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Com baixa procura dos portugueses, brasileiros dominam universidades

Brasileiros e portugueses não disputam as mesmas vagas, mas número de estrangeiros cresce à medida que locais buscam alternativas

Internacional|Beatriz Sanz, do R7

Coimbra é a Universidade mais cara para brasileiros
Coimbra é a Universidade mais cara para brasileiros Coimbra é a Universidade mais cara para brasileiros

Portugal vive um dilema. Enquanto 98% das crianças entre 5 e 14 anos e 89% dos adolescentes entre 15 e 19 anos estão devidamente matriculados na escola, os números se invertem quando chega a idade de entrar na universidade.

São apenas 37% dos jovens entre 20 e 24 anos que estão matriculados em alguma universidade.

Na contramão desse declínio no estudo universitário português, aumenta o número de brasileiros que fazem as malas em busca de conhecimento do outro lado do Atlântico.

É possível até mesmo utilizar a nota do Enem para conquistar uma vaga nas universidades portuguesas.

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Segundo dados do Consulado Geral de Portugal em São Paulo, em 2018, 30% dos estudantes estrangeiros que vivem no país são brasileiros.

Ainda assim, os brasileiros não estão ocupando as vagas ociosas deixadas pelos portugueses, já que os processos de seleção são diferentes.

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Ensino superior vs ensino técnico

Uma das explicações para o fenômeno, levando em consideração que Portugal tem algumas das universidades mais antigas da Europa, é o crescimento rápido do ensino técnico no país.

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Para o ano letivo de 2019, as instituições de ensino de Portugal disponibilizaram mais de 15 mil vagas para o ensino técnico. O número vem crescendo ano a ano.

O governo português chegou à conclusão de que com a procura do jovem pelo ensino técnico para ingressar no mercado de trabalho, ele provavelmente não voltará para a universitária.

Além disso, como o currículo é diferente, muitas vezes, eles não conseguem boas notas nas provas de vestibular.

Mudanças nos currículos do ensino técnico já foram anunciadas, mas ainda não entraram em vigor.

Desafios para brasileiros

Mesmo tendo nascido em Portugal, Fabiana Chaves Martins, 23, conta que sofreu xenofobia por ser filha de brasileiros.

A jovem não possui dupla cidadania, mesmo que tenha vivido a maior parte da sua vida na Europa. Assim, seu registro na Universidade de Porto, onde cursa sociologia, é de estrangeira.

Ela é uma das testemunhas do fenômeno que é a ausência de jovens portugueses nos bancos universitários, já que possui mais colegas brasileiros do que nativos.

“Colegas brasileiros são mais acolhedores, talvez por entenderem que Portugal, apesar da língua ser semelhante em alguns aspectos, é substancialmente diferente em aspectos culturais”, conta. Fabiana não tem bolsa de estudos e paga as despesas de seus estudos.

O Vice-Reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Amaro de Matos, explica que as universidades públicas em Portugal cobram apenas uma anuidade “simbólica” para portugueses e europeus que custa cerca de R$ 3.400.

No entanto, para alunos que não fazem parte da União Europeia, inclusive brasileiros, os cursos mais baratos vão custar 3.000 euros (cerca de R$ 13.250).

Apesar do número limitado de bolsas de estudos e do preço dos cursos, as universidades portuguesas oferecem programas especiais para que alunos estrangeiros possam se adaptar.

A Universidade Nova de Lisboa, por exemplo, oferece um semestre de teste para alunos que desejam conhecer as instalações. Ao fim do semestre, o estudante pode escolher se vai continuar ou não e pode se adiantar nos estudos, caso tenha bom aproveitamento.

Para além da graduação — universidades portuguesas aceitam a nota do enem —, muitos brasileiros vão para Portugal para fazer a pós-graduação.

Esse é o caso da publicitária Gessica Borges, que faz Mestrado em Estudos Africanos na Universidade do Porto. Gessica também não contou com a o auxílio de nenhuma bolsa e arca com os custos de seus estudos.

A escolha do país aconteceu por fatores como a língua e o custo de vida mais barato que em outros países europeus.

Ainda assim, ela aponta que as diferenças culturais impactaram no ensino. “[Em Portugal] o fazer acadêmico é separado de questões políticas”, afirma.

Pedras nos ‘zucas’

Na última semana, a estudante brasileira Maria Eduarda Calado usou as redes sociais para denunciar cartazes xenófobos na Universidade de Lisboa.

Os estudantes portugueses disponibilizaram uma caixa com pedras para serem atiradas nos “zucas”, termo pejorativo que eles usam para se referir aos brasileiros.

Em entrevista ao R7, o Vice-Reitor da Universidade, Luis Ferreira, afirmou que os portugueses não são xenófobos. “Estes atos são radicalmente repudiados pela Universidade. O que se passou ontem, numa das nossas Escolas, foi um ato isolado, prontamente atalhado, e que esperamos que não se volte a repetir”. Ferreira ainda ressaltou que a universidade abriu um inquérito para investigar o caso.

Ferreira alegou ainda que a universidade fica mais rica com a presença de estrangeiros que contribuem com a diversidade e o intercâmbio cultural.

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