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Cidade na fronteira irlandesa volta a ser foco de tensões com Brexit

Explosão de carro em Londonderry, assumida por suposto "novo IRA", pode sinalizar retorno de problemas na fronteira entre as Irlandas

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Monumento em homenagem à paz nas Irlandas e adesivo 'sem fronteira, sem Brexit'
Monumento em homenagem à paz nas Irlandas e adesivo 'sem fronteira, sem Brexit' Monumento em homenagem à paz nas Irlandas e adesivo 'sem fronteira, sem Brexit'

Londonderry para os norte-irlandeses, britânicos em geral e nos documentos oficiais, e Derry para os irlandeses. A cidade de 100 mil habitantes, que fica na Irlanda do Norte, a metros da fronteira com a República da Irlanda, voltou a ser palco de tensões com as incertezas causadas pela falta de um pacto definitivo para o Brexit, a saída do Reino Unido da UE (União Europeia).

No último dia 19, um carro explodiu no centro histórico de Londonderry. Um possível protesto contra a ideia de se criar uma separação física entre os dois países que dividem a mesma ilha, uma ideia abolida há mais de 20 anos quando foi fechado o acordo de paz.

Nesta semana, um grupo que se identificou como "novo IRA" assumiu a responsabilidade pelo atentado, que não deixou vítimas. A polícia ainda não sabe, no entanto, se a alegação é legítima e se esse possível grupo teria capacidade para novos atos de violência.

Fronteira de tensões

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A fronteira entre a Irlanda do Norte, de maioria protestante e que faz parte do Reino Unido, e a República da Irlanda, de maioria católica, está aberta desde que o acordo de paz firmado em 1998 encerrou mais de três décadas de conflitos.

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Agora, tudo pode mudar. Há famílias dos dois lados da divisa, fazendas que têm parte do terreno na Irlanda e na Irlanda do Norte. E ninguém sabe se a fronteira terá uma divisão física, com controle alfandegário, guaritas, cercas, ou se tudo permanecerá como está.

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Para Leonardo Paz, professor no Departamento de Relações Internacionais no Ibmec-RJ, a incerteza causada pela falta de um acordo para o Brexit dificilmente irá resultar em novos conflitos.

"A solução armada na Europa como um todo está se extinguindo. O continente, de uma maneira geral, é muito sensível à questão do terrorismo, por todos os atentados do Daesh. Qualquer grupo que use a violência pra exigir alguma coisa seria rechaçado imediatamente", analisa.

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Nacionalismo pode voltar

Por outro lado, problemas em uma possível fronteira física entre os países podem causar o fortalecimento de movimentos nacionalistas nas duas Irlandas.

"Talvez surjam grupos que voltarão com a ideia de uma Irlanda unida, possivelmente fora do Reino Unido e reintegrado com a Europa, como os nacionalistas da Escócia estão tentando. Mas isso é muito difícil. Acho que vão criar um regime de alfândega diferenciado para a Irlanda e isso pode causar atritos", afirma Paz.

Como a divisão entre as Irlandas seria a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a União Europeia, a questão de como seria administrada a entrada e saída de pessoas, bens e serviços vem atravancando as negociações do Brexit.

"Todas as partes têm dito que são contra uma fronteira fechada, todos concordam que não deveria haver, mas tem que haver um acordo. Um dos pontos do Brexit seria fechar o fluxo de imigração [para o Reino Unido] e fica um buraco ali. Não tem uma solução fácil", diz o professor.

Negociações continuam

De todo modo, afirma Leonardo Paz, a situação ainda depende de diversos fatores: se a primeira-ministra britânica Theresa May irá fechar um novo acordo com a UE, que acordo seria esse e como ficaria a questão da fronteira. Nem mesmo a possibilidade de um segundo referendo pode ser descartada.

"Pode dar alguma briga, nem a Theresa May sabe o que vai acontecer. A União Europeia está fazendo uma barganha muito pesada. O Reino Unido se meteu em uma enrascada ali, o referendo do Brexit foi um péssimo cálculo político e eles vão ter que fazer algo", explica.

O Brexit tem sua data final daqui a menos de dois meses. Em 29 de março, o Reino Unido deve se separar da União Europeia. Com ou sem acordo, os moradores de Derry não fazem ideia de como será o futuro na fronteira.

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