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Black Blocs serão lembrados apenas pela violência

Agressividade nos protestos não tem sentido prático no médio ou longo prazo

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7

Ações do grupo Black Bloc visam a destruição de símbolos capitalistas e são contra o aparato repressivo do Estado
Ações do grupo Black Bloc visam a destruição de símbolos capitalistas e são contra o aparato repressivo do Estado

Os atos de violência praticados por grupos como o Black Bloc — que se tornaram famosos recentemente durante protestos no Brasil e no mundo — mostram o rechaço ao sistema político-econômico atual, mas pecam no mais importante: oferecer um novo modelo de organização política.

Sem um objetivo claro que justifique os meios radicais adotados por estes ativistas, tais atos se tornam vazios e perdem legitimidade. Com o tempo, estes grupos serão lembrados apenas pelos seus estragos, e não por seus ideais ou propostas.

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O comportamento excessivo desses grupos é, para muitos, incompatível com os valores libertários anarquistas supostamente defendidos por eles. Ao mesmo tempo, a polêmica conduta soa ultrapassada diante dos avanços das democracias ocidentais, das tecnologias de informação e dos exemplos bem-sucedidos de revoltas recentes não violentas.

Tais protestos agressivos, como os promovidos pelo Black Bloc, fizeram e ainda fazem sentido em ambientes autoritários. Mas os casos de conquistas sociais, que derrotaram até ditaduras sem a utilização da força bruta, mostram que existem alternativas pacificas eficazes para reformas e revoluções, quando uma comunidade compartilha de interesses e metas concretas.


O grupo anarquista, ao ignorar tais exemplos, está atropelando o ambiente coletivo em que está inserido, expondo assim uma impermeabilidade ideológica discriminatória e um raciocínio dualista ultrapassado.

Em fevereiro de 2011, o povo egípcio deu um exemplo de desobediência civil pacífica e objetiva: após 18 dias de ocupação da praça Tahrir, no centro do Cairo, conseguiu depor o ditador Hosni Mubarak, que estava no poder havia 30 anos.


Independente das origens e ideias políticas dos manifestantes, e de alguns casos isolados de brutalidade, todos que se mobilizaram na ocasião tinham um objetivo em comum: derrubar pacificamente o regime autoritário e instituir um Estado democrático. O levante em questão acompanhou os movimentos vizinhos da Primavera Árabe, que indiscutivelmente conferiu aos novos meios de comunicação um papel vital na organização, vocalização e documentação dos levantes civis.

No Egito, houve uma espontaneidade popular incrível contra os abusos cometidos pelo Estado. A persistência das ruas, apesar da repressão policial, expôs a indignação do povo, ameaçando as instituições nacionais.

A predominância dos atos não violentos de desobediência civil destes movimentos permitiu a consolidação de uma luta comum e aberta a todos. Vale lembrar que, no Egito, os protestos tinham objetivos claros e compartilhados pela maioria.

Se o Black Bloc, ao invés de se apresentar unicamente como um movimento de "ação direta" que visa atacar os símbolos capitalistas e estatais, fizesse parte de uma iniciativa planejada, com estratégias políticas, econômicas e administrativas para um fim palpável, seus atos teriam algum sentido no médio e longo prazo.

Atualmente, o grupo está investindo energia para fazer "performances" revolucionárias, alimentando os jornais com imagens polêmicas similares às de uma verdadeira batalha campal. Ao que parece, o movimento esqueceu que as reformas e transformações sociais de grande impacto exigem propostas reais e convincentes que justifiquem ao povo a substituição da ordem vigente.

De fato, a passividade do povo também pode se prejudicial. Certos cenários tornaram os levantes civis uma questão de sobrevivência, como ocorreu na Alemanha nazista, onde boa parte da nação se submeteu calada às atrocidades de Adolph Hitler. A miséria é outro sofrimento que, quando ignorado, pode gerar situações calamitosas e conduzir os cidadãos a atitudes mais radicais. As revoluções russa (1917) e francesa (1789) são dois claros exemplos de que, às vezes, é preciso ir além dos protestos pacíficos.

Mas hoje os tempos são outros. O Brasil especificamente não vive em um autoritarismo aristocrático brutal, sua economia é bem menos desigual que no passado e a miséria e a desigualdade social estão distantes da Rússia e da França pré-revolucionárias.

No quadro atual, o Black Bloc brasileiro está agindo contra a imagem de muitos grupos e pensadores anarquistas. Ao espectador, a brutalidade destes ativistas dá a ideia de que os radicais de esquerda buscam a desordem pela desordem sem um horizonte pragmático. Concomitantemente, seus atos acabam ratificando a violência repressiva contra qualquer tipo de manifestação e ofuscam demandas legitimas dos demais cidadãos. 

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