violência na capital.

Candidato do PRTB disse que não usa dinheiro público para fazer campanha eleitoral e prometeu 2 milhões de vagas de emprego em São Paulo.

Perguntas de jornalistas

A jornalista Christina Lemos, do Jornal da Record, perguntou para o prefeito Ricardo Nunes sobre a possível indicação que o ex-presidente Jair Bolsonaro possa fazer em uma eventual nova gestão de Nunes, já que seu vice foi uma indicação do PL. Nunes disse que tem muito orgulho do coronel Mello Araújo, do trabalho que desempenhou na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e à frente do Rota, da Polícia Militar de São Paulo, e da frente ampla formada pelo seu partido.

Boulos, escolhido para comentar, mencionou que Nunes não respondeu à pergunta da jornalista. “Tem coisas que não tem resposta, como, por exemplo, como ele ficou três anos na Prefeitura e fez tão pouco”, disse. Boulos afirmou que o vice de Nunes já disse que “o morador da periferia tem que ser tratado pior do que o morador dos Jardins”, convidando os telespectadores a irem às suas redes verem a declaração de Mello Araújo.

Nunes disse que Boulos não tem “experiência nenhuma” na administração pública, afirmando que “a única grande ação” como político foi “liberar Janones das rachadinhas”, se referindo ao caso em que Boulos foi relator na Comissão de Ética na Câmara dos Deputados, envolvendo suspeita de esquema de rachadinhas supostamente praticado pelo deputado federal André Janones (Avante-MG).

O jornalista Rafael Algarte, da Record News, questionou Marçal sobre o presidente nacional do PRTB, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, ser acusado de ligação com crime organizado (PCC) e qual a participação dele e de outros integrantes do PRTB em um eventual governo.

Marçal disse que o partido é para viabilizá-lo de maneira eleitoral. “Não foi instaurado nenhum procedimento (investigatório) e se for, espero que pague”, afirmou sobre Avalanche. Ele disse ainda que o líder de seu partido resistiu a todos os ataques para viabilizar o nome de Marçal na eleição paulistana.

Tabata citou que o PCC utilizou, segundo a polícia, R$ 8 bilhões para utilizar nas campanhas eleitorais deste ano. Disse estar preocupada por pessoas próximas de Marçal no PRTB por supostas ligações com o PCC.

A jornalista Bruna Lima, do Portal R7, perguntou para Boulos sobre seus anos na liderança no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e como o candidato conduzirá a questão das invasões caso seja eleito, além de quem será seu secretário de Habitação.

Boulos afirmou que tem orgulho de sua trajetória de mais de 20 anos “ao lado de pessoas que não têm casa”. O deputado federal disse que vai promover a maior política de habitação social e regularização fundiária que a cidade já teve, e que, por isso, “não haverá ocupações”.

Marina Helena, escolhida para comentar a resposta de Boulos, disse que o candidato “invadiu e quebrou” prédios públicos e ministérios, comparando as supostas ações aos golpistas que invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes no 8 de Janeiro. Marina falou sobre supostas denúncias e esquemas envolvendo o movimento social, afirmando que as ações nunca se trataram de “dar moradia para as pessoas”.

Segundo bloco

No segundo bloco do programa, foi de confronto direto entre candidatos com tema livre, no formato de pergunta e resposta. O candidato Guilherme Boulos questionou Ricardo Nunes sobre apagão que atingiu São Paulo no dia 5 de novembro de 2023, após tempestade. O candidato do PSOL perguntou onde Nunes estava naquele momento.

Nunes não respondeu. Ele disse que Boulos, como deputado federal, livrou André Janones (Avante-MG) de ser responsabilizado pelo esquema de “rachadinha” em parecer na CCJ da Câmara dos Deputados. O prefeito citou obras de sua gestão e construção de 72 mil moradias para população paulistana.

Boulos rebateu e disse considerar “rachadinha” crime. “Independente se é o Janones ou o Flávio Bolsonaro, que segundo ele é amigo do Nunes”. Boulos disse que no dia 5 de novembro, durante apagão, Nunes estava em camarote da UFC.

Nunes rebateu e disse que no dia 23 de setembro de 2015, Boulos invadiu o Ministério da Fazenda. “Tem foto (do Boulos) em cima da mesa”. O candidato do MDB afirmou ter feito reclamações contra a Enel, responsável pela energia elétrica na capital, em Brasília.

A candidata do Novo perguntou ao psolista sobre a suposta obrigatoriedade de ele seguir os princípios de seu partido que, segundo ela, defende a “expropriação de grandes empresas” e de terras improdutivas em seu estatuto. Boulos afirmou que essas questões não impactam diretamente na vida das pessoas, que precisam que os problemas diários da cidade sejam resolvidos.

Marina afirmou que o deputado não respondeu ao seu questionamento, afirmando que é preciso “ter respeito à propriedade”, acrescentando ainda que o partido do candidato defende o desarmamento da GCM. A economista disse que o “método Paulo Freire”, que segundo ela, é defendido pelo candidato, é responsável pelas crianças “não serem alfabetizadas”. O candidato qualificou como “fake news” as afirmações da candidata sobre “doutrinação” nas escolas.

O candidato Pablo Marçal perguntou para Datena sobre o pior prefeito de São Paulo. Datena disse que a pergunta era difícil e começou a criticar o atual prefeito, Ricardo Nunes. “Quantas calçadas que ele prometeu, que o Bruno (Covas) prometeu e ele (Nunes) não fez? Pode não ser o pior prefeito, mas está ali”, disse o jornalista, que completou dizendo que Nunes não cumpriu 50% das promessas de Covas.

Em resposta, Marçal afirmou já ter dito que o pior prefeito da capital foi Fernando Haddad (PT), mas quis se corrigir. “O prefeito Ricardo está no lugar. Temos o pior ar do mundo, milhares de crianças na rua, aumento de criminalidade”, disse o candidato do PRTB.

Datena finalizou dizendo que Nunes precisava ter mais zelo em sua administração. O tucano voltou a citar que o PCC estava no sistema de transporte da capital. “Será que o Ricardo sabia?”, questionou.

Tabata questionou Marina Helena sobre as propostas da candidata para as pessoas em situação de rua, principalmente para os idosos. A economista disse que pretende “cuidar dessas pessoas”, mas que quer, principalmente, “dar uma porta de saída” para que elas deixem as ruas. A candidata do Novo disse que questiona se há em curso uma “indústria da miséria” na cidade, se referindo às organizações que atuam em apoio às pessoas em situação de rua.

“Quando a gente fala em quem tá na rua, temos que entender que são serem humanos com questões tão complexas como as nossas”, afirmou Tabata, chamando atenção para o abandono dos idosos, parte da população que vive nas ruas. A candidata falou em uma proposta de condomínios que acolham os idosos, para que vivam “com qualidade e sendo cuidadas”.

Marina Helena acusou Tabata de plagiar projetos de outros deputados federais, afirmando que é preciso “vencer na vida, mas sem passar por cima de ninguém”.

Último bloco

No terceiro e último bloco, os candidatos fizeram as considerações finais. Datena fechou sua participação dizendo que debate teve alto nível. O candidato PSDB afirmou se sentir feliz por ter ficado mais de 30 anos anos mostrando os problemas e soluções para a cidade de São Paulo. “Espero que tenham ficado satisfeitos com nível da discussão. Hoje, nós nos aproximamos do que deve ser a democracia”, disse o tucano.

Por ter pedido 30 minutos por causa de advertência, Marçal teve um minuto para se despedir. O candidato afirmou que o debate foi de “alto nível”, e que os eleitores só podem confiar nele, já que é o único que tem experiência em administrar empresas.

Guilherme Boulos afirmou que São Paulo precisa ter “prefeito de novo”, como na época de Marta Suplicy, que é sua vice-candidata, “porque a periferia está abandonada e largada”. “Não querem a mudança, tem muito interesse por trás”, disse o candidato do PSOL.

Em sua despedida, Tabata afirmou que tem orgulho de sua origem, “de quem veio de baixo”. “Quero ser prefeita de São Paulo para que minha história não seja mais a exceção”, afirmou a candidata do PSB.

Marina Helena terminou sua participação dizendo que quer acabar com cabide de empregos e replicar em São Paulo sua experiência durante trabalho no governo federal. “Se acabar com a corrupção, vai sobrar mais dinheiro para cuidar de você. Vote em quem você traria para cuidar dos seus filhos. É isso que a gente precisa, de pessoas honestas.”

Na despedida, Ricardo Nunes citou uma passagem bíblica. “A humildade é algo fundamental. Sei que tem muita coisa para fazer, mas a gente tá fazendo bastante coisa nesse trabalho com o governador Tarcísio (Tarcísio de Freitas). Quero agradecer a todos os que estão nos ajudando nessa jornada e continuar olhando para frente, cuidando de gente”, disse.

Veja a íntegra do debate

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