Crianças brasileiras tiveram de lavar banheiros em abrigo nos EUA
Artigo do The New York Times revelou rotina de algumas crianças que foram separadas dos pais e enviadas a abrigos em outros locais do país
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
As crianças separadas dos pais nos Estados Unidos, após tentativa deles entrarem ilegalmente em território americano, vivem uma rotina dura, em abrigos espalhados pelo país.
Alguns oferecem mesas de piqueniques e até piscinas, segundo artigo do The New York Times, feito por Dan Barry, Miriam Jordan, Annie Correal e Manny Fernandez. Em outros, a infraestrutura não é tão boa.
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Mas, independentemente das condições materiais, há um drama inerente a todas as crianças. Trata-se de um verdadeiro pesadelo estar em um local que muitas vezes fica a milhares de quilômetros de onde estão os pais.
A incerteza é dolorosa. A vida nestes locais, pelo que contou a reportagem, mais se assemelha à rotina dos mais severos colégios internos.
Às crianças são impostas regras rígidas. As normas são concretas e frias. Há determinação para tudo. Em muitos casos, proibição, de mau comportamento, de se sentar no chão, de dividir comida. É proibido até usar apelidos. E chorar.
Um menino chamado Adonias, da Guatemala, recebia injeções para dormir e parar de ficar agitado. Ele jogava tudo ao seu redor.
Quem contou isso à reportagem foi outro menino, o brasileiro Diego Magalhães, de 10 anos, que, percebendo as consequências de qualquer tipo de insubordinação, buscou se comportar bem.
Ele permaneceu 43 dias em um abrigo em Chicago, até a semana passada, quando reencontrou seus parentes.
Na última semana, o governo devolveu, ainda, pouco mais da metade das 103 crianças com menos de 5 anos aos pais migrantes. Mais mais de 2.800, de acordo com o jornal, continuam nestes locais.
Diego conheceu outros dois brasileiros no abrigo: Diogo, 9, e Leonardo, 10. Ficaram amigos, mas, mesmo com algumas "regalias", sentiam dificuldades em lidar com as objeções que lhes eram impostas.
Frequentaram as aulas juntos e até tiveram acesso ao videogame por causa do bom comportamento. Mas tinham de manter a ordem, quase como se fossem adultos.
Despediram-se sem abraço, porque outra regra é a proibição de as crianças se tocarem. Diego comentou sobre uma das obrigações deles no abrigo.
"Você tinha que limpar o banheiro. Eu esfreguei o banheiro. Nós tivemos que remover o saco de lixo cheio de papel higiênico sujo. Todo mundo tinha que fazer isso."
Sobre essa situação imposta a estas crianças, nestas condições de fragilidade emocional, a advogada Karina Quintanilla, especializada em direitos humanos, afirma que se trata de uma violação a mais nos direitos humanos destas famílias.
"A própria situação de criminalizar a migração dessas pessoas sem documentos necessários já é uma violação de direitos humanos. Ainda mais separar os filhos da família e estas crianças ficarem presas, sem contato com os pais, sem saber quando vão sair, sem informações. É um estado completo de violação dos direitos humanos."
A advogada completa:
"Esses trabalhos impostos às crianças encarceradas são trabalhos forçados que se equiparam à tortura. A política de separação e encarceramento de famílias migrantes é uma política de tratamento degradante, gerando traumas que podem ser irreversíveis para o desenvolvimento destas crianças."