Como é a megaprisão que El Salvador ofereceu para receber criminosos dos EUA?
Presidente Nayib Bukele propôs envio de presos e deportados norte-americanos ao maior presídio da América Latina
Internacional|Do R7

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, quer transformar seu polêmico presídio de segurança máxima em um destino para presos dos Estados Unidos. Na segunda-feira (3), ele ofereceu ao governo norte-americano a possibilidade de enviar criminosos e deportados para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) em troca de uma taxa.
A proposta, divulgada nas próprias redes sociais de Bukele, gerou enorme repercussão. Por um lado, levantou questionamentos legais e críticas internacionais. Por outro, recebeu apoio até mesmo do empresário Elon Musk, que chamou o convite de “ótima ideia” em uma publicação no X.
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Prisão de segurança máxima
O Cecot foi inaugurado em janeiro de 2023 para abrigar membros de gangues como MS-13 e Barrio 18. O complexo, localizado em Tecoluca, a cerca de 75 km da capital San Salvador, tem capacidade para 40 mil detentos, mas confina cerca de 15 mil atualmente, segundo a agência de notícias AFP.
Há oito pavilhões no presídio, cada um com 32 celas reforçadas por grossas barras de ferro e paredes lisas para impedir escaladas. As celas abrigam entre 65 e 70 prisioneiros e são iluminadas 24 horas por dia.
De acordo com a agência AP, os presos dormem em camas de aço inoxidável, sem colchões, e usam uniformes brancos. As refeições consistem principalmente em feijão e macarrão, sem carne. Não há visitas, programas de reabilitação ou atividades educativas.
As saídas das celas ocorrem apenas para audiências judiciais, que podem ser realizadas dentro do próprio complexo, e para exercícios diários de apenas 30 minutos. Tudo sob vigia de mil agentes penitenciários, 600 soldados e 250 policiais da tropa de choque.

Acordo controverso
A proposta de Bukele gerou diferentes reações. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o acordo garantiria maior segurança ao país e elogiou o compromisso de El Salvador em encarcerar membros de gangues violentas.
Ao mesmo tempo, no entanto, ele reconheceu que a legalidade da medida precisa ser avaliada, uma vez que os EUA não podem deportar seus próprios cidadãos. “Temos uma constituição”, ele reconheceu. “Mas é uma oferta muito generosa... obviamente, a administração terá que tomar uma decisão”, disse, segundo a AP.
A oposição salvadorenha criticou a iniciativa. Manuel Flores, líder do partido Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, afirmou que o país estaria se tornando o “quintal de Washington para despejar o lixo”.
Bukele é frequentemente acusado por entidades de direitos humanos de adotar uma repressão violenta sob o pretexto de combater a criminalidade. As prisões de El Salvador eram notoriamente violentas e superlotadas mesmo antes da campanha do presidente contra as gangues.
Segundo a AP, desde março de 2022, o país prendeu mais de 84 mil pessoas, muitas delas detidas sem o devido processo legal.