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Futuro do Haiti após assassinato do presidente é incerto

Para especialistas, a escalada de violência no país deve continuar e uma nova intervenção internacional é pouco provável

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Haitianos se reúnem diante de delegacia onde estavam suspeitos da morte de Jovenel Moise
Haitianos se reúnem diante de delegacia onde estavam suspeitos da morte de Jovenel Moise

O assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, dentro da residência presidencial em Porto Príncipe, na madrugada de quarta-feira (7), é mais um capítulo trágico da história de um país que vive décadas de grave crise social, econômica, política e de segurança pública.

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A possibilidade de uma nova intervenção militar internacional, como foi a Minustah, liderada pelo Brasil entre 2004 e 2017, com o apoio de outros 21 nações existe, mas é remota, especialmente pela grande quantidade de recursos financeiros e de pessoal que precisaria ser destinada a uma eventual missão de paz. 

"A situação é tão complicada que a intervenção não tem o que fazer, as chancelarias dos demais países sabem disso e é difícil que aconteça uma operação como a Minustah, que os países participantes financiam. É um custo para os cofres públicos e neste momento os governos estão lutando reativar suas economias por causa da pandemia. E além disso, o Haiti não pode se tornar um protetorado, uma área de controle militar permanente", explica Carlo Cauti, professor de Instituições e Organizações Internacionais no curso de Relações Internacionais no Ibmec-SP.


Segundo o especialista, em 2004, após a fuga do então presidente Jean-Bertand Aristide, a comunidade internacional se uniu em torno de um projeto para pacificar e estabilizar o Haiti. Quatro anos após o fim da Minustah, hoje é quase impensável que uma intervenção parecida e no mesmo nível de engajamento mundial se repita.

"Assim como no Haiti, na maioria dos casos a presença militar estrangeira simplesmente não conseguiu construir uma estrutura estatal sólida, os militares estrangeiros acabaram saindo e novos problemas surgiram. É diferente de uma situação como a do Timor Leste, quando era para proteger um país ocupado, e outra quando a convulsão é interna", lamenta Cauci.


Temor de mais violência

Na opinião do sociólogo Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais do Ibmec, a morte de Jovenel Moise não deve representar um ponto de ruptura na crise institucional que o Haiti atravessa. O temor, para ele, é de que a escalada de violência possa se intensificar ainda mais.

"O que existe hoje é o surgimento de várias gangues tentando tomar conta do país, esse processo não deve cessar, provavelmente vamos ter mais uma sequência de golpes e caso não haja algum tipo de interferência externa é possível que tenhamos um cenário de guerra civil, mas sem uma estrutura militar, entre esses mesmos grupos", alerta ele.


Após décadas de crise, sem falar em desastres naturais como terremoto de 2010, que matou cerca de 200 mil pessoas, o Estado haitiano tem cada vez menos capacidade de criar uma estrutura sócio-econômica que possa dar condições de melhorar a vida de seus cidadãos, na opinião do professor. 

"O país está todo desorganizado e a população vai continuar padecendo, por catástrofes políticas, econômicas. É um país que não tem uma infraestrutura física e nem a institucional, sem capacidade do governo, de arrecadação, e não tem confiança das grandes potências para poder ganhar verbas", diz Pires.

Para ele, o problema da violência tira do país até mesmo a capacidade de fomentar o turismo, que é a grande fonte de renda da maioria dos países caribenhos, inclusive Cuba. "Quase todos os países caribenhos tem algum tipo de solidez e conseguem receber turistas que trazem recursos importantes, menos o Haiti", lamenta.

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