Deslocados forçados no mundo superam os 100 milhões pela primeira vez, diz ONU
Para entidade, o número recorde é fonte de preocupação e esse nível jamais deveria ter sido alcançado
Internacional|Do R7
A invasão russa da Ucrânia fez com que o número de deslocados forçados superasse pela primeira vez 100 milhões de pessoas em todo o mundo, informou a ONU nesta segunda-feira (23).
"O número de pessoas forçadas a fugir de conflitos, da violência, dos atropelos aos direitos humanos e da perseguição superou pela primeira vez a assombrosa marca de 100 milhões, impulsionada pela guerra na Ucrânia e por outros conflitos mortais", estimou a Acnur, agência das Nações Unidas para os Refugiados.
"A cifra de 100 milhões é alarmante, preocupante e instrutiva. É um número ao qual nunca se deveria ter chegado", disse o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.
O número deve sacudir o mundo para pôr fim aos conflitos, sugeriu a Acnur em um comunicado. Segundo o organismo, no fim de 2021 havia cerca de 90 milhões de pessoas deslocadas, sobretudo devido à violência em países como Etiópia, Burkina Faso, Mianmar, Nigéria, Afeganistão e República Democrática do Congo.
No caso da Ucrânia, invadida pelas tropas russas em 24 de fevereiro, mais de 8 milhões de pessoas tiveram que fugir para outras regiões do país. Além disso, mais de 6 milhões cruzaram as fronteiras com outros países.
Antes do conflito, a Ucrânia tinha 37 milhões de habitantes nos territórios controlados por Kiev, o que exclui a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e as regiões do leste controladas por separatistas pró-russos.
Para contextualizar o dado de 100 milhões divulgado na segunda, a Acnur destaca que essa cifra representa mais de 1% da população mundial e que só 13 países têm uma população superior a esse número.
O dado inclui refugiados, solicitantes de asilo e mais de 50 milhões de deslocados internos.
"Para inverter essa tendência, a única resposta é a paz e a estabilidade, para que gente inocente não seja obrigada a escolher entre o perigo em casa e a precária fuga e o exílio", disse Grandi.
A Acnur divulgará em 16 de junho, em seu relatório anual, os dados completos dos deslocamentos forçados em 2021.
Mais de dois anos depois do início da pandemia de Covid-19, ao menos 20 países continuam negando o acesso ao asilo a pessoas que fogem de conflitos, da violência e da perseguição, usando como desculpa medidas adotadas para combater a disseminação do vírus.
Na sexta-feira, Grandi pediu a essas nações que suspendam esse tipo de restrição, que contraria um direito humano fundamental.