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Debate decisivo da RECORD traz ataques e acusações, a uma semana do 2° turno em SP

Evento em parceria com o Estadão reuniu o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL)

Eleições 2024|Vivian Masutti, do R7

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), durante debate da RECORD/Estadão Montagem com fotos de Antonio Chahestian/RECORD e Edu Moraes/RECORD - 19.10.2024

A uma semana do segundo turno das eleições mais acirradas da Prefeitura de São Paulo desde a redemocratização, o debate promovido pela RECORD, em parceria com o Estadão e a rádio Eldorado, neste sábado (19), foi marcado por uma escalada de ataques e acusações entre o prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) — diferentemente da discussão do primeiro turno, que foi cordial e priorizou a apresentação de propostas.

Enquanto Nunes insistiu em dizer que Boulos queria “o fim da Polícia Militar”, o deputado pediu diversas vezes que o oponente “abrisse suas contas bancárias”. O apagão generalizado que a cidade sofreu, após temporal na sexta-feira (11), também foi um dos principais temas.

Em um dos momentos mais tensos, o candidato do PSOL disse que “Nunes falando de corrupção parece o casal Nardoni falando de cuidar dos filhos” — referência à dupla condenada por homicídio qualificado pela morte de Isabella Nardoni, em 2008.

Foram oito pedidos de resposta, cinco deles atendidos: três de Nunes e dois de Boulos.


Mediado pelo jornalista Eduardo Ribeiro entre as 21h e as 23h, o programa foi exibido ao vivo também pelo Portal R7, pelo Playplus e pelas plataformas digitais da empresa. Foram, ao todo, três blocos.

Em pesquisa do Instituto Real Time Big Data divulgada na última segunda (14), Nunes aparece com 53% das intenções de voto, e Boulos, com 39%. Já o Datafolha desta quinta (17) apontou o primeiro com 51% e o segundo com 33%.


No primeiro turno, o prefeito obteve 1.801.139 votos (29,48% dos votos válidos), enquanto o deputado federal recebeu 1.776.127 (29,07%).

O debate teve três blocos e dois intervalos. O primeiro e o segundo foram compostos por perguntas dos jornalistas e por confronto direto, com direito a réplica e tréplica. A última etapa deu dois minutos a cada candidato, para que fizessem duas considerações finais.


Primeiro bloco

Ricardo Nunes (MDB) foi o primeiro a perguntar. Questionou se Guilherme Boulos (PSOL) era contra a Polícia Militar. O deputado tergiversou e lembrou do apagão generalizado que atingiu a capital paulistana a partir de sexta-feira. “A mãe do apagão é a Enel. O pai é o Ricardo Nunes”, disse.

O prefeito rebateu, dizendo que a fiscalização da empresa é de responsabilidade do governo federal. E retomou a pergunta. Boulos novamente saiu do assunto e disse que a poda de árvores é dever da prefeitura: “Um líder precisa ter capacidade de reconhecer erro.”

O candidato do PSOL questionou se o paulistano encontra o remédio de que precisa no posto de saúde municipal. Desta vez, foi o prefeito quem fugiu da questão e voltou a destacar que o Ministério das Minas e Energias é o responsável pela manutenção da Enel — empresa que fornece energia à região metropolitana.

Depois, culpou o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) por metas não cumpridas na área da saúde. ”Vamos ter o Poupatempo da Saúde com todos os especialistas no Capão, em Guaianases e em São Matheus”, prometeu Boulos — que questionou o oponente se ele aprovou a condução que o governo Bolsonaro (PL) deu à pandemia.

Eduardo Ribeiro apresenta regras para o debate da RECORD/Estadão com os candidatos à prefeitura de SP Reprodução

Nunes, então, interpelou o rival sobre liberação de drogas, fim da Polícia Militar e legalização do aborto.

“Defendo a polícia que não diferencia o rico do pobre. Um dependente químico precisa ser preso ou tratado e resgatado? Defendo a vida, mas o prefeito tem que cumprir a lei”, disse Boulos, ao convocar o oponente a abrir seu sigilo bancário.

“Que moral você tem? Nunca tive indiciamento nem passei pano para nada errado”, afirmou o prefeito, antes de o deputado do PSOL pedir novamente acesso às suas contas.

O tema do Bolsa Família foi levantado por Boulos, que questionou “onde Nunes errou”. O prefeito aproveitou para citar a implementação da tarifa zero aos domingos. “Você tem história de vida de invadir e depredar”, disse Nunes. “Você ficou seis anos fugindo da Justiça.”

O candidato do PSOL, então, pediu que o prefeito “se acalmasse” e voltou ao Bolsa Família: “Ele foi fazer mutirões só às vésperas das eleições”.

A jornalista Christina Lemos, apresentadora do Jornal da Record, questionou Boulos sobre a derrubada do veto do presidente que acabou com as saidinhas para visitar familiares. O deputado citou o grupo Racionais MC’s em sua resposta, na qual lembrou das três eleições de Lula. “Você pode rir, mas não desacredita, pois a virada vai vir esta semana.”

“Bandido tem que ficar preso para dar sossego ao trabalhador”, disse Nunes, que voltou a indagar o oponente sobre “ser contra a Polícia Militar”.

O prefeito ganhou direito de resposta, após Boulos falar que “bandido tem que estar preso, não em debate”: “Uma pessoa que invadiu terreno particular vem falar em máfia de creche. Nunca tive indiciamento nem condenação. Extremista agressivo”.

Roseann Kennedy, do Estadão, lembrou da privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e indagou o que será feito se a empresa interromper o fornecimento de água.

Nunes disse que seu contrato foi rígido: “A privatização da Sabesp garante universalização do saneamento. Serão R$ 68 bilhões de investimento, para ter rede de esgoto tratada até 2029”.

No comentário da resposta, Boulos afirmou que “a Sabesp pode ser a Enel da água” e disse que, se houver interrupção de água, “Nunes vai vestir coletinho”.

Reinaldo Gottino, apresentador do Balanço Geral, da RECORD, perguntou se Boulos está preparado para assumir a prefeitura sem ter ocupado cargo no Executivo. “Tenho um time com a Marta [Suplicy, candidata a vice] ao lado e com o apoio do presidente Lula. Eles também não tinham ocupado cargo no Executivo antes de serem eleitos.”

“Bateu o desespero”, rebateu Nunes, no comentário à pergunta. “Você realmente não tem experiência de nada”, disse o prefeito.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) Reprodução

Repórter especial do Estadão, Marcelo Godoy perguntou se Nunes fica seguro andando no centro da cidade às 23h e questionou o que um prefeito deve fazer para que o eleitor tenha segurança. “Esse é um dos principais temas para todas as pessoas”, afirmou o prefeito, ao dizer que deu aumento a guardas civis e melhorou os equipamentos usados por eles, mas não respondeu a Godoy.

Ao fim, o mediador, Eduardo Ribeiro, pediu que os candidatos não falassem fora do tempo estipulado e disse que, se isso ocorresse no segundo bloco, eles seriam punidos.

Segundo bloco

Na etapa seguinte, Nunes perguntou a Boulos sobre geração de emprego e afirmou ter reduzido impostos. “Mas, infelizmente, o PSOL votou contrário. Por que vocês são contra a redução de impostos?”

Boulos rebateu o prefeito, questionando mais uma vez sobre o candidato a vice, Mello Araújo, e o posicionamento do coronel “em tratar de forma diferente moradores de bairros nobres e periferia”.

Nunes voltou a falar que o PSOL votou contra “todos os projetos que tratam da redução de impostos”, enquanto Boulos afirmou que o prefeito propôs “uma taxa para que os fios de energia elétrica fossem enterrados”.

O deputado federal citou os CEUs, os Centros Educacionais Unificados, implementados por Marta em sua gestão. “Você nunca criou nenhum. Foi por incompetência?”

Nunes disse que reformou 46 CEUs e que há 12 em obras. E voltou a afirmar que Boulos depredou a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). “Não vou abrir conta para você, pois você não tem moral.”

O deputado, então, falou sobre a proposta de criar os “CEUs profissões”. “É para o jovem do Grajaú ter a mesma oportunidade que o rico tem.”

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) Reprodução

Nunes citou o projeto Meu Trampo e voltou a questionar o rival se ele se arrependia “de depredar a Fiesp”.

Boulos teve um direito de resposta atendido, após Nunes falar sobre “moral” e disse que, todas as vezes em que participou de manifestações, “foi para defender os pobres”. “Não sou investigado por desvio de dinheiro de creche.”

Nunes, então, questionou sobre a invasão da Vila Nova Palestina, uma área de mananciais. O deputado respondeu que a comunidade luta “por moradias dignas” e emendou uma pergunta sobre a criação de corredores de ônibus em São Paulo. “Onde você errou na questão do transporte público?”

Nunes respondeu que “está fazendo mais do que prometeu”, priorizando o transporte coletivo. Ao que Boulos lançou: “Nunes falando de corrupção parece o casal Nardoni falando de cuidar dos filhos”.

E o prefeito obteve mais um direito de resposta. “A Justiça condenou o Boulos 17 vezes só no segundo turno. Ele virou craque em inventar mentiras.”

O candidato do MDB pediu respeito à memória de Bruno Covas (PSDB), morto de câncer em 2022, citou a regularização das contas da prefeitura e disse que abrirá as suas caso a Justiça lhe peça.

Christina Lemos questionou o prefeito, então, em caso de ruptura com a Enel, qual seria a hipótese de substituição da empresa. Nunes voltou a afirmar que é o governo federal quem pode decretar a intervenção ou a caducidade do contrato.

Boulos, neste momento, também obteve mais um direito de resposta. “Fui acusado de tudo quanto é coisa, porque minha candidatura representa a mudança. Lamentável, cara.”

O clima pesou e Eduardo Ribeiro voltou a pedir silêncio aos assessores.

Boulos, por fim, defendeu “o rompimento imediato com a Enel”. “Vamos trabalhar para isso e assumir responsabilidade. A prefeitura tem que fazer poda de árvore.”

Roseann Kennedy questionou o deputado sobre a questão do aterramento dos fios de eletricidade. Ele disse que, em um primeiro momento, deve focar as comunidades vulneráveis. “Sou corintiano e quero falar com amigos flamenguistas. É assim que quero fazer, com parcerias”, disse Boulos, que lançou: “Olha, eu bati o carro, mas nunca bati em mulher”.

“Quero me solidarizar com a Ana Carolina [Oliveira], mãe da Isabela Nardoni”, disse Nunes, que pediu o voto em “alguém que respeite as pessoas”.

Reinaldo Gottino questionou o prefeito se a tarifa do ônibus vai aumentar. “Mantive a tarifa congelada por quatro anos. Vou ampliar linhas do metrô e melhorar a questão da mobilidade”, disse Nunes — sem responder ao apresentador do Balanço Geral.

Marcelo Godoy foi o último a fazer uma pergunta e a direcionou ao candidato do PSOL: o questionou sobre a licitação que permitiu que os “perueiros” participassem do transporte público da capital.

O deputado federal, então, prometeu “passar a limpo os contratos” de ônibus no primeiro dia de um eventual governo.

Considerações finais

Guilherme Boulos foi o primeiro a falar com o público: “Você que votou na Tabata Amaral [PSB], no José Luiz Datena [PSDB], no Pablo Marçal [PRTB], quero falar com você, que votou pela mudança, assim como você que votou em mim. Não se deixe amedrontar”.

Ricardo Nunes, então, fez a última declaração da noite: “Eu me preparei. Peguei a prefeitura em um momento difícil e ajustamos a saúde financeira da cidade. Estou com muita vontade e energia. Infelizmente, o outro candidato só ofendeu a memória da Isabella Nardoni. Quero falar de futuro, de mais faixa azul. Vou fazer mais 15 UPAs, gerar emprego, oportunidade”.

Veja as duas na íntegra

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